(...)licultura, a pomicultura e a olivicultura e tantas outras modalidades do cultivo da terra tiveram no seu exemplo e nas sábias lições de monges ilustres o verdadeiro incentivo para o progresso.

E terminemos aqui esta curta mas grande viagem pelo nosso território, lamentando apenas que palavras minhas possam ter diminuído ou alterado os textos que Barros Gomes nos legou para o melhor conhecimento do que a todos pertence.

Sr. Presidente: aceitando como bons os números apresentados no trabalho publicado pelo Centro de Estudos Económicos do Instituto Nacional de Estatística, com o título de «Evolução da agricultura portuguesa entre as duas guerras mundiais», julgo que poderemos dizer, em resumo, que os 8 868 000 ha do território nacional têm a seguinte estrutura:

Áreas em milhares de hectares

A-a) Total da superfície agrícola (3 380)

A-b) Total da superfície florestal (2 467)

I-A) Total da superfície cultivada (5 847)

I-B) Superfície inculta produtiva ...... l 484

II-A)Superfície inculta aproveitável ... 1 197

II-B Superfície incultivável e social .. 340

II) Superfície improdutiva ............ (l 537)

Por ela se verifica que a feição florestal domina em cerca de um terço do território, juntando à superfície de soutos, carvalhais, montados de azinho e de sobro, pinhais e matas diversas algo de terra charnequeira compreendida na superfície inculta, mas aproveitável. E neste cômputo, pinhais, por um lado, e soutos e montados, pelo outro, correspondem a áreas sensivelmente iguais. São, de resto, estas árvores as principais fontes de riqueza da nossa exportação.

Depois da floresta temos, ainda no domínio das plantas lenhosas, pomares, olivais e vinhas, mais um mono do todo. O resto, pondo de parte áreas sociais, estuários de rios e outras superfícies incultiváveis, bem como superfície inculta aproveitável, que deve andar por cerca de l 200 000 ha, é a nesga destinada a pão, hortas e outras culturas intensivas, abrangendo também forragens; não ultrapassará, como vemos, 2 500 000 ha. Se este cálculo estiver certo, e se o não estiver será por excesso e não por defeito, os três cereais dominantes - trigo, centeio e milho- não ocuparão, na roda do ano, mais de l 000 000 ha, o que é, como se verifica, muito pouco para o sustento dos 8 milhões de habitantes - l ha para cada oito bocas!

Vozes: - Muito bem, muito bem I

O Orador: - Continuemos ainda a alinhar mais alguns dados que nos possam apoiar conclusões sobre a verdadeira posição em que nos encontramos para colher o necessário para o sustento e para satisfazer outras necessidades inadiáveis da existência. E é assim a vez, dentro duma hierarquia de valores económicos, de dizer algumas palavras sobre as possibilidades de energia, dessa energia que faz mover tudo que não é vivente. E não será necessário chegar a demasiado pormenor nesta síntese rápida que estamos fazendo para fundamentar o que se segue. Bastarão as palavras autorizadas do Sr. Ministro da Economia para dispensar qualquer outra pesquisa. E assim reproduzimos o que diz:

Através deste programa, referindo-se ao Plano de Fomento, cujo custo total é de l 820 000 contos, aumentará no próximo sexénio o total de energia produzida para 2 biliões e 800 milhões de kilowatts-hora, dos quais 340 milhões de energia temporária.

Por outro lado o mesmo Ministro, aceitando a avaliação dos nossos recursos em energia hidroeléctrica em 8 biliões de kilowatts-hora, permite-nos dizer que, embora não atingindo a capitação dos 2 800 kWh, número mais elevado no domínio europeu, ficaremos, porém, quando esgotados os recursos energéticos das águas correntes, no nível que, decerto, nos facultará uma razoável capitação; isto é a possibilidade, não direi de sermos um país industrial, mas na realidade prometedora, quanto ao desenvolvimento das actividades incluídas dentro do secundário da população activa.

Atingida no sexénio a produção prevista pelo Sr. Ministro da Economia, já poderemos enfileirar a par de uma Itália, de uma Holanda ou de uma Checoslováquia, países de aquém e além-cortina de ferro cujo esforço no campo industrial é bem conhecido. E se houver possibilidades de investimento e técnicas para se atingir rapidamente um nível próximo do nosso máximo de disponibilidades, fazendo acrescer equilib radamente o necessário apoio térmico, teremos então ocupado posição que nos permitirá antever, e então sim, acréscimo sensível de nível de existência do nosso povo, por modificação sensível nas proporções relativas dos contingentes da população activa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estas notas, que como previsão podem ser tomadas, pois fundam-se em dados oficiais que considero seguros, mostram que tudo o que se faça neste domínio, tendo em linha de conta as nossas possibilidades de investimento e técnicas, é esforço que consideramos como o mais sério para resolver a grave crise, de sobrepopulação de algumas das nossas regiões rurais do continente e ilhas adjacentes.

De resto, a estrutura da nossa exportação denuncia bem que esta directriz será, de facto, a única capaz de modificar radicalmente as condições de vida do povo português.

A actual exportação encontra-se presentemente baseada em produtos da terra, sujeitos alguns deles, como os derivados do pinhal, a crises bruscas de desvalorização. Por outro lado, vinhos, generosos, frutas de qualidade e outros produtos de elevado custo de produção encontram dificuldades crescentes nos tradicionais mercados consumidores do Norte da Europa. E o grande centro consumidor americano, embora consuma em escala apreciável produtos de origem europeia, caminha progressivamente para uma auto-suficiência pelo progresso crescente das suas actividades agrícolas e industriais.