Como os 22 500 contos somados nos 9 500 totalizam 32 000 contos, fica-se a saber que nem nos tribunais nem nas negociações particulares deixou de ser respeitada religiosamente a avaliação da expropriante, o que, como ficou dito, não é verdade, pelo menos quanto aos tribunais.

Houve manifesto lapso ou falta de clareza da expropriante na sua informação.

Pena foi que, para melhor determinação do critério que presidiu à sua avaliação, não tivesse esclarecido a que moldes obedeceu: se a simples inspecção ocular feita por quem conhecesse bem a região ou a ignorasse, se a medições, se à produção, se ao rendimento dos prédios; e também se, na verdade, houve correcções para mais ou para menos nos tribunais outras negociações e quais os valores definitivamente pagos.

E seria ainda útil e interessante saber-se quantas das transacções foram reduzidas a escritura pública, até 17 de Fevereiro, e quais os valores constantes das escrituras.

Em boa justiça, impõe-se que a a valiação seja revista- e ainda há tempo; mas revista em conjunto pela expropriante, pelos expropriados, representados pela sua autoridade legítima, o ilustre presidente da Câmara de Terras de Bouro, e pelo próprio Governo.

Dessa forma ninguém se poderá queixar.

Mas o que acabo de dizer está em contradição, pelo médios aparente, com o facto, que se não pode pôr em dúvida, de que a maioria das parcelas cadastradas e do seu valor já se encontram negociadas -não expropriadas, note-se - extrajudicialmente.

E conclui a expropriante, com certa lógica, que se assim acontece é porque os preços são bons.

Confesso que o facto apresentado dessa maneira me perturbou. E voltei à Caniçada.

Falei sobre ele com numerosas pessoas, umas que já concluíram as negociações, outras que andam nelas e ainda mais algumas, e bastantes, que aguardam a vez de serem chamadas aos escritórios da expropriante, na Portela de Valdosende, para saberem as condições em que lhes compram os os trabalhos, as canseiras, as despesas e, sobretudo, a perspectiva de ficarem sem os bens antes de receberem o dinheiro, o que será para muitos a miséria.

Vozes: - Muito bem!

comentário.

Os campos da Veiga de Vilar ainda se não encontram inundados. A Sr.ª Rosinha, ervanária, enquanto me oferece um braçado de ervas da serra e garante o seu poder, vai-me explicando a seu modo e palavras suas o que pensa daqueles trabalhos. São mais de quatro freguesias. É muita gente que fica sem as suas terras. Uns apelam e ganham, mas tornam a perder. As obras da Caniçada. As obras de Rio Caldo. Os desastres no trabalho, onde gente perde a vida. E depois de dizer, como ramo de erva no braço, a Sr.ª Rosinha do Gerês, como que a resumir tudo, acaba: «Aquilo é uma grande mastigada».

É sim, mas depois de engolido é força e luz. Nós precisamos de toda aquela mastigada, para dar uma resposta às chamadas da vida actual. O progresso. Dizem que na barragem do Rabagão foi preciso retirar um velho, pronto a ir para o fundo com a casa onde nasceu! Se os outros não levam tão alto a saudade do passado, o certo é que todos choram e o que recebem não compensa nem recompensa. E o progresso!

Às vezes aparece em Paço de Sousa um vendedor de máquinas para descascar batatas e máquinas para lavar pratos e máquinas automáticas para a tipografia. Eu oiço e mando embora. Eu quero braços; muitos braços e trabalhos. O tempo não é o nosso problema. O ocupar muita gente e muitas horas, isso sim. De resto, vistas as coisas à luz do Sol, a, máquina tem enriquecido meia dúzia e empobrecido multidões.

Isto vim eu ruminando do sítio onde falei com a Sr.ª Rosinha até ao hotel e tudo a propósito daquela grande mastigada.

Sr. Presidente: se o tempo me chegasse e á paciência de V. Ex.ª não tivesse limites, falaria de outras coisas, como dos treze processos entregues no tribunal, segundo a expropriaste, até 17 de Fevereiro e relativos à zona da Caniçada, e pediria licença para acrescentar que a coda processo corresponde em regra mais de um expropriado e várias parcelas.

Direi também que a informação prestada por ela à Assembleia sobre três processos cujos prédios foram submergidos antes de o tribunal se poder pronunciar é manifestamente insuficiente. Pelo menos um deles está pendente de recurso e no outro ainda em 17 de Fevereiro não havia sentença, e creio que ainda a não há. E neste último nunca se fez a expropriação - é o do homem que morreu pouco depois da inundação - e os herdeiros do proprietário, para não ficarem na miséria, viram-se na necessidade, perante a inércia da expro-