Isto não quer dizer que os problemas técnicos deixem de pertencer à competência dos Faculdades nem significa que na acção pedagógica as Faculdades devam sofrer intromissão ou menoscabo de Autonomias. Há aqui domínios perfeitamente distintos, que só se encontram no objectivo último de assistir aos que sofrem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ura terceiro problema geral levantado pelo aviso prévio é o da melhoria de serviços dentro do Hospital Escolar.

Não parece justo negar ao titular de qualquer serviço o direito de procurar melhorá-lo e engrandecê-lo. Em toda a parte do Mundo se encontram serviços mais bem dotados ou mais amplamente apetrechados segundo o valor, a influência ou até a persistência do homem ou dos homens que neles trabalham. É um facto caracteristicamente humano.

A instituição Faculdade não sofre com ele, não se diminui pelo enriquecimento de um serviço, qualquer que seja o seu lugar na hierarquia das disciplinas: o beneficio das partes é sempre o beneficio do todo.

E como, em verdade, os serviços são perenes».- os homens passam e os serviços ficam-, sempre os acréscimos e os progressos resultam em lucro final da instituição.

Não há, positivamente, pecado num professor que intercede junto do Governo para obter mais amplas possibilidades de, trabalho, nem há excesso do Governo ao deferir a pretensão.

Discordo, por isso, dos reparos aqui feitos quanto â instalação da cardiologia no Hospital Escolar. Q professor tinha o perfeito direito de a pedir e o Governo de a conceder. Criticou-se a acção directa do professor junto do Governo? Nada a condena em princípio. Mas a crítica não subsisto, porque já aqui se provou que a exposição para a instalação do serviço também esteve presente no conselho da Faculdade. Há uma escala na preferência dos serviços? Também neste aspecto o comentário é injusto. Ninguém hoje em medicina nega à cardiologia um dos primeiros lugares na obrigação do estudo. Folgo com que o meu ilustre colega Dr. Santos Bessa tenha trazido as estatísticas nossas e alheias para provar que as doenças circulatórias se inscrevem com um nível altíssimo e crescente na morbilidade e na mortalidade gerais do todos os países. Não fosse dizer-se que eu exagerava, porque voto à cardiologia os meus favores especiais.

E falta-me, Sr. Presi dente, referir um último problema geral que me despertou o caso do Hospital Escolar de Lisboa.

Vai muita coisa feita nas nossas assistência e saúde públicas. Há por estes sectores um esforço enorme de concepção e de criação. Sem dúvida que o conseguido está longe do necessário; ora preciso mais, muito mais, para vencer problemas desta importância e desta magnitude.

É certo que as verbas não chegam; embora as exigências públicas tenham a sua hierarquia e nada deva primar sobre a saúde e assistência da nossa gente, o dinheiro escoa-se por uma multidão de serviços, todos a reclamar atenção e protecção.

E o dinheiro não se multiplica para dotações mais largas dentro de um orçamento em que as receitas pouco progridem ante a consciência quase geral de que a capacidade tributária vai já num nível de limite para a riqueza e para as actividades produtivas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas a quem estuda os nossos problemas de saúde e .de assistência choca a sua incoordenação e a sua dispersão por vários sectores oficiais. Se aqui se pode falar em duplicações do serviços, em falta de harmonia nas melhores realizações, se, no caso presente, os Hospitais Escolares chegam ao fim da construção sem que paralelamente esteja preparado o pessoal técnico, é porque as funções, ns competências e as responsabilidades não estão enfeixadas nem concentradas num comando único.

E são horas de o criar, é tempo de aparecer o nosso Ministério da Saúde. Vamos neste sentido ficando para trás dos países europeus e até dos americanos mais jovens; por toda a parte os Estados reconhecem a obrigação de entregar a um- Ministério próprio o cuidado dos importantes problemas da saúde pública.

Já por várias vezes assim foi sugerido nos pareceres da Camará Corporativa; já muitas mais foi pedido pela voz de ilustres membros desta Assembleia.

Eu mesmo o defendi há cinco anos na II Conferência da União Nacional, realizada no Porto, colaborei nas razões com que o tem justificado a Ordem dos Médicos, e volto a insistir, mais fortemente convencido da sua necessidade.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Nada se pode fazer de verdadeiramente útil sem primeiro juntar, concentrar e ordenar Mas juntar, concentrar e ordenar tudo quanto anda disperso pelos outros Ministérios, e até a providencia com a assistência.

São duas actividades que se inter-relacionam e se encontram nos meios da realização. É erro mantê-las separadas: repetem-se por uma e por outra as mesmas obrigações materializadas em duplicações de actividades e de serviços.

O que ai está é bem claro para os olhos que querem ver; já um perito da Fundação Rockefeller, depois de há anos percorrer em Lisboa os serviços da previdência e da assistência, declarou que só tinha salientemente impressionado a duplicação das coisas num pais pequeno como o nosso. E o erro vai abrindo passo a passo novas complicações, cada vez mais difíceis de solucionar.

Vale bem reflectir nos exemplos de fora: no de Espanha, que, por caminhos como o nosso, sem articulação dos serviços sanitários, levou a previdência a gigan

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Escalem-se as necessidades. Ordenem-se num roteiro por onde se vai até à realização progressiva dos objectivos. E concentrando, simplificando, unificando, cora um Ministério da Saúde e com um plano de saúde poderemos em poucos anos chegar, satisfatória e glo-