fase, que é apenas expulsar a Europa da África e subtrair quanto possível os povos africanos à influência da civilização ocidental, estão st vista os resultados obtidos.
Ora, talvez por força do seu idealismo, talvez também por influência do seu passado histórico, que, aliás, não pode ser invocado por analogia, os Estados Unidos vêm fazendo em África, embora com intenções diversas, uma política paralela à da Rússia. Mas esta política, que no fundo enfraquece as resistências da Europa e lhe retira os pontos de apoio humanos, estratégicos ou económicos para a sua defesa e defesa da própria África, revela-se inconciliável com a que se pretende fazer através do Tratado do Atlântico Norte. Esta contradição essencial da política americana já tem sido notada por alguns estudiosos, mesmo nos Estados Unidos, e é grave, porque as contradições no pensamento são possíveis, mas são inadmissíveis na acção.
Vozes: - Muito bem, muito bem! Aplausos.
Vozes: - Muito bem, muito bem! Aplausos.
O Sr. Presidente do Conselho: - A surpresa ante o ressentimento do povo português e a reacção que por toda a parte se verificou contra as atitudes e resoluções do O. N. U. levam-me a crer que os Estados Unidos. cuja política tem sido sempre connosco de inteira compreensão e amizade, se encontraram diante de unia realidade diversa da que tinham pressuposto. Houve manifestamente grave equívoco em considerar o ultramar português como território de pura expressão colonial; equívoco em pensar que a nossa Constituição Política podia integrar territórios dispersos sem a existência de uma comunidade de sentimentos suficientemente expressiva da unidade da Nação; equívoco em convencer-se de que Angola, por exemplo, se manteria operosa e calma, sem polícia, sem tropa europeia e com a forca de 5000 africanos, comandados e enquadrados por dois mil e poucos brancos, se a convivência pacífica na amizade e no trabalho não fosse a maior realidade do território.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente do Conselho: - E. havendo boa fé, lodo o equívoco havia de desfazer-se em ince da atitude de homens brancos e de cor que. vítimas de um terrorismo indiscriminado, clamam que não abandonarão a sua terra e que a sua torra e Portugal.
Vozes: - Muito bem, muito bem! Aplausos.
O Sr. Presidente do Conselho: -Alguns dos oradores da O. N. U., sem bem cuidaram dos termos da Carta. deram a entender não desejar outra coisa senão que as populações exprimam claramente a sua opção por Portugal, embora esta esteja feita desde recuados tempos, e constitucionalmente admitida e consolidada. Isso se chama a autodeterminação, princípio genial de caos político nas sociedades humanas. Pois nem assim quero fugir ao exame do problema, e, em vez de embrenhar-me em divagações teóricas, restringir-me-ei ao exame prático do caso português.
Em pleno oceano e já para sul da linha que define os limites políticos do Atlântico Norte, situam-se as dez ilhas de Cabo Verde. Vão de Lisboa a S. Vicente ou à Praia 2900 km e de Washington às ilhas Hawai 8000 km. de modo que na teoria que se dispõe a contestar pelas distâncias a validade de uma soberania nacional parece não estarmos mal colocados.
Vozes: - Muito bem, muito bem! Aplausos.
O Sr. Presidente do Conselho: - A superfície do arquipélago é de 4000 km2 e a população orça pelos 200 000 habitantes. O aspecto geral é de secura e aridez. As manchas de terra seriam fecundas se houvesse água, mas o arquipélago não tem água e a chuva é escassa e incerta, além de que a erosão é activa. A incerteza e limitações da vida impelem à emigração para as costas fronteiras de África, sobretudo para a Guiné. Deste facto de vizinhança a interpenetração de populações advém terem surgido, na pujante floração actual de movimentos de libertação, um movimento para a Guiné e outro para a Guiné e Cabo Verde em conjunto. Como aquelas terras foram achadas desertas e povoadas por nós e sob nossa direcção, o fundo cultural é diferente e superior ao africano, e a instrução desenvolvida afirma essa superioridade, pelo que se explica a ambição de alguns e a desconfiança dos restantes instalados na terra firme. Deste modo a independência de Cabo Verde teria de restringir-se ao arquipélago, e não é viável.
Mesmo não considerados os anos de seca e de crise, Cabo Verde está sendo alimentado pela metrópole quanta a investimentos e subsidiado pelo Tesouro para cobertura das despesas ordinárias. Daqui vem que os cabo-verdianos, que vemos nos mais altos cargos da diplomacia, do Governo ou da administração pública por toda a parte onde é Portugal, nunca pensaram em avançar no sentido de uma utópica independência, mus no da integração, ao advogarem a passagem para o regime administrativo dos Açores e da Madeira. Assim o movimento é puramente fantasioso.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente do Conselho: - Dos valores de Cabo Verde um, porém. se destaca e de importância para a defesa do Atlântico Sul -é a sua posição estratégica, e esse valor pode ser negociado, evidentemente dentro de um quadro político e ético que não é o nosso. A tal independência que por outros motivos qualifiquei de inviável teria logo à nascença de ser hipotecada ou vendida, negando-se a si mesma, para obter o pão de cada dia. Mas para a transacção, desde que o Brasil não esteja interessado no negócio, só existe um pretendente possível.
Deixo de lado as pequenas ilhas de S. Tomé e Príncipe, de que conheço as dificuldades económicas e deficiências financeiras, mas em relação às quais me parece não se terem instalado ainda em território estrangeir