valorizarão da moeda que torne este salário suficiente, e eles não ganhavam todos os dias, tenho de chegar à conclusão de que o que afirmo é absolutamente verdadeiro.

VV. Ex.ªs verificaram que quando se pretendeu estabelecer o racionamento não havia género nenhum que chegasse. Por consequência, se destas 30 000 t que ainda hoje se importam do Brasil ou de Cuba pudessem ser produzidas no País 15 000 ou 20 000...

O Sr. Camilo de Mendonça: - De facto, durante alguns anos faltou açúcar. Durante alguns anos o ultramar não satisfez as necessidades do consumo, porque algum açúcar do ultramar era exportado para o estrangeiro, porque o crescimento de consumo de açúcar foi súbito, e ainda devido à falta de outros géneros, mas o ultramar está em condições de fornecer ao País o açúcar de que este necessita e muito mais ainda.

O Orador: - ... ia eu dizendo que, se dessas 30 000 t que ainda hoje se. importam se pudessem produzir no País 15 000 ou 20 000 t, quais seriam as consequências?

Sabe V. Ex.ª que para se produzirem essas 20 000 t seria preciso ocupar, pelo menos, 4 000 ha de terra.

E como a beterraba não pode ser cultivada todos os anos, era necessário encontrar um afolhamento trienal.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Por isso afirmei na minha intervenção que, se essa cultura se pudesse realizar, só ela traria unia alteração profunda da nossa agricultura.

O Orador: - Vê V. Ex.ª como isto podia efectivamente transformar as preocupações que hoje nos traz esta política hidroagrícola, utilíssima, necessária e indispensável?

Mas dirá V. Ex.ª e o ultramar?

Eu direi a V. Ex.ª que, se alguém nesta Câmara pudesse ter qualquer pensamento contrário à economia do ultramar, essa pessoa não era eu com certeza, porque estruturalmente me criei na admiração, na estima, e na quase veneração dessas terras de maravilha que são as nossas províncias ultramarinas.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Há uma coisa de que eu faço questão: que esses sentimentos se tornem em prática.

O Orador: - Com o aumento da população havia consequentemente aumento de consumo e aumentaria também a exportação, porque, graças a Deus, a produção das nossas províncias ultramarinas é importante e poderia exportar-se então com mais facilidade.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Nem sempre isso pode suceder.

O Orador: - O que é preciso é que não haja sempre o pensamento de mandar tudo para cá, quando não há guerra e tem melhor preço, e de enviar tudo lá para fora, quando há guerra, porque lhe pagam melhor. O que é preciso é fazer unia política de equilíbrio, pois é esta política que convém ao Império e às províncias ultramarinas.

O Sr. Camilo de Mendonça: - V. Ex.ª, quando há pouco falou, deu-me a impressão de que queria significar que o ultramar tinha este ponto de vista: pretender impor que a metrópole lhe compre as coisas, quando os preços mundiais são baixos, e procurar exportar só para o estrangeiro quando os preços do mercado internacional são elevados.

Mas, digo eu: o que é que se passa com os produtos que vão daqui para o ultramar? A que preços chegam lá, por exemplo, os tecidos que vão de cá e que são feitos com. o algodão que vem de lá? É preciso que haja reciprocidade.

O Orador: - Tem razão o ultramar, se isso sucede assim, o que eu não sei. Mas não tem razão quando, por motivo de qualquer anormalidade, lá fora lhe pagam mais caro qualquer artigo do que no nosso mercado, e o ultramar prefere exportá-lo, deixando que cá se sinta falta desse artigo.

O Sr. Camilo de Mendonça; - Em regime capitalista isso é compreensível, mas digo a V. Ex.ª que u recíproca é também verdadeira.

O Sr. Sousa Aroso: - Durante quantos anos foi o açúcar exportado para a metrópole aos preços internacionais?

O Orador: - Digo a V. Ex.ª que o regime do açúcar sempre foi excepcional, sendo o preço dos contingentes superiores ao internacional. Assim sucedeu até, pelo, menos, ao fim da última guerra.

De maneira que não vejo em que a cultura do açúcar de beterraba seja desvantajosa desde que seja possível.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Possível é. E até absolutamente indiscutível que é possível.

O Orador: - Pois é possível, já que no Norte da Europa ...

O Sr. Camilo de Mendonça: - ... e em Espanha.

O Orador: - Sim, e em Espanha se fez essa cultura com vantagem. Essa cultura tem ainda outra vantagem, que é a de o trigo cultivado a seguir à beterraba ser de maior rendimento, visto que esta obriga a amanhos mais cuidados e maiores adubações. Em 1914, com a invasão do Norte da Europa, toda esta região que produzia açúcar de beterraba sentiu a queda do rendimento do trigo. Outra vantagem é a que resulta da alimentação do gado, desenvolvendo-se este extraordinariamente com o aproveitamento dos subprodutos.

O Sr. Camilo de Mendonça: - V. Ex.ª sabe que se tem comprado açúcar ao Brasil, por preços mais caros até do que os do mercado mundial, para exportar produtos para lá, como azeite, frutas, etc. O mesmo tem sucedido com o algodão e outros produtos.

O Orador: - V. Ex.ª entende-se nesta barafunda da economia mundial do momento?

O Sr. Camilo de Mendonça: - Pelo menos procuro entender-me.

O Orador: - Então espero que V. Ex.ª me auxilie quando daqui a uns dias levantar a minha voz para tratar desse assunto. Confesso que é das coisas quê se apresentam ao meu espírito como mais confusas: a economia mundial, em que se fazem exportações por valor abaixo do real.

O Sr. Camilo de Mendonça: - A razão aqui é outra: nós precisamos do mercado do Brasil, e por isso vamos lá comprar, mesmo com sacrifício, para dar lugar a contrapartidas à nossa exportação.

O Sr. Presidente: - Peco ao Sr. Deputado Melo Machado o favor de não se afastar da matéria em discussão.