O Orador: - Tenho 34 anos.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Então não se lembra do que eram as nossas estradas.

O ST. Carlos Borges: - Demorava-se seis horas de Santarém a Lisboa.

O Orador: - Agradeço a intervenção do Sr. Deputado Mário de figueiredo e, efectivamente, pelo facto de ser novo, não posso, felizmente, recordar-me do que eram essas estradas. Sou dos que lamentam que um regime de anarquia tenha conduzido as estradas ao vergonhoso estado de 1926 e sou dos que acreditam que um regime sério, como o actual, há-de pôr em 1954 as estradas de Moçambique em termos de não ser possível a comparação com esses tempos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Agradeço mais uma vez ao Sr. Dr. Mário de Figueiredo a sua intervenção e vejo que traduz a concordância com a conveniência de se dizer aqui o que estou dizendo neste momento. Quanto ao desenvolvimento das estradas de Moçambique, estou apenas a fazer nesta altura o retrato da posição actual e não me dispensarei de referir igualmente o que Governo já está a fazer neste momento com os recursos disponíveis. Se V. Ex.ª quiser ter a generosidade de continuar a escutar-me com a atenção que até aqui me tem dispensado, terá ocasião de o verificar.

O Sr. Mário de Figueiredo: - A minha interrupção não quis pôr dúvidas sobre as considerações de V. Ex.ª; eu quis apenas fazer um apontamento à margem, ou, melhor, no correir da estrada ...

da soberania que servem com apaixonada devoção, nessa aventura constante, em que a família mais estreita os seus laços ao longo de perigos que só podem ser avaliados por quem os acompanhe na dureza heróica da sua vida.

Consinta-se-me, Sr. Presidente, uma palavra de homenagem - e até já de saudade - para esses homens que, isolados no interior, são os grandes obreiros do Império.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Consinta-se-me que não esqueça essas mulheres portuguesas que os acompanham com coragem e amor que valeriam monumento justo se outro quisessem para além daquele que são esses territórios portugueses conservados pelo Mundo, graças ao seu esforço abnegado, ao portuguesismo com que formam os filhos e até as lágrimas que nobremente sabem esconder.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Deixe-se-me dizer da admiração por esses missionários da Cruz e por esses anjos brancos do inato que são as religiosas, cuja aparição nos comove quando os vemos, tripulando os jeeps pelas veredas, na missão sublime de socorrerem, como enfermeiras desveladas que cuidam de corpos sem esquecerem as almas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E todos confiam, mesmo quando mais sofrem, em que Moçambique há-de progredir e em que o Governo no seu programa nacional há-de considerar esta problema tão sério das estradas.

Eu confio com eles, Sr. Presidente, e por isso aqui estou a cumprir o seu mandato.

E julgo que faremos bem em confiar.

Moçambique tem já, graças ao esforço dos serviços do Governo-Geral e à clara visão do Sr. Ministro do Ultramar, o seu primeiro plano de estradas. São 630 000 contos a despender ao longo de oito anos, segundo programa definido com acerto para atender às necessidades móis urgentes da província.

Daqui resultará a construção de cerca de 2 000 km de esteadas dispondo de uma faixa alcatroada e mais 3 500 km com pavimento de terra estabilizada.

Consideram-se ainda, neste plano, obras de arte complementares do maior interesse para assegurar a regularidade das comunicações.

Pode afirmar-se que este programa modificará aquele quadro dramático que esbocei, atenuando a pressão do colete de forças dentro do qual, por falta de estradas, se debate hoje a vitalidade criadora de Moçambique.

Deu-se um notável passo em frente, a que temos a certeza de que outros se haverão de seguir.

Para que o programa delineado se cumpra - e isso é ponto importante - faz-se mister que se tomem providências, de natureza semelhante às usadas na metrópole, que permitam certa liberdade no manejo das verbas, dado que terão de ser estos a adaptar-se às realidades do andamento dos trabalhos e não podem estes sei- metidos à força na geometria necessariamente rígida dos orçamentos.

É preciso, ainda, que se assegure o apetrechamento técnico eficiente dos serviços de obras públicas e que estes, para melhor actuarem, não se dispersem na execução das obras que devem ser confiadas, de preferência, a empreiteiros idóneos que bem desejaríamos deslocassem a sua capacidade e os seus recursos para os nossos vastos territórios de África.