O Orador: - Sr. Presidente: há que coordenar e ajustar as assistências corporativa, pública e particular, de modo a tirar-se da sua acção o melhor e o mais útil rendimento.
Numa palavra: há que estudar as possibilidades económicas locais e o modo do seu rápido e inteligente aproveitamento de maneira que se resolva um problema que, empobrecendo o homem, está a empobrecer irremediavelmente a própria Nação.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Em 1754 tinha Setúbal 12955 habitantes e em 1890, já com 30 anos de cidade, a sua população não excedia 16 986. Quer dizer: em 136 Anos a população desta cidade aumentou apenas de 4031 indivíduos. Até aqui a cidade vivia, na tranquilidade do tempo, da produção de sal, da pesca e da agricultura.
Surge a primeira fábrica de conservas de sardinhas cia azeite, e em 1900 verificamos já que a cidade contava com 21 819 habitantes. Enquanto tínhamos levado L36 anos n aumentar em 4031 a nossa população, em 10 anos batemos aquele inúmero, juntando na cidade, em tão pequeno período de tempo, mais 4833 almas.
Em 1910 temos já 40 fábricas e 30346 habitantes, nina os números não param mais. Em 1920 temos 130 fábricas e o censo deste ano dá para Setúbal a população de 37002 habitantes.
A indústria de conservas mostra os primeiros sinais de cansaço, resultante da hipertrofia que atingira. O número de fabricas começa a decrescer. As exportações altas continuam porém, e a população não pára de aumentar. Em 1930 a população de Setúbal tinha subido para 46342 habitantes.
No período de 1930 a 1940 acentua-se mais as dificuldades da indústria. Sente-se que esta declina nitidamente, a despeito dos seus progressos técnicos e da organização que lhe foi dada.
Nos primeiros cárneo anos deste período, ou seja de 1931 a 1935, ainda exportámos uma média anual de 16 0001 de conservas ou seja 41,6 por cento da exportação do País, mas de 1936 a 1940 a nossa anedia anual de exportação pouco excede 9000t, ou seja 20 porcento da exportação total portuguesa.
Junto a crise da conserva começa a grave crise da pesca, para a qual ainda hoje não se vislumbra remédio. Partimos de 1927 com uma média anual de pesca de 18116 t, número que vai sempre decrescendo. Em 1948 está-mos já em 69241 e o ano passado não passámos das 5186.
ão exagero dizendo que a indústria da pesca chegou em Setúbal ao estado declarado de ruína.
Vozes: - Muito bem!
resolução os métodos que as realidades aconselham e a experiência, doutros já demonstrou serem realizáveis que se viva com firmeza e largueza de coração a certeza de princípios de solidariedade cristã, que, 'sendo mino de vida, é igualmente realidade social de que não se pode fugir sem semear no Mundo muitas ruínas, muitos sofrimentos, muitas lágrimas.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - É certo que o Governo tem acorrido nos momentos mala graves com ajudas, que atempam, aqui e ali, aspectos mais salientes da permanente crise em que se debate aquela gente. Tão agudas são as circunstâncias que não só pode aguardar estudo profundo que traga soluções definitivas e de sentido totalmente
positivo. Penso mesmo que terá ainda por muito tempo e se recorrer a esta solução, preparando-se trabalhos especiais, com dotações especiais, para nos momentos mais críticos - aliás já bem definidos pela experiência- se acudir com o mínimo necessário aos que precisam de viver.
Aqui se deve uma palavra de gratidão aos Srs. Ministros do Interior e das Obras Públicas pela compreensão e sentido das realidades com que sempre têm ouvido os nossos pedidos e sempre têm sabido corresponder a uma necessidade que conhecem certa, e verdadeira.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Tem, porém, de se ir mais longe, e deve-se ir. Sem se perder o valor das vidas que há que salvar e defender no próprio momento em que perigam - e há situações em que seria horrível diferir a acção para as conclusões dum estudo ou execução dum plano, temos realmente de pensar num plano devidamente estudado que resolva esta situação, análise caríssima para o País se pensai-mos que dela resulta n perda de muitas vidas e a necessidade, que todos os anos se repete, de enormes dispêndios de assistência meramente paliativa.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - O trabalho que ouso pedir ao Governo só por ele pode ser feito, pois abrange problemas que só ele pode realmente dominar. O próprio plano local poderá integrar-se em futuros planos regionais ou até num plano nacional, nada se perdendo pois do trabalho feito, com o qual, em verdade, vai beneficiar toda a Nação, pois que com o aumento do rendimento nacional todos lucramos.
Tenho gasto alguns anos já longos da minha vida a bater-me por estes problemas.
Sinto, porém, que muitos dos trabalhos feitos se poderão perder se a sua efectivação se não enquadrar na real resolução de um problema que, por ser muito grave e urgente, precisa de que para ele se encontre uma solução de conjunto.
Não bastará pura tanto o esforço de um ou de alguns; é preciso que o Governo, tomando conta a sério deste problema, se decida a dar-lhe uma solução definitiva, que poderá obrigar a execução escalonada, mas que, por constituir parte de um todo, há-de abrir no coração de todos nós uma grande e confortante esperanço, na certeza de que se está percorrendo um caminho, avançando para uma meta.
Vozes: - Muito bem!