Eu prefiro a orientação da Dinamarca, mas se alguém preferir a da França, que a aproveite, que eu não sigo nesse caminho.

For outro lado, no que respeita a produtividade, posso dizer-lhe que é possível compará-la com a da própria indústria, mas importa mais apreciá-la no seu nível, e, assim, eu lembro a V. Ex.ª o caso da Nova Zelândia e da Austrália, que, sendo países agrícolas, têm um nível de vida superior ao de muitos países industriais evoluídos. De resto, a necessidade de olhar para o aspecto da produtividade está também numa das conclusões da Semana Social Francesa de Lila.

E por fim direi que não perco de vista ser preciso, no pensar em soluções agrárias - como V. Ex.ª de resto acentuou nuns pontos, mas parece não ter encarado noutros-, não esquecer que os produtos agrícolas são para ser consumidos pelo público e que, portanto, há que ter em conta os seus preços. Eu não me esqueço de que se destinam ao público e que o seu preço interfere com ti vida de c ada um.

O Orador: - Das considerações de V. Ex.ª eu concluo desde já que não considera incompatível a modernização da agricultura com a empresa familiar e, portanto, catamos praticamente de acordo, talvez não quanto no bucolismo ...

O Sr. Rui de Andrade: - Posso trazer um exemplo de agricultura industrializada: no Norte da Itália os preços chegaram a um nível tão alto que não se pode fazer agricultura senão mecanizada, e mesmo nas terras pequenas isso tem de ser realizado, porque quem não fizer assim tem de plantar choupos.

O Orador: - Era onde eu desejava chegar: agricultura em regime de pequena empresa e perfeitamente modernizada, visto que não está vedada à pequena e à média empresa a modernização dos processos e a assimilação do melhor da técnica dos nossos dias.

Dispõe para tanto das soluções cooperativistas. Estas podem permitir ao pequeno empresário familiar os meios, por exemplo, de boa armazenagem e conservação dos produtos, a mecanização e motorização, em grande parte, a escolha, com base cientifica, das sementes, dos adubos, etc., e a comercialização dos produtos.

Além disso, cito ainda aquilo que é uma aspiração que já brilhantemente tenho ouvido aqui defender - os Profs. André Navarro e Sousa da Câmara, este na última legislatura- e que é a da vulgarização doa conhecimentos agronómicos, conduzida com plano, em cheio, e o ensino elementar agrícola, em que quase se não tem pensado entre nós.

Assim, a pequena empresa agrícola tem perfeita viabilidade, além das suas en ormes vantagens sociais.

O Sr. Camilo Mendonça: - A pequena empresa agrícola tem para mim um sentido em que a aceito.

O Orador: - Quando digo empresa familiar refiro-me tanto à pequena como à média, e por isso é que numa das propostas de alteração foi omitida, por sugestão da intervenção de V. Ex.ª na generalidade, uma expressão em que se pretendia, por forma expressa, limitar a colonização às empresas familiares predominantemente autoconsumidoras.

Deve ficar a lei em condições de o tamanho dos casais ser fixado de acordo com o condicionalismo onde haja de actuar a colonização.

O Sr. Camilo Mendonça: - Quanto à solução cooperativista, que em teoria é excelente, temos em Portugal exemplos que não são edificantes, acabando por

ser necessário que o Estado intervenha para impor. Lembro o caso da União das Cooperativas Abastecedoras de Leite a Lisboa.

O Orador: - V. Ex.ª citou há pouco o exemplo da Dinamarca e eu pergunto a V. Ex.ª se, na essência, a agricultura dinamarquesa, organizada em vista da exportação, não tem base cooperativista.

O Sr. Marques Teixeira: - Devo dizer que as adegas cooperativas estão a dar óptimos frutos entre nós.

O Orador: - Exactamente, e há muitíssimo a fazer nesse campo.

Tenho dito.

Vozes:-Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente:- Continua em discussão o artigo 1.º

Pausa.

O Sr. Presidente: - Visto nenhum Sr. Deputado desejar fazer uso da palavra, vai passar-se à votação.

Sobre este artigo há, como VV. Ex.ªs sabem, uma proposta de emenda, assinada por vários Srs. Deputados. Essa emenda consiste em intercalar adiante de «Junta de Colonização Interna» as palavras «segundo as preferências indicadas pelo Governo».

O Sr. Augusto Cancella de Abreu: - Peço a atenção de V. Ex.ª para o Diário das Sessões n.º 28.

Pausa.

O Sr. Presidente: - Agradeço a informação de V. Ex.ª Não é «segundo as preferências indicadas pelo Governo», mas sim «segundo a ordem de preferência indicada pelo Governo», e também para se substituir as palavras «delimitará os respectivos perímetros» por «definirá os respectivos perímetros».

Vai portanto votar-se o artigo 1.º e seu § único com a emenda constante da proposta que já anunciei à Câmara.

Submetido à votação, foi aprovado.

O Sr. Presidente: - Em virtude do adiantado da hora vou encerrar a sessão.

Pausa.

O Sr. Presidente: - Ao anunciar ontem a ordem do dia de hoje presumia que a discussão na especialidade poderia acabar amanhã.

O exame, porém, do texto integrado das propostas de alteração, publicado no Diário das Sessões recebido ontem, e o próprio estudo exibido hoje na tribuna pelo Sr. Deputado Melo e Castro, apesar de já dentro da discussão na especialidade, levam-me a ponderar a conveniência de interpor algum tempo antes de entrarmos na discussão e votação dos pontos críticos da proposta, que culminam no artigo 6.º

Nestes termos, vou encerrar a sessão, marcando a continuação dos trabalhos para 16 do corrente, à hora regimental.

Também fará parte da ordem do dia a eleição de dois vogais que faltam ainda na Comissão do Ultramar.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 30 minutos.