de saudade sobre o túmulo de um grande rei, de El-Rei D. Carlos, que era a imagem viva, a identificação perfeita desta nação de oito séculos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nesta Câmara, Sr. Presidente, revelou o conselheiro João Franco, através de intervenções brilhantes, em que sobrepujava o vigor da inteligência, o amor patriótico e o forte temperamento que o havia de indicar para as grandes batalhas da Nação contra as forças dissolventes e desagregadoras, os remédios, a terapêutica adequada, que aqueles erros, que de longe vinham, instantemente reclamavam.

Chamado ao Poder, demonstrou aqui, no seio desta sala, o espírito elevado que o animava ao falar claro ao País, proclamando a necessidade de ser banida dos quadros do Governo a falsa conveniência das mentiras com que a Nação se poderia ver surpreendida e restabelecendo, em vez dela, o desassombro da linguagem a que mais tarde havia de chamar-se «a política da verdade».

Incendiaram-se com isso, bem o sei, ódios mateiros contra as instituições vigentes, mas o cesto é que eles sempre viriam, fosse qual fosse a razoo ou o pretexto. E o curioso é que essas malquerenças partiam precisamente daqueles ciclos que mais responsabilidades tinham no avolumar das situações criticadas.

Ainda aqui, nesta Casa, não o atemorizaram, nem os ataques pessoais, nem aã calúnias, nem as ironias, nem os sintomas de facciosismo, porque a tudo fez frente, com rasgo esclarecido; e sempre com aquela presença imperturbáveis que só possuem os homens seguros do bom. caminho que trilham, alimentou, sem dúvida, a esperança de que as paixões e os interesses pessoais e partidários haviam de dominar-se por modo próprio, através do reconhecimento doutros interesses mau fortes, que aqueles deviam antepor-se, por colidirem com a sanidade governativa do País.

Vozes:- Muito bem!

O Orador: - O orgulho ou a cegueira dos homens, porém, mão deixaram que, de um modo geral, se operasse essa espécie de decantação da consciência cívica dessa Câmara, e cada um dos partidos continuou a referver & costumada unilateralidade de critério, na sede de aprovarem apenas o que deles próprios viesse.

Sr. Presidente: numa afirmação de respeito pelo sentido útil dessa Câmara, quis sempre o conselheiro João Franco governar com as suas portas abertas, e, como expressão da coerência do seu pensamento a tal respeito, ninguém melhor que El-Rei D. Carlos estaria em condições de o reconhecer quando escreveu:

Quanto às tuas afirmações, provaste à saciedade que as quiseste seguir; deste uma sessão parlamentar nunca vista, mas chegaste ao fim, como chegaram todos aqueles que estuo de sangue-frio, e não levados por mesquinhas considerações pessoais ou partidárias, convencido de que não era dali que poderia vir o restabelecimento da disciplina social nem o renascimento do nosso país.

Deveres de obediência a quem de mais alto mandava, por ser espelho das conveniências da Nação, pois era o rei, não lhe permitiram confiar, de certa altura em diante, na tarefa construtiva dessa Câmara, mas também isso não admira porque ela, ao tempo degenerara da sua missão, transformando-se em tablado onde, nas rigorosas e ajustadas palavras de El-Rei, com discussões de mera política, interessará os amadores de escândalos vários, esses, sim, mas não fará com que a parte sensata e trabalhadora do País se desinteresse por completo daquilo que para nada lhe servirá».

Sr. Presidente: pela limitação do tempo regimental, têm de ser sucintas e abreviadas as minhas considerações, mas, com a devida vénia, não resisto à meditação de mais este apontamento.

Do programa de administração do governo do conselheiro João Franco destacam-se estes quatro pontos, que transcrevo dum livro:

1.º Não se pedir mais nada ao País sem se assegurar de modo real a ordem na Administração Pública;

2.º Não se poder agravar impostos de consumo;

3.º Qualquer remodelação fiscal ir-se-ia procurar a riqueza e não ao trabalho;

4.º Cadastramento novo para a contribuição predial.

E, como é sabido, a ironia truculenta e adiposa do tempo chamou um dia ao conselheiro João Franco, com laivos de troça, o Messias I

Pois, Sr. Presidente, quando cotejamos os quatro princípios orientadores a que atrás me refiro (ordem na Administração, isenção fiscal de bens de consumo, economia do trabalho e cadastro da propriedade), com aquelas linhas mestras de pensamento, embora mais desenvolvidas, mercê das quais foi possível, ao cabo de vinte e cinco anos de disciplina política, proclamarmos e ver proclamados por estrangeiros o nosso ressurgimento, não sei se, realmente, não devamos atribuir àquela ironia os Messias!» o disfarce de um sentimento sério que se agitasse no subconsciente do seu autor, uma espécie de dissidência propositada entre a objectividade da cura que a Nação reclamava e as conveniências pessoais de uma acção apartada daquela.

Não sei, nem isso importa agora. O que sei é que, analisada desde esse tempo a prospecção da História, o caso, se alguma graça tem, é para o encararmos em sentido menos vulgar, qual seja o de precisamente levantarmos graças a Deus por ter inspirado dois homens diferentes no mesmo afã de salvar Portugal.

Vozes: - Muito bem!