O Orador:-Importa, porém, que, no fazê-lo - na harmonia o na paz em que vivemos-, não esqueçamos aquela Igreja chamada «do silêncio» e constituída pelos milhões de irmãos nossos que em tantos países sofrem perseguição por causa da sua fé.

Em grande parte do que foi outrora uma Europa civilizada e livre ergue-se em nossos dias a mais violenta perseguição, quer na forma brutal das mortes e prisões, campos de concentração e igrejas encerradas, quer na tentativa insidiosa de separar os cristãos dos seus bispos, e estos de Ruma, privando-se a Igreja do todos os meios de influência, nomeadamente da acção sobre a juventude. Cardeais, arcebispos e bispos condenados em vergonhoso arremedo de julgamento legal. Só num país, dez, prelados, dois mil sacerdotes e outros tantos religiosos executados ou presos.

E deste modo por toda a parte onde o domínio dos exércitos ou a traição das quintas-colunas abriu passo à sistemática e tremenda actuação do antiteísmo comunista.

Atinge- se assim a consciência de todos os homens, pois - como ainda há dias só acentuou nas cortes espanholas - não se trata já de negócio interno de algum ou de alguns Estados, mas de um caso de civilizarão, de um problema do lesa-humanidade.

Contra o escândalo desta perseguição creio que devemos nós -homens livres, representantes dum povo livre- levantar, com firmeza, o nosso veemente protesto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Aliás, mesmo para aquém dos países onde hoje se vive em martírio se prolongam, infelizmente, certos efeitos dum triste equívoco de paz, e o Ocidente continua a debater-se em profunda crise espiritual.

Ermas de amparo ideológico, diminuem-se as forças investidas, de facto, na defesa duma civilização cujo espirito perdura e paira sobre tantos desvairamentos, mas de cuja essência doutrinal e fonte de vida muitos dos seus próprios defensores sinceros andam alheios.

Faltam à vida do nosso tempo aqueles frutos do reino de Deus que -sendo, embora, dentro de nós- se projectam exteriormente em toda a acção humana, no trabalho, na família, na vida política nacional e internacional.

É isso, entretanto, que espera o Mundo, talvez sem dar-se conta, deste jubileu mariano: que, no quadrante da vida. aquela hora vigésima-quinta de desolação e desespero (de que fala o escritor) se mude em alvorecer duma hora nova de confiança, de justiça e de paz.

Pelo que hei dito - e assim termino -, me pareceu bem que ficasse nesta Casa, onde nós representamos uma nação fiel, esta simples palavra de presença e de fé.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.

m efeito, no período, difícil mas glorioso, da Restauração, estando reunidas as Cortes, com os três estados, propôs-lhes D. João IV que elegessem a Virgem, sob o título «da Conceição», por defensora e protectora do Reino, com promessa e juramento de confessar e defender - até com sacrifício da vida, se necessário - que ela fora concebida sem a mancha original, o que os mesmos três estados, de facto, fizeram e o rei sancionou por provisão de 25 de Março de 1646.

O mesmo monarca, que já antes, em 17 de Janeiro do dito ano. havia ordenado â Universidade de Coimbra que só conferisse grau a quem jurasse defender a Conceição Imaculada da Virgem, determinou, por carta régia de 11 de Setembro do mesmo ano, que as câmaras municipais procedessem a eleição idêntica àquela e mandou colocar uma inscrição a ela alusiva sobre as portas das cidades e vilas, fazendo, além disso, cunhar medalhas comemorativas, que foram depois admitidas como moeda corrente.

Não é, porém, somente pelo que nos recorda de valiosíssimo saldo positivo da nossa história que nos interessa o novo ano jubilar. A crença e os sentimentos que ele vem patentear e de certo revigorar são, felizmente, parte integrante actual do património espiritual da Nação, a qual, por isso, não o deixará passar indiferentemente.

Vozes: - Muito bem !

O Orador:-E bem é que ela assim faça, para proveito tanto da unidade nacional (felizes os povos que podem amar e louvar em comum, algo de tão elevado) como da boa formação dos homens (que nada será capaz do suprir), como ainda da continuidade da reconstituição e engrandecimento pátrio, afortunadamente em curso (cuja obra política, social e material só pode eficazmente perdurar, valer e ter sentido na medida em que traduzir o for fiel aos valores eternos e humanos que a inspiram).

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Resta salientar, pela relevância que contém, o facto de, na comemoração centenária agora co-