se começar com a cultura do cânhamo, não mais houve crise de trabalho no norte do distrito de Santarém.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Razão tinha o ilustre Deputado Rebelo de Sonsa, no seu requerimento apresentado na sessão de 20 de Fevereiro, em pedir que lhe fossem fornecidas indicações de quais os estudos realizados para se evitarem as crises de trabalho, conforme, voto aprovado em 1950 nesta Assembleia, após discussão do aviso prévio sobre tão importante problema.

Sobre o cânhamo, a que aquele ilustre Deputado se referia na alínea b) do n.º 3 do seu requerimento, posso informá-lo de que se inutilizou o esforço despendido e já no ano passado, em que a cultura do cânhamo teve uma redução de cerca de 100 ha, se desenhou uma pequena crise ide trabalho ...

De tal forma se impunham as vantagens de cultura que S. Ex.ª o Subsecretário de Estado da Agricultura, num despacho de 12 de Março de 1952, dizia:

É evidente que a produção do cânhamo se reveste já hoje de uma importância tal, não só na parte respeitante ao abastecimento da indústria, como a melhor utilização de uma área apreciarei de cultura e ainda ao aspecto das crises de trabalho, que o Governo procurará evitar qualquer perturbação modificadora da boa marcha que as coisas têm tido.

E neste mesmo despacho S. Ex.ª reputa do mais alto interesse a organização de uma cooperativa dos produtores de cânhamo, que bem merece o apoio dos serviços oficiais.

Como consequência, os produtores formaram essa cooperativa, que, com espanto, recebeu ultimamente comunicação da Companhia de Fiação e Tecidos de Torres Novas em que se declara impossibilitada de continuar a adquirir fibras de cânhamo em consequência de uma recente decisão ministerial que pôs termo a um longo litígio entre esta Companhia e outra concorrente, que se abastece de fibras de origem diferente.

Era a sentença de morte lançada à cultura do cânhamo, pois desaparecerá a possibilidade de colocar a sua produção.

Eu não quero caem devo apreciar aqui as decisões do Supremo Tribunal Administrativo que deram razão* à Companhia de Torres Novas, nem a decisão do Conselho Superior da Indústria, homologada imediatamente por S. Ex.ª o Subsecretário de Estado do Comércio, que deu depois razão à Senhora da Hora, de Matosinhos.

Friso, porém, que, após a decisão dos tribunais, a Empresa do Norte declarou aos cultivadores do linho que não lhes compraria as fibras, a que virtualmente estava obrigada, e que a Companhia de Torres Novas, após o despacho do Sr. Subsecretário de Estado do Comércio, fez igual declaração aos cultivadores do cânhamo ...

Tratava-se afinal de autorização para uma e outra fiarem fios grossos.

No fundo uma mera questão de concorrência industrial, com repercussão imediata na produção, que é sempre a prejudicada ...

Eu não quero de forma alguma o mais leve sacrifício para a cultura do linho, tão tradicional em algumas regiões.

Os seus interesses, como os do cânhamo, são muito legítimos e respeitáveis.

O que pretendo e pretendem as gentes do meu distrito é que iguais sejam os direitos e reconhecidos os legítimos interesses das duas culturas. Porque uma e outra, temos de convencer-nos, têm sido neste caso tabelas de bilhar, que a indústria tem utilizado.

E, afinal, não tendo nunca havido colisão de interesses entre, as duas culturas, que marcharam sempre paralelamente, cada uma no seu sector, essa colisão aparece agora, não em benefício da produção, mas tão somente da indústria transformadora...

E, contudo, parece que com boa vontade tudo se solucionaria, como já se propôs, com as seguintes bases:

1.º Salvaguardar a cultura do cânhamo e do linho, entre as quais não existe incompatibilidade;

2.º Procurar um esquema de condicionamento industrial que permitisse o aproveitamento da matéria-prima obtida tanto do linho como do cânhamo.

E a esse condicionamento se daria fácil execução, fabricando uma empresa fios grossos e a outra fios finos.

Fios grossos ficariam naturalmente para a do Sul, que os fabrica há muitas dezenas de anos e compraria a fibra do cânhamo e a estopa do linho. A do Norte compraria, como até agora, a fibra do linho e importaria a parcela que não se produz no País ou que não poderia mesmo produzir-se.

A solução basear-se-ia assim na coexistência e salvaguarda das duas culturas - do cânhamo e do linho.

A cultura, do cânhamo está perdida e ... mais adiante o mesmo poderá acontecer à do linho, visto que nem sequer houve o cuidado d