Esta opinião é tanto mais insuspeita quanto é certo ser ela apenas a apreciação de muitos estrangeiros que nos visitam, dos quais a tenho ouvido pessoalmente.

Apesar disto, a sinalização tem nas grandes capitais de recorrer em muitos pontos à sinalização automática, que se mostra particularmente útil quando bem montada e bem estudada.

Para isso, deve conduzir ao mínimo de paragens e que estas sejam também de duração mínima.

Ora isto não é o caso, por exemplo, da sinalização automática da nossa Avenida da Liberdade..

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Cito, a propósito, que na Via Nazionale, em Roma - uma das grandes artérias citadinas -, os sinais automáticos, abertos no início, permitem o trânsito livre até final a uma coluna auto de uns 50 m, lançada à velocidade normal de 20 a 30 km/h.

Entre nós, verifica-se na Avenida da Liberdade que o automóvel-testa, ao qual se abre o sinal na via descendente, em frente da transversal de Alexandre Herculano, encontra por vezes, logo a seguir, o trânsito fechado na transversal de Barata Salgueiro.

Substituindo os cruzamentos por movimentos circulares na Rotunda, contraindo passagens subterrâneas para peões, eliminando as linhas dos eléctricos, é possível obter um tráfego permanente.

Se, porém, se puder obter o trânsito de sentido único, como na Via Nazionale, conseguir-se-á um caudal de muito maior rendimento.

Os dois cruzamentos tão próximos, com movimentos nos dois sentidos, conduzem, inevitavelmente, a espaços de movimento desencontrados ou muito curtos, o que redunda em prejuízo no rendimento do tráfego.

Os túneis rodoviários, evitando os cruzamentos e canalizando o trânsito, conduzem a soluções de sinalização mínima e da maior capacidade de débito, permitindo a ligação entre artérias importantes servidas pelo mesmo pólo, mas evitando este. E o caso do projectado túnel do Corpo Santo aos Restauradores, permitindo a ligação da marginal de Cascais à radial da Avenida da Liberdade, sem pejamento da Baixa. Bem assim se diz do resto do troço do túnel projectado dos Restauradores a Martim (Moniz e deste ao Campo das Cebolas. Este túnel entrelaça todas as grandes radiais da Baixa e descongestiona o trânsito desta. A sua construção impõe-se, não só por motivos de circulação, como vemos, mas ainda por motivos de outra ordem, que a seguir enunciaremos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Guardámos propositadamente para final o trânsito de peões.

Ao irrequieto temperamento dos portugueses e ao seu horror nato a tudo que é disciplina e organização que não sejam animosamente aceites e compreendidas se devem aquelas estranhas correntes nos cantos do Rossio.

Aquelas vedações para impedirem a passagem de peões fazem-nos corar de pejo quando nos lembramos de que só com aquilo se consegue resolver entre nós um problema que a disciplina voluntária deveria dispensar.

O trânsito de peões está entre nós, pelo nosso feitio natural de oposição a tudo, francamente mau e bastará ver a desenvoltura com que toda a gente atravessa as ruas do Baixa a qualquer hora de maior trânsito de veículos, em qualquer ponto e em todos os sentidos, cara nos convencermos desta verdade. Apenas nas esquinas do Teatro Nacional e nas passagens do lado sul do Rossio se consegue já uma passagem de peões aceitável.

Não se estranhará muito a tendência irreprimível de certos portugueses para contrariar as disposições legais da Polícia se contar a V. Ex.ª que já uma vez observei, em pleno Rossio, uma senhora a atravessar desenvolta na frente de um guarda, transgredindo as regras elementares do trânsito e levando na mão, em ar de triunfo, os 2f50 da multa correspondente!

Julgo que neste aspecto o nosso atraso só pode ser vencido, não pela repressão, mas sim pelo estudo de uma circulação apropriada, aliada a um trabalho de catequese e convencimento, numa campanha de conquista da boa vontade do público, que sei não ser impossível de obter.

Vozes: - Muito bem!

cução antes do próprio metropolitano, sendo de estranhar que não tivesse já sido começada.

E a solução fácil e expedita da Puerta del Sol, em Madrid.

Para o caso chamamos, pois, a atenção da Câmara Municipal.

A vida das populações em caso de grave calamidade pública (como terremotos, grandes incêndios, explosões, etc.) ou em caso de guerra (bombardeamentos) exige hoje cuidados especiais, estudados e previstos desde o tempo de paz.

Não se pode exigir a um país de recursos financeiros modestos que imobilize milhões para a construção de abrigos para a protecção da sua população civil; mas podem e devem fomentar-se as obras úteis em tempo normal e que amanhã poderão ser utilizadas em caso de guerra.

Londres serviu-se francamente do seu metropolitano, no período mais agudo dos bombardeamentos que sofreu, para refúgio da sua população civil.

Durante um dos numerosos raids que a martirizaram, 300 000 pessoais se refugiaram nos seus túneis e corredores subterrâneos, chegan do a paralisar por completo o tráfego.

Dormia-se nos cais, nas escadas e nos corredores. Algumas pessoais de idade chegaram mesmo a viver lá. Apesar disso e de muitas outras medidas tomadas, cerca de 100 000 pessoas furam vítimas dos bombardeamentos ou dos incêndios.