O Orador: - Q diploma em debate constituirá, quanto a mim, Sr. Presidente, um contributo precioso para que ela se viabilize dentro em breve, como ardentemente desejamos.

De resto, abundam em Viseu todos os títulos de uma cidade turística por excelência: dotada de uma situação de privilégio, exactamente localizada no coração da Beira, coração de Portugal; rica de condições naturais, em si mesma e no conjunto dos seus arredores, que têm o sortilégio de encantos inenarráveis; cidade onde o perfume do passado esvoaça por muitos dos seus típicos recantos e se topa a cada instante com lições de história que nos recordam datas grandes e belas do passado mais glorioso da Nação; verdadeiro escrínio de arte, onde as manifestações da beleza atingem o maior requinte, tendo a sua expressão mais alta no recheio do tão conhecido e justamente celebrado (Museu Grão Vasco, de projecção internacional, que contém uma notabilíssima teoria de obras artísticas, reputada, em valor, a terceira d o património nacional; a Sé, tendo à ilharga o antigo Paço dos Bispos e o Seminário, notável pela vetustez, pela monumentalidade, com sobreposição de estilos, impregnada dum cunho de grande beleza, é bem o verdadeiro ex-líbris da cidade, destacando-se aos olhos do viajante no topo da colina em que foi implantada, como que a derramar, lá do alto, as bênçãos e graças de Deus sobre o burgo que se estende em derredor ...

E que dizer dos seus templos religiosos, alguns tão cheios de arte e carregados de história? Citemos também o Museu de Arte Sacra, a que o tesouro da Sé deu origem, de fundação recente, mas que encerra notáveis preciosidades muito apreciadas; mencionemos a Casa Museu-Biblioteca Almeida Moreira, que prima da mesma forma pelo bom gosto do seu arranjo e contém mimos de arte, cuja contemplação constitui o mais puro deleite do espirito; não esqueçamos a Cava de Viriato, que remonta ao tempo dos romanos, com as suas sombras acolhedoras.

E os monumentos que se espalham pela cidade?

Se os vários estádios da arquitectura têm em Viseu a sua mais expressiva representação, não escasseiam, todavia, exemplares perfeitos de construções quinhentistas, seiscentistas e do século XVIII, numa profusão de solares formosíssimos, a que os olhos, se prendem, enamorados das linhas da sua majestade e nobreza; porque o urbanismo não tem sido letra morta, mercê da acção do Estado e da autarquia local, rasgaram-se mais ruas, construíram-se bairros novos, desenharam-se praças com certo desafogo, por muitos lados há a frescura de jardins bem cuidados, e o retiro paradisíaco do Fontelo é respiradouro apetecido nos dias escaldantes do Verão.

A iniciativa particular, por seu turno, não tem afrouxado, de forma que edifícios novos ou renovados aformoseiam muitos arruamentos; da classe comercial se pode dizer, com justiça, que, pelo seu brio e sentido de progresso, tem colocado a cidade, na sua feição mercantil, ao nível das mais importantes do País; a casticidade de muitos costumes, notas folclóricas, o mais saboroso pitoresco, traços da lenda e poesia às mancheias, tudo isto ajuda a estruturar, caracteriza e torna aliciante a suo fisionomia; impressiona bem o ar de asseio, de arranjo, de compostura do ambiente citadino, e é motivo de elogio e de agrado geral a extinção completa do espectáculo chocante da mendicidade nas ruas.

Se múltiplas estradas, algumas de bons pavimentos, mas todas com perfeita sinalização e demarcação, correndo ao longo de regiões pletóricas de beleza, dão acesso fácil a Viseu, já tem de pedir-se - e confiadamente se pede - que as ligações pelo caminho de ferro venham a beneficiar, em curto prazo, de uma bem necessária e justificada melhoria.

Quero ainda, e em homenagem à verdade, proclamar e destacar as qualidades de fino trato, de cavalheirismo, de hospitalidade da boa gente viseense.

E por fim há fundamento seguro para fazer a asserção de que os forasteiros que demandam a capital da província da Beira Alta, utilizando os mais diversos meios de transporte, atingem já um número muito elevado.

Tudo quanto deixei dito, Sr. Presidente, conduz em linha recta a esta conclusão: Viseu detém, na verdade, xarás aptidões para ser um centro turístico de real valor.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estamos esperançados em que as poucas lacunas que ainda se verificam, como obstáculo ao rendimento máximo do turismo local, não tardem a ser preenchidas, e espera-se que. da aprovação desta proposta de lei venham a aproveitar-se as altas vantagens que ela comporta.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pedido justificado, que se traduz na veemência do desejo de que, ao serem considerados os locais em que hão-de edificar-se as pousadas constantes do novo plano, mão seja olvidada Viseu, em cujas cercanias há, para tal efeito, sítios de eleição, pelas suas condições topográficas, pelas fáceis vias de comunicação que os servem e pelos regalos da paisagem, vasta e colorida, que lhes dão a mais encantadora moldura.

Queremos acreditar, Sr. Presidente, que o nosso apelo será ouvido, e Viseu, nunca insensível à justiça que lhe façam, como sempre, saberá agradecer.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Galiano Tavares: - Sr. Presidente: em 10 de Março de 1950, ao dar-se por concluído o aviso prévio do Sr. Deputado Paulo Cancella de Abreu sobre a crise do turismo em Portugal, a Assembleia Nacional aprovou a seguinte moção:

A Assembleia Nacional, consciente da importância do turismo sob os múltiplos aspectos moral, político, económico e financeiro, e reconhecendo que, sem embargo de algumas causas externas, a sua grave crise presente provém também de causas