E coração para dar têm-no sobretudo aqueles que com exactidão podemos designar «voluntários da assistência».

Eu sei de uma comissão municipal de assistência que procura realizar toda a sua acção beneficente através das conferências de S. Vicente de Paulo existentes na maioria das freguesias do concelho, cuja colaboração confiadamente solicitou e prontamente lhe foi dada.

Desta forma logra essa comissão fazer obra salutarmente cristã com a alma que generosamente lhe empresta quem a tem para dar.

Não seria possível fazer o mesmo em grande número das modalidades da nossa assistência?

São verdadeiramente volumosas as quantias que, por exemplo, o Instituto de Assistência à Família e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa despendem em subsídios de auxílio a indivíduos e a famílias.

Em que condições se faz, porém, a entrega desses subsídios?

No ambiente frio de uma burocrática repartição e através de mãos desoladoramente mais frias ainda!...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

0 Orador: - E, recebido assim o subsidio, lá parte o pobre com um pedaço de pão nas mãos para matar a fome do corpo, mas com a alma a arder em sede de carinho e de reconfortante interesse que ali, na fria repartição, não souberam dar-lhe ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não será possível modificar o sistema?

A alma do pobre, Sr. Presidente, tem imperiosa necessidade de sentir a presença da alma que o socorre. E esta presença só a pode prodigalizar quem esteja certo de que não há caridade senão na base do amor, e não há amor senão na base da doação de si mesmo ...

Vozes: - Muito bem!

instituições com ela relacionadas.

Quanto dinheiro, tempo e esforço despendidos inutilmente! E quanto bem se poderia fazer com tudo isso que inutilmente se gasta!...

Não é, Sr. Presidente, que eu julgue dispensável uma boa escrita e contas sérias. Não. Uma e outras são inteiramente necessárias a uma rigorosa administração. Mas escrita simples e fácil; contas claras e exactas. Nada mais, que ir além disso é lamentável desperdício.

Todas estas considerações, Sr. Presidente, um só objectivo têm: testemunhar a imperiosa necessidade de que um verdadeiro espírito cristão informe toda a obra assistêncial e lembrar quão indispensável e preciosa é a colaboração voluntária e como devera ser acarinhadas, estimuladas e amparadas todas as iniciativas particulares que de todos os lados surgem em empenho vivo de bem-fazer.

Com este alto pensamento deixo aqui o meu voto sinceramente fervoroso: que no próximo Orçamento Geral do Estado a verba destinada,, não só aos serviços materno-infantis, mas a todos os serviços assistenciais, seja elevada tanto quanto o exijam as prementes necessidades deste importante sector.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: seja-me ainda permitida uma referência, embora ligeira, a outra disposição contida na proposta de lei em debate.

A política rural de que se ocupa o artigo 23.º não pode deixar de interessarmos sobremaneira.

O nosso ilustre colega Sr. Engenheiro Araújo Correia, nos seus magníficos e doutos pareceres sobre as contas públicas, não tem cessado de insistir na necessidade de elevar, por forma sensível, a verba destinada a melhoramentos rurais.

Grato me é apoiar e perfilhar decidida e fervorosamente a justa insistência do distinto Deputado.

Todos sabemos como as nossas populações rurais têm vivido em penosa privação de muita coisa necessária à vida o de muitas facilidades que a outras se prodigalizam.

Não vamos certamente pretender que aos meios rurais se proporcionem todos os progressos exigidos pelos meios citadinos. Não. Mas é de inteira justiça que se lhes prodigalizem, ao menos, aqueles melhoramentos que afectam profundamente a saúde e a vida.

Abastecimento de águas, saneamento, serviços assistenciais, estradas e caminhos deverão ter decidida prioridade sobre tantas outras iniciativas de menor urgência.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Todo o dispêndio a realizar neste sentido será verdadeiramente bendito em si e nos seus frutos salutares.

Eu não direi, Sr. Presidente, ninguém poderá dizer, que nesta cruzada de reconstrução nacional, em que o Estado anda sèriamente empunhado, se tenham feito ou se façam despesas inúteis.

Adentro da rigorosa e séria administração que o Estado se impôs não cabem, não podem caber, despesas inúteis ou mesmo supérfluas.

É, porém, lícito admitir que na ordenação das muitas e complexas realizações nem sempre se tenha dado a devida precedência ao mais necessário e urgente. Nem deve surpreender-nos que, por vezes, isso aconteça, dadas as condições em que os planos de trabalhos necessariamente se organizam e executam.

O que eu pretendo frisar é que tudo quanto respeita à saúde e vida dos povos constitui indubitàvelmente problema de importância capital.

Conceder-lhe prioridade sobre o mais é ir ao encontro de uma das mais graves e urgentes necessidad es que afectam a vida da Nação.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - Com o alargamento dos melhoramentos rurais conseguir-se-á ainda outra ordem de benefícios apreciáveis.