As cozinhas da Misericórdia que forneciam (e fornecem) sopa e pão aos pobres e indigentes são as cozinhas da Sopa dos Pobres, integrada naquele instituto pelo Decreto n.º 15 779, de 23 de Julho de 1928, com todos os seus encargos, bem como os seus bens móveis e arrendamentos, e ainda com o direito de uso dos imóveis do Estado em que algumas funcionavam.

Nesta conformidade, apraz-me responder às perguntas pela ordem por que foram formuladas:

1.ª pergunta: as cozinhas da Misericórdia que forneciam sopa e pão aos pobres não foram encerradas.

2.ª pergunta: o número de pobres beneficiados com as refeições de sopa e pão por elas produzidas ou distribuídas tem aumentado nos últimos anos. Assim, para só referir os dois mais próximos, temos:

Em 1952 distribuíram pelos pobres e indigentes da capital 5 769 679 refeições de sopa e pão;

Em 1953 distribuíram da mesma forma 5 878 629 refeições.

3.ª pergunta: encontra-se inutilizada pela resposta às antecedentes.

4.ª pergunta: idem.

Como a confinar-nos na resposta directa às questões postas poderíamos criar na inteligência do ilustre Deputado a ideia de que havia sido ludibriado e colocado em desagradável situação, permitimo-nos, com a devida vénia, acrescentar outra ordem de informes que, supomos, servirão para esclarecer um lapso de informadores pouco ilustrados ou para dissipar uma especulação de informadores mal intencionados.

Além das cozinhas da Sopa dos Pobres contava a Misericórdia, no elenco das suas actividades, com outros sistemas de distribuição de refeições:

As Cozinhas Económicas;

Umas e outras produzindo e distribuindo, respectivamente:

Refeições constituídas por sopa, um prato, pão e vinho; e Sopa, um prato e pão.

Ambos esses sistemas ou organizações desapareceram no decurso do ano de 1952, nas condições que a seguir se indicam.

III

As Cozinhas Económicas

Doadas ao Estado em 1921 (a troco do pagamento de avultadas dívidas) pela Sociedade Protectora das Cozinhas Económicas, que as criara; integradas a seguir na Provedoria da Misericórdia de Lisboa (Decreto n.º 12 502, de 9 de Outubro de 1926) e fundidas com a Sopa dos Pobres para constituírem uma Administração das Cozinhas Económicas e Sopa dos Pobres (Decreto n.º 12 652, de 15 de Novembro de 1926), façam em 1928 (Decreto n.º 15 778, de 23 de Junho de 1928) integradas na Misericórdia, com os seus mobiliários e arrendamentos, as Cozinhas Económicas.

Cabia-lhes vender a preços módicos refeições ou partes delas a trabalhadores ou a membros da classe dos economicamente débeis que livremente as procurassem.

Naquela situação se mantiveram com pouca modificação e sem brilhante actividade ou sequer actividade bastante para justificar o elevado custo do seu funcionamento com maquinismos concebidos cinquenta anos atrás para combustível que o andar dos tempos sobrevalorizara.

As suas instalações, velhas, pouco cuidadas quase todas e até sem susceptibilidade de conveniente adaptação algumas delas, o seu sistema de funcionamento - o ambiente que recordava os botequins de feira, a mistura em algumas dos seus clientes com os das sopas de pobres instaladas no mesmo edifício, etc. -, tudo isso fazia que essas Cozinhas Económicas contrastassem gritantemente com as suas irmãs instaladas e mantidas ou pela Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (cuja superintendência orientadora na matéria foi estabelecida pelo Decreto n.º 37 836, de 24 de Maio de 1950, artigo 6.º, § 2.º) ou pela Legião Portuguesa em diversos pontos da cidade, em obediência às novas concepções da política estadual, que vê em tais estabelecimentos não só uma forma de auxílio às classes trabalhadoras, mas também um meio de elevação do seu nível educativo e social.

O facto de serem vendidas as refeições que produziam por um preço assaz inferior ao do custo, único meio de evitar o seu abandono pela clientela, fazia que constituíssem pesado encargo da Misericórdia, em detrimento da sua capacidade para desenvolver outras actividades especificamente assistenciais.

O mesmo facto, aliado à localização de várias delas na proximidade de estabelecimentos análogos da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho ou da Legião Portuguesa, fazia que constituíssem um elemento perturbador e desorientador em relação a estes.

Por tudo era apagado e triste o panorama que ofereciam; e sobre o seu horizonte encastelavam-se nuvens ameaçadoras, que não eram só as do antagonismo que justificadamente recebiam da parte das organizações a que dificultavam um trabalho bom, mãe também as do reconhecimento da sua sucessiva decadência a empanar a memória do prestígio antigo e a diminuir a instituição sobre a qual haviam tombado, na senilidade e na falência.

Como se tudo aquilo não bastasse, em princípios de 1952 três das cinco cantinas então existentes estavam na alguma vez