era dar a esta a possibilidade de um grande rendimento cultural, isto é, torná-la altamente proveitosa.

Sempre dentro da sua lógica sentimental -Évora, pelos incontestáveis encantos, justifica plenamente uma paixão-, o Sr. Deputado Bartolomeu Gromicho procurou a seguir demonstrar que Évora é merecedora de receber a Biblioteca da Manizola, pois possuiu já no século XVII uma universidade e uma escola de música e ostenta ainda hoje no seu museu, igrejas e casas particulares numerosos quadros - verdadeira acrópole de Portugal, pelo seu grande passado e digno presente.

Parece-me isto estar a esgrimir com fantasmas. Ninguém pôs em dúvida as gloriosas tradições e os merecimentos actuais de Évora. Por mim, mesmo sem perceber muito bem a designação de acrópole de Portugal que o nosso ilustre colega lhe conferiu, confesso que nunca a visito sem um profundo prazer -prazer dos olhos e prazer do espírito- e que nunca me fatigarei de lhe proclamar as belezas.

O problema em causa não é, porém, o de saber se Évora é uma cidade aureolada pela história e pela lenda, mas apenas saber qual o destino que convém dar, dentro das necessidades culturais e dos superiores interesses do País, a uma biblioteca adquirida pelo Estado. Tudo o mais é literatura.

Para reforçar a ideia de que a Biblioteca da Manizola deve ficar em Évora o Sr. Deputado Abrantes Tavares lembrou, em aparte, a conveniência de dispersar os valores culturais, por causa dos perigos da guerra. O ilustre Deputado foi sempre um humorista subtil, em cujo número de admiradores há muito me inscrevi.

O Sr. Abrantes Tavares: - V. Ex.ª está singularmente equivocado.

Eu não apreciei o caso concreto, isto é, se a Biblioteca da Manizola podia ou devia ficar em Évora, ou se ficaria melhor em Lisboa. Enunciei apenas a tese geral de ser contra o empobrecimento do País para o enriquecimento de Lisboa.

A acumulação desses valores em Lisboa expõe-os a perderem-se. Esta é a tese.

O Orador: - Está muito bem! Mas, como V. Ex.ª formulou uma tese geral a propósito de um caso particular, julguei que a queria aplicar ao conto, porque, senão, ela não viria, a propósito. Mas, entretanto, registo o facto de o Sr. Deputado Abrantes Tavares não perfilhar a tese de que a Biblioteca deve ficar em Évora.

O Sr. Abrantes Tavares: - Nem essa nem a contrária.

O Orador: - Se a tese de V. Ex.ª não tem relação com o caso em discussão, não veio a propósito.

O Sr. Abrantes Tavares: - Eu não tenho nenhuma opinião sobre a melhor solução no caso concreto.

O Orador: - Pela lógica que o Sr. Deputado Abrantes Tavares não quer que seja sua a Biblioteca não deveria ficar, porém, também em Évora, onde já existe uma grande biblioteca e há quartéis, e, portanto, perigo iminente de bombardeamento. A experiência das últimas guerras demonstrou que as cidades como Évora são ainda mais perigosas do que as cidades maiores, visto poderem ser destruídas totalmente no espaço de uma noite. Porque não a esconder antes em qualquer pequena localidade, como Alhos Vedros?!

O Sr. Abrantes Tavares: - Exactamente.

O Orador: - Então V. Ex.ª está de acordo?

O Sr. Abrantes Tavares: - Sempre pela dispersão; Alhos Vedros, Alcabideche ou qualquer outra terra.

O Orador: - O melhor seria mesmo, dentro da visão do Sr. Deputado Abrantes Tavares, começar já a dispersar pelo País os Ministérios, escolas superiores, hospitais, preciosidades artísticas e os próprios habitantes... pois país prevenido vale por dois. Todo o desenvolvimento urbano ficaria assim condenado pelo terror dos bombardeamentos.

Decerto, durante a guerra dispersaram-se, para diminuir as probabilidades de destruição, muitos valores culturais, mas, com a paz, estes valores voltaram para os seus lugares. Se reunidos, na guerra, corriam maior risco de destruição, dispersos, na paz, corriam, por sua vez, o risco de não serem vistos e estudados, numa palavra, o risco de esquecimento.

O Sr. Abrantes Tavares: - Assim, tal tese geral, não é tão disparatada como parecia.

O Orador: - Eu nunca a considerei disparatada.

O Sr. Abrantes Tavares: - É uma conclusão minha.

O Orador: - A dispersão que nesta matéria se impõe é diferente da preconizada pelo Sr. Deputado Abrantes Tavares. Há bibliotecas que têm, por vezes, dois, três, quatro exemplares de uma obra rara, enquanto outras não têm nenhum, embora tenham, por seu turno, dois, três, quatro exemplares de outra obra igualmente rara.

O Sr. Abrantes Tavares: De acordo com V. Ex.ª a esse respeito.

O Orador: - Não só dentro de um critério de segurança, mas de um critério de facilidade de consulta, é necessário criar um sistema de redistribuição das obras raras repetidas entre as várias bibliotecas públicas, tendo-se em vista, o mais possível, o principio de compensação. Se p ilustre Deputado Abrantes Tavares quiser advogar, com o brilho da sua inteligência e da sua palavra, está dispersão das nossas preciosidades bibliográficas, aliará a diminuição do risco de desaparecimento às exigências da cultura.

O Sr. Abrantes Tavares: - Está V. Ex.ª a fazê-lo com muito brilho o eu dou-lhe o meu aplauso.

as partes contratantes não terem chegado a acordo com respeito ao preço e depois porque o Ministério das Finanças definiu a