Por estes quadros de importação de tabaco se vê que afinal a metrópole só recebe com regularidade do ultramar o tabaco do folha escura de Angola -«Bacati» ou «Ambaça» e «Manga»; e que a folha semiclara- «Lola», de Angola, e «Malema», de Moçambique- apenas vem para a metrópole em quantidades diminutas e com grande irregularidade; isto é, a metrópole só poderá receber folha semiclara ultramarina quando, depois de abundante produção, exceder o consumo local.

E se a produção de tabaco semiclaro -«Lola» da província de Angola - ainda está longe de satisfazei-as necessidades da indústria cigarreira daquela província, temos de concluir que não poderá a indústria metropolitana coutar tão cedo com aquela folha de tabaco.

A metrópole apenas pode importar de Angola o tabaco escuro, mas este não está incluído na protecção pautai do artigo 8.º da proposta da Lei de Meios.

Presentemente a situação é esta: Moçambique produz anualmente cerca de 700t de folha semicla ra, das quais consome 6OO t, e portanto, no máximo, poderá apenas dispor de 100 t.

Este tabaco claro ou semiclaro de Moçambique pretende assemelhar-se ao tipo «Virgínia» americano. E é o único tipo que por estes anos mais próximos o tabaco ultramarino pode substituir, em parte, o tabaco americano, desde que seja aperfeiçoado na sua qualidade, que por enquanto ainda é deficiente.

O grosso do consumo metropolitano em tabaco da América do Norte é representado por quatro variedades do tipo «Burleys».

Destes tabacos «Burleys» nem sequer se deram os primeiros passos para a sua produção nas províncias de Angola e Moçambique. Nem é fácil.

A transplantação degenera o produto e o cruzamento com espécies locais afins é praticamente impossível, porque estas não existem.

Um agrónomo de Angola e outro de Moçambique foram recentemente à América do Norte estudar o problema da produção do tabaco em causa.

É louvável esta medida. Mas tudo aconselha que os mesmos técnicos vão estudar o assunto à Itália e ao Canada. Nestes países já se produzem tabacos similares ao tabaco a Virgínia» americano.

O Sr. André Navarro: - Julgo que há certa dificuldades em poder tirar conclusões sobro o estudo que V. Ex.ª preconiza no Canadá, que possui condições de clima totalmente diferentes do existente mas nossas províncias ultramarinas.

A razão que levou os Governos de Angola, e Moçambique a fazer esses estudos nos Estados Unidos foi a de que possuem climas semelhantes aos de Angola e de Moçambique, e desses estudos se poderiam tirar conclusões, quer em relação à natureza especifica, quer à cultura e mesmo na parte industrial. Sou leigo neste assunto, mas estou convencido de que se podem tirar conclusões seguras em climas semelhantes.

O Orador: - Agradeço a intervenção de V. Ex.ª, Sr. Deputado André Navarro, e devo dizer que o tabaco « Virgínia» americano é como o nosso vinho do Porto.

Este só se dá na região do Douro e o tabaco «Virgínia» só se produz na América do Norte. Nós não pudemos ter a pretensão de produzir tabaco tipo «Virgínia» caracterizadamente americano. Teremos de nos contentar com os seus similares.

Teremos de partir da origem do «Virgínia»e ,pelo cruzamento com plantas afins, contentarmo-nos com produtos similares, para depois utilizar no enchimento de lotes.

Nestes estudos seríamos muito auxiliados se tivéssemos conhecimento como na Itália e no Canadá se efectuou o cruzamento.

O Sr. André Navarro:- -Cruzamento de quê ?

O Orador: - Da planta «Virgínia» americana com plantas afins de Angola e Moçambique, que infelizmente não existem.

O Sr. André Navarro:- Pergunto a V. Ex.ª se não seria mais fácil, antes de começar este trabalho, procurar introduzir essas formas de tabaco tipo «Virgínia» e saber se são adaptáveis?

O Orador: - Têm sido feitos esses estudos e não se adaptam com as qualidades de gosto, paladar, cor, combustibilidade, cinzas e condutibilidade da folha.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Os nossos tabacos são semelhantes ao tipo a Virgínia» americano, mas o mercado tem preferência pelo tipo «Burley».

O Orador: - Mas o tabaco tipo «Burley » é americano, de que as nossas fábricas metropolitanas importam quatro variedades. E nas províncias ultramarinas ainda nem sequer se tentou produzir esse tipo de tabaco.

Nós apenas temos tentado similares do «Virgínia» americano no «Lola» de Angola e no «Malema» de Moçambique.