pensável para uma boa assistência. Sei que há quem receie grandes atritos entre a assistência e a educação. O receio parece-me infundado se de um lado e do outro houver compreensão do que a cada um compete. O que deve, de acordo com os princípios que enunciei, dispôs-se pela seguinte forma:

Caberá ao Ministério do Interior a superintendência do Hospital, delegada num director, escolhido de entre os professores de Medicina, e toda a administração hospitalar, incluindo a escolha do pessoal, com excepção e todo o corpo clínico e dos chefes dos serviços técnicos anexos, que devem gozar de completa confiança dos professores, por sua competência e probidade, e portanto devem ser recrutados por concurso de provas) perante júris de professores da Faculdade.

A Faculdade dará todo o corpo clínico e dará todo o material (instrumental, drogas, etc.) relativo a trabalhos de investigação; isto é, tudo o que está fora das regulamentares disposições do trabalho habitual. Os professores que trabalham no Hospital formarão o conselho técnico, a ouvir pelo director.

Assim, a direcção provém da Faculdade. Mas o que a exercer depende disciplinarmente, em matéria hospitalar, do Ministério do Interior; é perante ele responsável. Assim, a ligação entre as duas entidades será estreita e seguramente frutuosa.

Esta solução não tem nada de original. Tem exemplos entre nós, e bem. elucidativos. E semelhante & adoptada nos institutos de medicina legal, cuja direcção cabe por lei ao professor de Medicina Legal, que é simultaneamente funcionário dos Ministérios da Educação Nacional e da Justiça. E oxalá - noto de passagem - seja adoptada para os institutos de higiene que vão criar-se em Coimbra e no Porto.

Outro exemplo, e ainda melhor porque pertence ao ensino da clínica, é o dos Hospitais da Universidade de Coimbra, governados por um professor da Faculdade de Medicina, o nosso ilustre colega nesta Assembleia Dr. João Porto, que neles tem desenvolvido uma admirável acção, orientada nas modernas concepções de medicina social, de que é apóstolo e obreiro, com proveito comum à Faculdade e à assistência.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por fim, algumas palavras sobre as hesitações e, as dificuldades na organização do Hospital Escolar de Lisboa. Não admira que existam, dada a grandeza da obra e o feitio individualista da nossa gente, pouco propensa a trabalho de equipe. Talvez o principal motivo do estado de coisas manifestado no aviso prévio esteja na falta de uma constante e íntima cooperação dos funcionários dos três Ministérios que intervêm na obra e têm a seu cargo estabelecer a orgânica anatómica e funcional da instituição. Oxalá se promova ainda, para que se distribuam responsabilidades sem lugar para mútuas recriminações, para que tudo fique o melhor possível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: remato com uma imprescindível declaração. As opiniões que aqui trouxe são estritamente pessoais, sem injunções de qualquer espécie, nem sequer as que podiam vir da minha Faculdade. São o produto do que tenho observado e estudado em quatro décadas de serviço docente e duas de direcção de uma Faculdade de Medicina, cujo ensino clínico se faz, por empréstimo de enfermarias e consultas, num hospital de Misericórdia em precárias condições e sem orçamento para as despesas que no hospital se têm de fazer com os serviços auxiliares da clínica. Isto ensina muito. Porque, apesar de tão desfavoráveis circunstâncias, a minha Faculdade não teme o confronto dos que nela se formam e tem contribuído com parcelas apreciáveis para o progresso da ciência médica nacional. E que lá, como «m toda a parte, mais importa o espírito de servir do que a riqueza material. Sem ele, esta nada vale.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Dentro deste conceito universal, nutro a esperança de que os homens que têm o encargo de estruturar e dinamizar o Hospital Escolar de Lisboa, compreensivos e devotados, hão-de levar a bom termo uma. obra que honra Portugal.

Com o Hospital de Lisboa, o do Porto, já em fase adiantada, e a remodelação do de Coimbra as três Faculdades de Medicina poderão melhorar notavelmente o ensino clínico. Calorosos louvores devem ser dados ao Governo da Nação por essas obras de tão grande valia; e reconhecer os serviços de quantos para elas contribuíram, planeando e executando, julgo não ser favor.

Não olhemos apenas para algumas árvores. Saibamos ver a floresta.

Nada mais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Santos Bessa: - Sr. Presidente: a Câmara ouviu com a melhor atenção e o maior interesse a exposição pormenorizada que acerca do novo Hospital Escolar aqui fez na última sessão o Sr. Deputado Cid dos Santos.

Pelo que me diz respeito, posso afirmar que foi grande o prazer com que o ouvi. A forma como desenvolveu o seu aviso prévio está à altura da sua reputação como homem e como professor.

Saúdo-o pela exposição que fez à Câmara e felicito-o pelo entranhado carinho com que tem estudado este problema do Hospital Escolar.

Vozes:.- Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Como Deputado, ao iniciar as considerações que tenho de fazer a respeito do aviso prévio do Prof. Cid dos Santos, quero dirigir as mais respeitosas e sinceras saudações ao Sr. Presidente do Conselho e aos Ministros dos seus Governos que conceberam e realizaram esta magnífica obra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Como médico, quero agradecer-lhes esta iniciativa, verdadeiramente revolucionária no dizer do