O Sr. Presidente do Conselho: - O convite às autoridades portuguesas para cessarem imediatamente as medidas de repressão é uma atitude, digamos, teatral do Conselho de Segurança e que ele não tem a menor esperança de ver atendida ...

Vozes : - Muito bem, muito bem ! Aplausos.

O Sr. Presidente do Conselho: - ... tão gravemente ofende os deveres de um Estado soberano. Desde os meados de Março não acharam nem o Conselho nem a Assembleia oportunidade para ordenar aos terroristas que cessassem os seus morticínios e depredações ...

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Sr. Presidente do Conselho: - ... e tantos dos seus membros o podiam ter feito com autoridade e eficácia.

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Sr. Presidente do Conselho: - Mas quando intervém a autoridade cuja obrigarão é garantir a vida. o trabalho e os bens de toda a população, essa obrigação ou primeiro dever do Estado não haverá de ser cumprido, porque é necessário que os terroristas continuem impunemente a sua missão de extermínio e de regresso à vida. selvagem.

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Sr. Presidente do Conselho : - A consideração de que a situação em Angola é susceptível de se tornar uma ameaça para a paz e para a segurança internacionais, essa, sim. pode ter algum fundamento, mas só na medida em que alguns dos votantes se decidam a passar do auxílio político e financeiro, que estão dando. para auxílio directo com as suas próprias forças contra Portugal em Angola.

Vozes: - Muito bem, muito bem ! Aplausos.

O Sr. Presidente do Conselho: - Tudo começa a estar do avesso no Mundo, que os que agridem são beneméritos. os que se defendem são criminosos, e os Estados, cônscios dos seus deveres, que se limitam a assegurar a ordem nos territórios são incriminados pelos mesmos que estão na base da desordem que ali lavra.

Vozes: - Muito bem, muito bem ! Aplausos.

O Sr. Presidente do Conselho: - Não. Não levemos ao trágico estes excessos: a Assembleia das Nações Unidas funciona como multidão que é, e. portanto, dentro daquelas leis psicológicas e daquele ambiente emocional a que estão sujeitas todas as multidões.

Vozes: - Muito bem, muito bem! Aplausos.

O Sr. Presidente do Conselho: - Nestes termos, é-me difícil prever se o seu comportamento se modificará para bem ou não agravará ainda para pior. Se. porém. virmos este sinal no céu de Nova Iorque, é meu convencimento que estão para breve catástrofes e o total descalabro da instituição.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente do Conselho: - Muitas pessoas, em face dos votos contrários a Portugal e das abstenções, inferem do seu numero um isolamento perigoso para o nosso país no convívio internacional. Espero que não nos intimidemos os que estamos seguros de ter razão e estamos convencidos de poder demonstrá-la. A vida internacional não é toda feita na O. N. U. e os votos são mais o resultado de um processo competitivo que ali se estabeleceu do que a expressão de um juízo válido sobre questões internacionais ou ultramarinas.

Vozes : - Muito bem, muito bem !

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Sr. Presidente do Conselho: - Agora quem parece ter razão são os Estados afro-asiáticos. Mas. com um pouco de coragem da nossa parte, eles acabariam por compreender que há limites a não ultrapassar.

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Sr. Presidente do Conselho : - Embora sob a acção de uma intensa campanha de difamação internacional, muito bem dirigida pela Rússia comunista, que. aliás, no.- obsequiou declarando a sua posição, vemos que a mesma não conseguiu obscurecer muitas das melhores inteligências nem arrastar consigo a opinião dos países representados. Veja-se, por exemplo, como tem reagido e escol intelectual do Brasil em face do ataque a Angola. a província africana que. por várias vicissitudes da história comum, quase considera como fazendo parte do seu património moral.

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Sr. Presidente do Conselho: - Veja-se, por exemplo, se a Espanha, que nesta crise nos tem acompanhado momento a momento ...

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Sr. Presidente do Conselho: - ... com a vivacidade do seu temperamento e o fervor da Mia afeição fraternal, veja-se se ela não compreende bem que o ataque a Portugal foi apenas o aproveitar de uma oportunidade, e. tanto podia ser contra nós como contra ela. ou será uma vez contra ela e outra vez contra nós.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente do Conselho: - Até que os europeus compreendam, contra este sudoeste da Europa continuarão a desferir-se golpes sob todos os pretextos, porque é necessário fazê-lo ruir. para cair tudo o mais.

Sejam quais forem as dificuldades que se nos deparem no nosso caminho e os sacrifícios que se nos imponham para vencê-las, não vejo outra atitude que não seja a decisão de continuar.

Vozes: - Muito bem. muito bem!

Aplausos.