social do Norte do País - emprega-se já, nas regiões do Norte, um número de operários que oscila entre 3 000 e 7 000, e daqui se infere quantas dezenas de milhares de pessoas tom a sua vida económica dependente do trabalho dos chefes de família que de canteiros ou pedreiros fizeram a sua profissão.

E não será de esquecer que neste momento se desenha já um enfraquecimento no ritmo da nossa construção civil, e portanto muitos dos que poderiam nela empregar-se deixarão de ter aí campo normal de acção do seu trabalho. Assim, tudo o que seja fazer a construção dos pavimentos à base das nossas pedreiras parece-me que será uma maneira de ligar o económico ao social, de que nunca andou desviado o Governo do Estado Novo.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador:-Por outro lado, nas obras necessárias a continuidade dos traçados julgo que deverão empregar-se as cantarias de preferencia no betão armado.

Ninguém pode de maneira nenhuma estabelecer um paralelo entre a beleza inconfundível das cantarias desta sala e a beleza discutível que ela teria se de cimento armado fosse. E, na verdade, bem se sente a diferença chocante entre as abóbadas de Alcobaça e da Batalha e as da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na Avenida de Berna.

O Estado tem também como missão social educar o gosto estético do povo, fomentar o desenvolvimento das artes e não esquecer que nos nossos castelos medievais encontramos pedras que têm ainda hoje viva e evidente a marca pessoal do operário que a lapidou e aí a colocou.

Ocorre-me lembrar um facto passado comigo há anos numa renovada visita ao Palácio Nacional de Queluz: domingo à tarde dispus-me a ir ver de novo o Palácio e quase simultaneamente chegou um senhor alquebrado já pelos anos, mas em cujos olhos havia cintilações de talento e no enrugado da fronte marcas profundas de educação e de cultura.

E para que, na verdade, os visitantes formassem um grupo mais heterogéneo, chegaram, transportados num magnifico automóvel, dois casais que, no decurso da visita, nos foi possível apurar serem opulentos mercadores da praça de Lisboa. E então aquela visita transformou-se num motivo de permanente curiosidade e interesse para mim, que tinha a resistência de nervos necessária para não me agastar com os dislates que continuamente estavam a ser praticados pelos componentes daqueles dois simpatiquissimos casais.

O senhor de idade, homem culto e inteligente, manifestou por várias vezes, por gestos, o seu enfado, porque os companheiros da visita se limitavam a folar grandeza e da opulência da Corte, proferindo frases ofensivas, para não dizer pornográficas, com relação à vida de reis e príncipes, parecendo que nada mais os interessava naquela visita ao Palácio do que saber se as camas onde se deitavam os antigos moradores tinham colchões de arame ou de sumaúma.

Mas, à medida que o cicerone ia conduzindo os visitantes e nos introduziu na Sala dos Espelhos, aqueles dois casais foram finalmente tocados pelo equilíbrio do linhas e pela grandeza arquitectónica da obra, e ao velhote intelectual que nos acompanhava disse então um daqueles ricos mercadores: Então, que lhe parece esta grandiosidade?».. E o velho português e culto companheiro dessa visita retorquiu: Parece-me que os reis foram uns grandes pródigos, mas deixaram para extasiarmos os olhos estes motivos de inconfundível beleza, ao passo que hoje temos para aí ... uma República de cimento armado».

Ora, já que, na verdade, a República poderá ganhar em vigor de expressão arquitectónica, eu pediria que não se esquecesse de imprimir nas novas pontes a marca inconfundível do trabalho dos nossos canteiros.

Quanto a desvios previstos e necessários para servirem o transito e para descongestionarem o mesmo trânsito, suponho que só há que louvar que se façam esses desvios.

Mas daqui apelo para o Governo e para a Junta Autónoma de Estradas no sentido de que esses desvios ou variantes sejam feitos apenas naqueles casos em que não afastem a grande circulação de motivos de evidente interesse paisagístico, de inconfundível beleza panorâmica ou arquitectónica ou dos conhecidos lugares da nossa evocação histórica.

Na verdade, considero quase criminoso que os novos desvios ou variantes das estradas afastem os viandantes da contemplação dessas evocações, onde melhor podem aprender a amar Portugal.

Julgo que o homem desta Lisboa lê melhor nas pedras do Castelo de S. Jorge do que nas frias páginas dos cronistos e dos historiadores a gesta heróica do Rei Fundador.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por igual razão eu pediria daqui que imediatamente se transferisse para a jurisdição da Junta Autónoma de Estradas aquele número restrito de traçados de estradas municipais que sirvam também esses lugares de interesse turístico, de educação histórica e de interesse arquitectónico.

Suponho que isso é uma maneira prática de realizar a defesa de um volumoso compartimento dos interesses históricos e culturais do País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Postas estos considerações, apraz-me declarar a V. Ex.ª, Sr. Presidente, e à Câmara porque esta proposta só louvores merece que darei o meu voto à proposta em discussão e, com o mesmo apraximento, darei o meu voto a proposta de emenda formulada já por alguns Srs. Deputados à sua base III.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

O debate continuará na sessão de amanhã.

Quero prevenir os SM. Deputados de que a seguir a esta proposta entrarão em discussão as Contas Gerais do Estado de 1952.