colocação dos nossos excessos demográficos. Quer dizer: será indispensável ponderar se o ritmo da instalação de novos casais, mesmo esquecendo os complexos e delicados problemas decorrentes da súbita transformação regional e da escolha de culturas vendáveis, se o ritmo da sua execução poderá ter algum significado quando comparado com o nosso crescimento populacional - os tais 45 000 a 50 000 novos braços que anualmente vêm acrescer aos já existentes -, e se o encargo financeiro será proporcionado ao possível benefício social, quando somos dos países coro mais baixo nível de investimento, circunstância que condiciona estreitamente a sua aplicação u maior produtividade?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ao meditar nestes problemas só encontro uma resposta: a negativa. Respondo, pois, pela negativa como regra e admito a excepção como possibilidade ou, melhor, como exemplo, a não ser que outros motivos ou fortes r assoes de outra ordem imponham estas soluções.

A invocação dos exemplos estrangeiros, nomeadamente da Espanha e dos Estados Unidos da América do Norte, não colhe, por razões óbvias. O caso da Espanha é muito diferente do nosso. A Espanha não tem províncias ultramarinas com as possibilidades e exigências das nossas, tem uma estrutura agrária muito diferente, vastas regiões em regime de sequeiro e uma indústria em desenvolvimento intenso, em que os problemas de localização não sito esquecidos.

Pode, pois, caminhar sem limitações sérias no fomento das culturas do algodão, beterraba sacarina, tabaco, cana-de-açúcar e nutras, ao mesmo tempo que a melhoria geral e local das condições de vida alarga o mercado dos produtos agrícolas, quer vegetais quer animais, mais favoravelmente cultivados em regime intensivo.

A Espanha não tem também uma densidade populacional como a nossa, podendo procurar atingir, através da articulação do problema agrícola e industrial, con-comitantemente, já a melhoria do nível de vida, já o melhor arrumo da sua população, sem lhe ser, de resto, facultada a opção por outro rumo.

Também o caso americano é muito diferente, para não disser oposto ao nosso.

Efectivamente a América não tem um problema de sobrepovoamento rural; a sua exploração agrícola é tão viável como a industrial e, em virtude do seu elevado nível de vida, orienta-se para uma composição da dieta em que entram cada vez mais os elementos nobres, cujos preços são relativamente elevados.

Basta referir que o leite é mais caro que o trigo e que são precisos 7 kg de trigo para equivaler no produtor a 1 kg de carne, para se ver como é favorável e possível ali seguir-se uma política de fomento dos produtos de alta qualidade. < p> Todavia; nem assim - apesar do flagrante contraste com o nosso caso, onde o inverso é verdadeiro - as obras de fomento hidroagrícola, mesmo em grandes extensões, deixam, por vezes, de merecer críticas e estar sujeitas n dúvidas e preocupações.

Quando lá o problema se apresenta com este aspecto) como poderá deixar-se de redobrar em cuidados e cautelas ao encará-lo entre nós?

Não se podem, pois, invocai- estes exemplos sem lhes precisar os condicionalismos, que lhes imprimem um carácter bem diferente daquele que assumem no nosso continente.

No que se refere à colonização natural, livre, consequência imediata da fragmentação da propriedade ou/da exploração, sem perder de vista todas as conclusões a que anteriormente cheguei sobre a modernização e especialização da exploração agrícola e sem esquecer ser a redução da população que explora a terra um objectivo paralelo ao da melhoria de nível de vida, sem deixar de considerar tudo isto, pronuncio-me, dentro de certo s limites, favoravelmente à colonização natural e livre nas regiões onde a propriedade esteja excessivamente concentrada.

Julgo, aliás, que a concentração da terra não é um mal em si mesmo, já porque pode não coincidir com exploração de tal dimensão que obste à maior eficiência, já porque, através do assalariado permanente e da comparticipação no lucro da empresa e até na administração, permite muito bem que se atinjam integralmente os mais elevados objectivos sociais.

De resto, sem querer entrar na apreciação das causas da concentração ou do monopólio da terra, que são substancialmente as mesmas em toda a região mediterrânica, não deixarei de acentuar que raras vezes o monopólio nasce de um objectivo de exploração e mal-thusianismo económicos, mas quase sempre de uma necessidade de defesa, de sobrevivência.

O problema está em que, uma vez constituído, não use ou abuse da situação de que desfruta para além da satisfação das necessidades que o determina ram.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!