ber desses e dos outros mercadorias, energia, pessoas que desejam deslocar-se; nem nunca alguém ousou defender a tese de que, para acabar com a categoria de Estados interiores, se deve reconhecer às potências limítrofes anexá-los pela força, ou pela «pacífica não violência» da União Indiana.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Só a União Indiana tenta abrir um terceiro caminho, e por isso se encontra na posição indefensável e única de nem poder anexar os enclaves para não comprovar um acto de guerra, contra a soberania que ela própria reconhece, nem deixá-los viver sob a única soberania legítima e possível - a soberania portuguesa.

A União não recebeu só territórios, autoridade, interesses, direitos; herdou também as situações jurídicas e de facto, preexistentes à independência, e que a Inglaterra reconhecia e não podia alterar unilateralmente, e a quem lhe sucedeu cumpre fielmente respeitar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As relações de boa vizinhança consagradas no preâmbulo da Carta das Nações Unidas impõem igualmente à União Indiana, em face de Goa, não só a abstenção dos actos inamigáveis e hostis que ilegitimamente inclui na sua política de «não violência», mas a prática de actos positivos de convivência e colaboração. Eu não podia exprimir-me melhor a este respeito do que o próprio Sr. Nehru, quando afirmou recentemente no seu discurso de Pequim: «a paz não é só a ausência da guerra; a paz é positiva e só existe verdadeiramente numa atmosfera de cooperação entre as nações». Para não se poder afirmar que o Primeiro-Ministro só pensa com correcção nos domínios do universal, esperemos que rectifique no pensamento e na acção os seus conceitos de não violência, de paz, de boa vizinhança e cooperação fraterna, conceitos que tem mobilizado contra Portugal, mas repugnam à consciência do mundo civilizado a que deseja pertencer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Goa e o Mundo.

Através das ameaças e actos agressivos de que tem sido objecto e vítima, Goa atraiu durante os últimos meses a atenção e despertou por toda a parte um movimento de ansiedade. E, apesar de serem praticamente ilimitados os meios de propaganda de que a União dispõe e intensa a sua actividade, ela não pôde evitar que uma consciência geral se formasse, condenatória dos seus métodos de pressão e criminosas agressões: o Governo da União Indiana comprometeu, e desacreditou

connosco o seu pacifismo e a sua política de «não violência».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em quase todos os países onde há possibilidades de uma expressão pública o caso de Goa foi acompanhado e discutido: nos países comunistas, muito compreensìvelmente, com inteiro apoio às pretensões da União Indiana; em Estados recém-constituídos, presos ainda de preocupações e receios, com a circunspecção e prudência que lhes impõem aparentes analogias, a viveza das suas próprias pretensões, a memória de lutas recentes; mas nas outras nações que usufruem estabilidade de vida política e reconhecem o valor do direito nas relações internacionais Portugal pôde contar com simpatia para as queixas e apoio para a sua causa.

Vozes: - Muito bem!

-me especialmente a alguns, e ainda que me limitasse aos que nos estão mais ligados pela contiguidade ou vizinhança na Península ou em África, pelos laços de parentesco e família ou relações políticas especiais.

Passou e sofreu a França dificuldades semelhantes e os acontecimentos seguiram quanto a ela orientações diversas; não podemos, porém, esquecer a elegância com que, durante negociações difíceis, e designadamente no seu fecho, o Governo Francês se empenhou em vincar a diferença de condições que não lhe permitiam a ele resistir à União nem a esta tirar do acordo efectuado argumento contra nós.

Fora das chancelarias e esferas governamentais, na imprensa e entre os homens de estudo, a questão de Goa foi geralmente compreendida e acompanhada na sua relevância jurídica, valor histórico e simbólica representação do esforço do Ocidente em alargar as fronteiras do Mundo para benefício comum da humanidade. Muitos se manifestaram contra as cedências sucessivas e as cap itulações ante forças que estão longe de ter demonstrado a sua superioridade em qualquer campo, e sustentam que, se a Portugal se deve ter erguido em Goa o glorioso padrão de uma das maiores viragens da História, é falho de sentido e de justiça que se lho arranque das mãos. Mas esta razão é uma razão política sem presa no espírito dos dirigentes da União Indiana, pois precisamente pensam que está no facto a origem das grandes infelicidades da Índia na época moderna. Não significa, outra coisa a campanha em que se acusa o Estado Português da Índia de ser um anacronismo histórico e uma expressão de colonialismo. Tais acusações não têm fundamento no caso de Goa, mas o Mundo