O Alentejo, em geral, sofre de carência hoteleira, especialmente nas três cidades capitais. Em toda esta vasta zona existem quatro hotéis, Eivas, Estremoz, Castelo de Vide e Moura, três pousadas oficiais, Santa Luzia, Santiago do Cacem e Serpa - esta ainda por inaugurar -, e uma pousada particular na altaneira vila de Marvão, com o expressivo nome de Ninho de Águias».

Se é estranho que cidades too importantes como Portalegre e Beja não ofereçam ao visitante o conforto de um Lotei, é inconcebível que Évora, a cidade monumental, o coração do Alentejo, tenha estado nestes últimos quatro anos privada de alojar condignamente os milhares de turistas e outros viajantes que a demandam anualmente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em 10 de Março de 1950 desta tribuna lancei o alarme de que Évora estava nessa altura em grave risco de perder o seu único hotel, o que infelizmente veio a suceder meses depois.

E de justiça esclarecer-se que Évora não deixou de contar com boas pensões, uma das quais fora hotel e, realmente, está instalada num típico e histórico palácio. Também no capítulo de restaurantes, há-os de boa categoria, um deles típico, além de outros incorporados em luxuosos cafés.

Em todo o caso tem sido uma desolação ver passar meteòricamente turistas mais exigentes, que assim perdem o ensejo de fazer uma visita mais demorada e proveitosa aos trinta e seis monumentos classificados e de percorrer calmamente e em todos os sentidos os pitorescos e evocadores arruamentos da mais típica e encantadora cidade portuguesa sob o aspecto monumental.

Estou certo de que Évora, pelo influxo da lei que vai surgir, terá ao alcance os meios materiais de solucionar de vez este cruciante problema.

As entidades oficiais eborenses, sempre atentas aos interesses da cidade, irão, com o auxílio que o Estado vem facultar de forma tão ampla e eficaz, encontrar a solução mais adequada e por todos ardentemente ambicionada.

Restabelecido o hotel em Évora, sem ambições de palácio ou grande luxo, mas sim apropriado às exigências do turismo moderno, tal como na Guarda e em Castelo Branco, a cidade de Sertório será o melhor cartaz do turismo nacional.

Não basta ter majestosos monumentos ou belas paisagens e convidativos hotéis para atrair nacionais e estrangeiros nas suas deambulações recreativas e culturais. E preciso que as populações visitadas cultivem e desenvolvam a arte de bem receber, pois que o turismo não é por si só indústria, mas sim esta resulta do somatório de vários factores de atracção e acolhimento.

Neste capítulo, Évora, já de há muitos anos, é um vivo exemplo, mercê da acção persistente de entidades particulares e oficiais. Já em 1950 e xpliquei nesta tribuna como o Grupo Pró-Évora opôs um travão eficaz aos desmandos vandálicos que abastardavam a cidade e promoveu com os seus cursos de cicerones propaganda intensa entre a população para o bom e proveitoso acolhimento dos então raros visitantes, isto a começar em 1919, quando nessa época, entre nós, as leis protectoras dos monumentos eram quase letra morta e o turismo era corajosa aventura dos poucos que se dispunham aos tormentos das nossas estradas intransitáveis.

As comissões e juntas de turismo surgiram por 1929 e foi então mais fácil de organizar em conjunção de esforços o sistema que em Évora se adoptou de facultar a turistas isolados, grupos, e até multidões, as visitas a todos os locais de interesse.

Todas as visitas são gratuitas, com excepção do Museu Regional nos dias úteis e do Museu de Arte Sacra, na Sé. Há um guia-intérprete pago pela comissão de turismo e de uma categoria tal que pode acompanhar com proveito as pessoas mais cultas que ali afluem. Em ocasiões especiais de grande convergência de visitantes organizam-se brigadas de voluntários acompanhantes, como aconteceu ultimamente com os participantes dos 'vários congressos, que tanto honraram Portugal.

Évora, em conclusão, precisa apenas de fazer ressuscitar o seu hotel para continuar a ser um foco incomparável do turismo nacional.

Estas considerações gerais, possivelmente um tanto fora da ordem do dia, tiveram como objectivo prestar calorosa homenagem à proposta de lei que tão providencialmente foi presente a esta Câmara.

O nome autorizado e indiscutível de quem a subscreve dispensa-me de a ela me referir em pormenor, porquanto, em minha modesta opinião, esta auspiciosa . proposta merecia, se o Regimento a isso expressamente se imo opusesse, sei- estrondosamente aprovada por aclamação.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Amanhã haverá sessão h hora regimental, com a mesma ordem do dia de hoje.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 45 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

André Francisco Navarro.

António Camacho Teixeira de Sousa.

Francisco Eusébio Fernandes Prieto.

Henrique dos Santos Tenreiro.

João Afonso Cid dos Santos.

José Maria Pereira Leite de Magalhães e Couto.

Manuel Maria Múrias Júnior.

Paulo Cancella de Abreu.

Srs. Deputados que faltaram á sessão

Abel Maria Castro, de Lacerda.

Alberto Cruz.

António Calheiros Lopes.

António Russell de Sousa.

Augusto César Cerqueira Gomes.

Baltasar Leite Rebelo de Sousa.

João Carlos de Assis Pereira de Melo.

Joaquim de Moura Relvas.

Joaquim de Sousa Machado.

José Gualberto de Sá Carneiro.

Luís Maria Lopes da Fonseca.

Manuel Cerqueira Gomes.

D. Maria Leonor Correia Botelho.

Venâncio Augusto Deslandes.