O Sr. Joaquim do Amaral: - Então já não são poucos.

O Orador:-Pela afirmação de V. Ex.ª concluo que de reservados não percebe muito.

Para se classificar este número de irrisório não é preciso compará-lo com os milhares de leitores que nesta rubrica apresenta, por exemplo, a Biblioteca Nacional de Lisboa. Ele é insignificante mesmo em comparação com outras cidades da província.

Lembro somente que na Biblioteca de Vila Real houve na mesma categoria, nesse ano, 106 leitores, isto é, aproximadamente o dobro da de Évora, apesar de a Biblioteca de Vila Real não passar dos 13 420 volumes e possuir na rubrica dos incunábulos e reservados, apenas 30 volumes, ao passo que a de Évora possui nesta rubrica l 340.

O Sr. Pinto Barriga: -Duplicados?

O Orador:-É muito possível.

Ô Sr. Joaquim do Amaral: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Sr. Presidente: - Peço ao orador para abreviar as suas considerações.

O Orador:-Assim farei se o Sr. Deputado Joaquim do Amaral me der licença.

O Sr. Joaquim do Amaral: - É muito natural que o número de leitores em Évora tenda a aumentar.

junto, nos anos de 1950, 1951 e 1952 3 leitores (l cada ano!).

Por seu turno, o número de leitores de reservados foi nestes três anos, respectivamente, de 6, 7 e 28. São números tão pequenos que podem resultar, estatisticamente, da leitura de uma só pessoa durante alguns dias por ano.

Apoiados.

Porque desejo evitar más interpretações estatísticas, vejo-me ainda obrigado a referir-me à rubrica «Leitores de cultura especializada», que aparece nos últimos volumes da Estatística do Ministério da Educação. Para o nosso problema ela é muito menos expressiva do que a rubrica «Leitores de incunábulos e reservados».

O Sr. Botelho Moniz: - V. Ex.ª não reparou ainda que na Avenida de António José de Almeida a República está de costas voltadas para a Estatística ?

O Orador:-Isso só demonstra a superioridade da Estatística.

Prosseguindo: por um lado, não nos interessam igualmente todas as ciências, visto a Biblioteca da Manizola ter um carácter nitidamente histórico e humanista. Por outro lado, esta fórmula permite sofismas grosseiros.

Para se atirar um grande número de leitores nesta alínea basta dar a expressão «Leitores de cultura especializada» como sinónima de leitores de livros respeitantes a qualquer ciência, pois isso permite incluir aqui os leitores de compêndios escolares, de manuais, de livros de divulgação e de ciência recreativa. Decididamente para o caso em questão interessam-nos os leitores de história e não de histórias ...

Para que a rubrica «Leitores de cultura especializada» possa valer como índice de nível de leitura é necessário dar-lhe o significado rigoroso de leitores de livros para especialistas.

Mas neste sentido é para lamentar que em todos os volumes da estatística publicados até hoje a coluna respeitante a estes leitores na Biblioteca de Évora se encontre por preencher. Como não podemos supor um desleixo sistemático por parte dos funcionários encarregados do registo, tanto mais que a Biblioteca está hoje bem organizada, é licito concluir que o número dos leitores especialistas foi tão pequeno que não mereceu a pena consigná-lo em separado.

Esta parece ser, aliás, a interpretação oficial do Instituto Nacional de Estatística, visto ter lançado nas colunas em branco, não o sinal convencional nas nossas estatísticas de «valor ignorado» ou o de «valor não apurado», mas o de «valor nulo».

Toda a gente sabe que os investigadores portugueses se distribuem principalmente por três grandes centros: Lisboa, Porto e Coimbra. Creio não ser preciso o aparato estatístico para documentar esta afirmação. Não se compreende, por isso, que o Estado gaste l 000 contos só para que Évora - que já possui uma biblioteca admirável, insuficientemente explorada- se poss a gloriar de ter uma biblioteca ainda maior, com numerosas espécies repetidas, quando os livros estão a ser absolutamente necessários noutras partes.

Bem sei que o Sr. Deputado Bartolomeu Gromicho recordou a existência do comboio e do automóvel. Aqui o nosso ilustre colega -por quem mais uma vez afirmo a minha mais alta consideração- serviu-se daquela lógica pitoresca formulada por um ironista: quando houver muitos argumentos, emprega só os melhores; quando não houver nenhum, emprega-os todos.

O tempo dos investigadores representa um valor que a Nação não pode malbaratar inutilmente. Pelo que diz respeito aos investigadores portugueses, é preciso lembrarmo-nos, Sr. Presidente, de que entre nós a investigação representa já um sacrifício, sem compensações materiais e frequentemente até com prejuízo de dinheiro.

O Sr. Botelho Moniz: - Não é inútil ir a Évora.

O Orador:-Só para consultar um livro é.

O Sr. Botelho Moniz: - Mas é que aproveita a ida para conhecer a cidade, que é bem bonita.

O Orador:-Acresce que, normalmente, os nossos investigadores são professores ou pessoas de ordenados muito limitados, a quem não é justo tornar ainda mais oneroso o seu labor intelectual com viagens de automóvel e de comboio. Pelo que diz respeito aos investigadores estrangeiros, pelo menos no estado actual das (...)