É que estamos nitidamente em presença da já velha e sabidíssima táctica do «simpático» intermediário.

Restringir as compras perante uma oferta cada vez mais acentuada, por dificuldades económicas do casal agrícola; oferecer cada vez mais baixos preços e render pelo arrastar das compras os produtores agrícolas de menor resistência económica; argumentar com os preços assim artificialmente obtidos e estabelecer o receio ou até o pânico naqueles mesmos que, embora de uma economia mais resistente, acabam por achar não lhes ser fácil o escoamento para os seus produtos, é manobra que quase sempre atinge os seus objectivos, com abundantes resultados ... para o intermediário, já se vê.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Chamei simpático ao intermediário porque não antipatizo com ele. Acho-o interessante e até certo ponto necessário.

O que se toma indispensável é condicionar a sua acção dentro daqueles limites em que ele pode e deve servir o bem comum.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - A organização corporativa da lavoura presta-se, como vimos, a atingir essa finalidade.

No que respeita à vinicultura do Norte do País, uma larga zona compreendendo quarenta e cinco concelhos está sob a influência da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.

Não é organismo corporativo nem de coordenação económica, e até agora, na presente conjuntura, ainda não tomou posição.

Deverá tomá -la?

Respondo abertamente que sim, e quanto mais cedo melhor.

O vinho verde, ao contrário do que poderá pensar-se, constitui um elemento essencial da economia do casal agrícola minhoto, a ponto de poder afirmar-se, sem qualquer dúvida, que, quando a colheita de vinho não é escassa e encontra preço de venda razoável, uma verdadeira euforia económica perpassa por toda a lavoura nortenha, movimentando-se o comércio e a indústria, adiando o operário e o jornaleiro, facilmente, lucrativo emprego dos seus braços.

Substituem-se andainas, comprasse ouro, reparam-se e alindam-se moradias, levantam-se paredes, socalcam-se encostas, fazem-se arroteias e novas plantações, animam-se os campos e romarias com os alegres cantares da mocidade aldeã e até, nas ermidas brancas dos montes, o santo de especial devoção recebe complacentemente as primícias de uma colheita farta.

Se o vinho falta ou o preço não compensa trabalhos e canseiras, tudo são lástimas e tristezas.

Esta a importância, Sr. Presidente, que à simples observação nos oferece a produção vinícola na região dos vinhos verdes.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Mas os números podem também confirmá-la e mostrar-nos até facetas de um problema que, por interessar a mais de cem mil produtores e suas famílias e a uma população superior a milhão e meio de habitantes, bem merece a atenção cuidadosa do Governo da Nação.

Em folheto ultimamente publicado (n.º 4) pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes encontram-se os seguintes informações relativas ao número de produtores e volume de produção nos últimos dez anos:

(Ver tabela na imagem)

Vê-se assim que, desde o ano de 1943 até 1952, o número de produtores de vinho verde veio sucessivamente diminuindo de 129306 para 90438 e a produção de 601587 pipas para 273019.

Destes números, que não são de simples estatística, mas provenientes de um organismo que tem fiscalização própria e dela foz largo uso, pode tirar-se a noção bem nítida de que o casal agrícola em toda a região demarcada dos vinhos verdes está empobrecendo enormemente, pelo enfraquecimento da sua produção vinícola, e necessita de amparo rápido e seguro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Poderia pensar-se que a diminuição de produção fosse o resultado da falta de consumo pela correspondente diminuição de apreciadores.

Vejamos o problema por esse lado. O folheto da Comissão de Viticultura, já acima citado, oferece-nos os números sintetizados no seguinte quadro:

Consumo dos vinhos verdes (pipas de 5001)

(Ver tabela na imagem)

Pelos números deste mapa pode observar-se que o consumo de vinhos verdes atingiu o máximo nos anos de 1944-1945, elevando-se a cifra de 563756 pipas dentro da região demarcada e a 57877 pipas fora da mesma região, ultrapassando em 118 975 pipas a produção conjunta dos referidos anos, o que tem natural explicação pela entrada no consumo da parte sobrante dos anos anteriores. Isto de algum modo vem demonstrar