E se este é o sentimento geral dos povos, não é muito que dele compartilhe a Nação Portuguesa, que tanto deve a munificência do actual Pontífice e sempre se orgulhou de nação fidelíssima, que o mesmo é dizer defensora e missionária daquela verdade redentora, de que o vigário de Cristo é o mais augusto representante e o mestre infalível sobre a terra.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Creio, pois, interpretar o sentimento desse Portugal fidelíssimo ao elevar neste dia até ao trono de Sua Santidade as mais calorosas homenagens e ao formular os mais sinceros votos por que apraza à Providência dilatar por muitos anos tão luzido e benemerente pontificado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- E, falando desta tribuna, desejaria concluir estas breves palavras formulando um último voto: o de que a nossa gloriosa tradição de exemplar fidelidade possa tornar-se cada vez mais viva e actuante, não apenas como resplendor patriótico da nossa vocação histórica, mas, sobretudo, como factor insubstituível do nosso engrandecimento nacional e da sua projecção nos destinos da civilização cristã, nesta hora tão indissoluvelmente ligados aos destinos da nova época do Mundo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Santos Carreto: - Sr. Presidente: é com bem intima e patriótica emoção que subo a esta tribuna para juntar a minha pobre e humilde voz às vozes autorizadas que reconhecidamente se erguem hoje nesta Câmara em homenagem sentida ao Pontífice excelso a quem o Céu, em hora sumamente conturbada, confiou o governo da Igreja e cuja vida tem sido, em rasgos de sobrenatural heroísmo, um acto perene de total imolação ao maior bem da humanidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Se a nenhum povo é licito manter-se indiferente nesta feliz comemoração, muito menos o seria à Nação Portuguesa, que à Igreja e ao Papado deve benemerência sem conta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Não careço certamente, Sr. Presidente, de lembrar aqui, mais uma vez, que Portugal é um produto admirável do cristianismo e que, a carinhosa solicitude da Igreja nos acompanhou em todas as vicissitudes da vida nacional, connosco vivendo os mesmas aspirações, os mesmos anseios, as mesmas glórias, os mesmos sacrifícios de lutas ingentes.

A vida portuguesa andou sempre tão Intimamente ligada à vida da Igreja, que podemos com exactidão dizer que a Igreja faz parte da vida mesma da Pátria e que as glórias do nosso passado mais não são do que inspiração bendita da Fé, que acrisoladamente temos sabido viver.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Decerto que, como algures tive oportunidade de afirmar, a acção da Igreja não se funde nem se confunde, com a do Estado. Mas porque, embora sociedades perfeitamente distintas, ambas têm o mesmo objectivo, que é a felicidade do homem, a acção do Estado não pode deixar de encontrar-se com a da Igreja, em colaboração justa e confiadamente leal.

Os direitos de uma instituição, Sr. Presidente, têm de determinar-se segundo o fim a que é ordenada e que marcadamente a específica.

Ora qual é o fim do Estado? O bem comum, a ordem e prosperidade públicas, a felicidade exterior e temporal do homem. «Felicidade exterior e temporal», digo eu. É que «o bem eterno» escapa inteiramente à acção do Estado, não cabe positivamente na sua natural competência.

Este fim, que vai para além do tempo e do espaço, pertence exclusivamente à Igreja atingi-lo, porque é ela que de Deus recebeu a grave e inalienável missão de conduzir com segurança todos os homens - ricos ou pobres, sábios ou ignorantes, governantes ou governados, particulares ou públicos - na sua ascensão para o fim último da vida humana.

Vozes:- Muito bem!

O Orador:- Com perfeita justeza afirmou, pois, Lacordaire:

A pátria é a nossa igreja do tempo, como a Igreja é a nossa pátria da eternidade. E embora a órbita da Igreja seja imensamente mais vasta do que a órbita da pátria, ambas têm o mesmo centro, que é Deus, o mesmo interesse, que é a justiça, o mesmo asilo, que é a consciência, os mesmos cidadãos, que são o corpo e a alma dos seus filhos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- E porque assim é, Sr. Presidente, temos de reconhecer que se impõe como uma necessidade deveras premente o mais perfeito entendimento entre o poder temporal e o poder espiritual.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- E ai dos povos quando tal entendimento se não verifica em condições de perfeita correcção! Inevitavelmente daí advirão as mais desastrosas consequências e os mais graves prejuízos de ordem social.

Graças a Deus, a Nação Portuguesa - afora lamentáveis incidentes e desvios que felizmente se corrigiram - tem sabido viver este exacto sentido da competência dos dois poderes, e de tal maneira que, pela, lealdade e justiça da sua constante colaboração, mereceu o honroso título de «Nação fidelíssima».

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Sr. Presidente: porque sociedade perfeita, com a sua finalidade própria e inalienável, a Igreja não podia deixar de ter um Chefe que personifique a suprema autoridade, em quem resida, em toda a sua plenitude, o poder de legislar e de governar.

O Papa, pedra angular e inquebrantável da Igreja de Cristo, é o chefe supremo que detém em suas mãos o maior e mais alto e mais sagrado poder do Mundo. É a personificação viva da Igreja, e de tal maneira que, quando o Papa ensina, decide, manda ou proíbe, nós entendemos e reconhecemos que é a mesma Igreja que proíbe, que manda, que decide, que ensina.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Pastor supremo, o Soberano Pontífice é o mestre infalível da verdade, o defensor indefectível da