de experiências próprias e oficiais com a ideia clara de virem a utilizar essas culturas.

Eram exactos esses rumores que ultimamente se acentuavam, não sendo já raro ouvir este ou aquele lavrador prever a possibilidade próxima de inserir essas culturas na sua exploração. Os ensaios feitos foram-no principalmente em zonas irrigadas ou a irrigar brevemente pelas obras de fomento hidroagrícola e até em regiões situadas em pleno coração do Alentejo. É claro que experimentar, ensaiar, não é um mal senão quando essas experiências possam prejudicar outras de maior interesse ou premência, mas pode trazer sérios males na medida em que essa orientação levante esperanças infundadas ou abra horizontes inacessíveis ao lavrador, carecido de encontrar caminhos para aproveitar a terra sob a ameaça da água ...

Compreendo o anseio desses lavradores quando, pela experiência de outros e pelo reconhecimento de que a cultura do arroz tem limites, se têm de precaver contra possíveis precipitações na realização de grandes obras de fomento hidroagrícola sem cuidar primeiro de estudar, com o devido cuidado e suficiente profundidade, os problemas agrícolas, económicos e sociais que acarretarão e lhes ter encontrado solução adequada e segura.

Compreendo o seu anseio, a sua inquietação, que, aliás, têm sido vezes sem conta trazidos a esta Casa por alguns dos mais ilustres paladinos da lavoura, dentre os quais me permito destacar o Sr. Deputado Melo Machado, que ainda há dias voltou a este tema. For mim dou-lhes o meu apoio na medida em que partilho dos mesmos sentimentos.

Não obstante, não posso deixar de chamar a atenção do Governo e de VV. Ex.ª para este problema, porquanto, embora lhes assista inteira razão nesse sentimento, nenhuma dessas culturas pode ser intentada no continente. De momento o problema põe-se exactamente assim: nenhuma dessas culturas pode ser considerada como introduzível no continente e julgo que qualquer hipótese que ainda reste breve se esfumará ...

E não pode sê-lo por uma questão de princípios e por motivos económicos.

O Sr. Jorge Jardim: - V. Ex.ª dá-me licença? Era só para, corroborando o ponto de vista de V. Ex.ª ,dizer que me parece que com uma tal orientação surgiria igualmente n possibilidade de no ultramar, em Angola e Moçambique, se cultivar a vinha, o que manifestamente seria absurdo numa economia imperial organizada.

questão de princípio reverte assim a um problema de política de produção concertada, una em todo o território nacional, tal como acontece, ou se deseja, quando se trata apenas do continente.

O Sr. Melo Machado: - Então para abastecer completamente o continente não ficaria nada para a exportação.

O Orador: -Este ano!

O Sr. Melo Machado: - Agradeço a informação de V. Ex.ª

O Orador: - Vejamos, por isso, o problema sob este aspecto. Ora, qual é presentemente a situação de cada uma destas culturas e quais são as suas perspectivas?

A cultura do algodão assegura não só a matéria-prima suficiente à nossa indústria em algodões de fibra média como excede as suas necessidades, tendo-se iniciado já a exportação para o estrangeiro. Em matéria de algodões de fibras longas as conclusões a que se chegou permitem considerar já resolvido o problema da produção a preços favoráveis de, pelo menos, metade das nossas necessidades presentes, ou seja de algodões até determinado comprimento de fibra (l 1/2).

Encara-se com optimismo a proximidade da resolução da outra parte do problema, enquanto, pelo que me foi dado averiguar, os ensaios realizados no continente não entreabriram qualquer vislumbre ...

A cana sacarina encontra-se de novo em franca expansão, e talvez se possa - apenas dois anos após o novo regime açucareiro ter sido promulgado- satisfazer muito brevemente as necessidades do consumo nacional, comprovando-se assim que tonto no ultramar como no continente a produção responde e corresponde sempre que se lhe asseguram preços remuneradores e proporcionados aos das outras culturas.

O tabaco -cuja produção no continente suponho ter sido outrora proibida em nome do interesse do ultramar -, a cultura do tabaco, mesmo sem amparo nem apoio, tem-se desenvolvido na medida em que as circunstancias lho têm permitido e até talvez mais do que a prudência aconselharia aos cultivadores ...

Encontra-se presentemente em crise de crescimento, isto é, lutando contra a falta de consumo para as suas ramas, que é o único obstáculo sério à sua expansão qualitativa e quantitativa.

Poder-se-á, nestas condições, encontrar qualquer utilidade concreta nestes ensaios, fora do domínio da investigação pura, que tem sido, aliás, pecha de um país que tem tantos e tantos problemas técnicos concretíssimos e indiscutíveis por resolver?

O Sr. Melo Machado: -Se V. Ex.ª parte do princípio de que se pretende estabelecer concorrência com