Em conjunção com estas receitas utilizaram-se para o mesmo fim elevadas disponibilidades provenientes dos excessos de receitas ordinárias sobre idênticas despesas, como todos os anos se assinala nos pareceres das contas.
O quadro acima transcrito mostra a preponderância de empréstimos e venda de títulos. Verifica-se, assim, que as receitas extraordinárias, representando- encargos sobre gerações futuras, necessitam de ter reprodução - tanto quanto o consentirem as circunstâncias e condições da época "m que forem usadas. De outro modo os encargos da dívida, pouco a .pouco, atingirão cifra incomportável pelas receitas.
Contos
Conta de operações de tesouraria .......... 1 517322
Algumas das rubricas falam por si. Em todos os anos se explicou o significado das verbas então usadas.
Convém neste parecer indicar em conjunto duas delas - a relativa a obras de fomento e outras, e a referente à compra de títulos de crédito. Ambas podem ter repercussões no futuro.
Contos
Hidráulica agrícola ................... 444 488
Aproveitamentos hidráulicos da Madeira. 15 000
Materiais sobrantes de Santa Maria .... 81 607
Casas desmontáveis .................... 1 000
Em diversos incluem-se 18 000 contos gastos em obras em rios e costas marítimas, 9 404 contos no Estádio 28 de Maio, em Braga, 900 contos nas despesas feitas com a estiagem de 1945 e duas pequenas quantias, uma de 60 contos em trabalhos de urbanização e outra de 27 contos no Arsenal do Alfeite.
As aplicações indicadas não consumiram, apenas receitas da conta de empréstimos. Como se explicou em pareceres anteriores, algumas, como a hidráulica agrícola, os portos e outras, também foram financiadas por força de excessos de receitas e de anos económicos findos, e ainda por empréstimos contraídos fora das disponibilidades do produto da venda de títulos.
A soma utilizada elevou-se a 908 514 contos.
Ë de interesse mencionar como foi empregada esta soma:
Contos
Acções da Companhia Geral de Crédito Predial ............ 20 000
Acções da Hidro-Eléctrica do Zêzere ..................... 80 000
Acções e obrigações da Hidro-Eléctrica do Cávado ........ 145 456
Como se nota, tanto no caso das obras do fomento e outras como no da compra de títulos de crédito há verbas que são recuperáveis - todas aquelas que dizem respeito a empréstimos (província de Moçambique e Caminho de Ferro da Beira) e as relativas a aquisição de obrigações (renovação da marinha mercante) e mais.
Grande parte das quantias usadas na compra de títulos são directamente reprodutivas no aspecto económico, e até no aspecto orçamental, visto influírem nas receitas através do capítulo "Rendimentos de capitais".
O emprego das receitas extraordinárias em 1952
Ora a aplicação de empréstimos está condicionada pelo artigo 67.º da Constituição, que determina: "O Estado só poderá contrair empréstimos para aplicações extraordinárias em fomento económico, amortização de outros empréstimos, aumento indispensável do património nacional ou necessidades imperiosas de defesa e salvação pública".
As Contas Gerais do Estado deverão, por este motivo, todos os anos indicar claramente o destino das verbas gastas durante o ano, de modo a poder ser presente à Assembleia Nacional o emprego das que se pagaram por força de empréstimos. Só deste modo é possível cumprir o preceito constitucional em toda a sua latitude.