Também há no Alentejo dispersão de parcelas, a constituição das explorações agrícolas.

Mas a dispersão é muito menor do que no resto do País. As próprias condições da cultura impõem maior concentração. Ao norte do Tejo a dispersão atinge o caos em certos casos, e são conhecidos os tremendos efeitos do actual estado de coisas, que há-de requerer, mais cedo ou mais tarde, medidas enérgicas no sentido de promover o emparcelamento.

O exame das circunstâncias que prevalecem nos distritos inquiridos no Ribatejo, Alto e Baixo Alentejo e Algarve indica anomalias profundas. Nos distritos do Alentejo nota-se preponderância de explorações formadas por um todo contínuo - o que é um bem. Nos dois restantes (o de Santarém e o de Faro) a exploração dispersa é a regra - o que é um mal.

No quadro a seguir inscrevem-se os números de grupos de prédios rústicos que constituem as explorações agrícolas:

(Ver Quadro na Imagem).

(a) Não se inclui Vila Nova de Ourém e Mação.

Assim:

No distrito de Beja, mais de metade das explorações formam um todo contínuo, e mais de um quinto do total tem apenas 2 parcelas. Quer dizer: 14 000 explorações, números redondos, não têm mais de 2 prédios.

No distrito de Évora as condições são idênticas: perto de 8 000 têm o máximo de 2 parcelas, mas quase metade das explorações constitui um todo contínuo.

Em Portalegre, ainda quase metade constitui um todo (7438 sobre 15696 explorações), mas acentua-se a dispersão, sobretudo no número de explorações com muitas parcelas (há mais de 100 de 21 a 35 parcelas).

No Algarve o grau de dispersão alarga-se muito. Há menos explorações formando um todo contínuo - bastante menos de um terço. O quadro mostra que a maior parte das explorações algarvias tem mais de 3 parcelas uma percentagem importante ultrapassa as 6, e até as 10, havendo 51 explorações com mais de 36 parcelas.

Finalmente em Santarém, apesar da influência dos concelhos do Sul, as explorações formando um todo são apenas cerca de um terço - um pouco como no Algarve.

Menos de metade do total das explorações é constituída por mais de 3 prédios, havendo alguns casos dignos de nota, como o de 526 explorações com mais de 20 parcelas, e destas 72 têm mais de 36.

Parecem assim os números demonstrar que no Alentejo é mais equilibrada a exploração neste aspecto. Há maior número de explorações contínuas. A dispersão é menor.

VII

Seareiros Resta ainda tratar do problema dos seareiros, que tem bastante influência em certas zonas do Sul do País, especialmente em alguns concelhos do distrito de Beja.

A Campanha do Trigo, iniciada há cerca de vinte e cinco anos, alargou transitoriamente a importância do trabalho do seareiro na economia alentejana, pelo menos em algumas zonas.

Arrotearam-se largas áreas de terrenos e diminuíram-se os prazos dos pousios.

A produção de cereais, em alguns anos, aumentou bastante e seria interessante procurar obter números se mostrassem a quota-parte do seareiro no acréscimo produção, visto haver dúvidas sobre a utilidade técnica e económica da iniciativa, pelo menos sem cuidadoso regulamento. As desvantagens de pousios de curta duração estão hoje patentes em muitas regiões, sobretudo no que se refere à erosão e esgotamento de terras delgadas.

Por outro lodo, parece que as produções específicas raras vezes compensaram o esforço dos seareiros e as facilidades de crédito inerentes ao próprio objectivo da campanha de carácter extensivo, que era essencialmente aumentar a produção, arruinaram alguns empresários e tornaram difícil em certos casos a recuperação dos créditos concedidos.

Seja como for, os seareiros já hoje constituem quase uma profissão agrícola nalguns concelhos, mas o seu número parece tender a diminuir, devido a frocos colheitas nalguns anos.

Foram contados cerca de 20 000 nos distritos inquiridos, mas bem mais de metade vive no distrito de Beja, e, dentro deste, têm posição de relevo os concelhos de Mértola e Beja, no que diz respeito à área cultivada em 1952 - mais de 8 000 ha em cada um, num total de 57 800 em todo o distrito.

Os seareiros cultivam cereais em terra alheia e pagam uma parte da colheita pelo uso da terra, a que se chama ração ou quinhão.

A terra varia muito de qualidade e pode ser terra limpa ou sob coberto.

No último coso os terrenos são montados de sobro «u azinho e os amanhos da lavoura podem ou não beneficiar o arvoredo.