existiu viceja sem a nossa concorrência a árvore da Propaganda.

Vozes: - Muito tem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que interesse tivemos? Que lográmos com os dinheiros despendidos, os esforços empregados, as fomes, as misérias, os maus climas, as navegações ousadas, as lutas em terras longínquas, os martírios que sofremos - que lucrámos? Trabalhar na extensão do reino de Deus e com ele na elevação dos homens de todas as raças a maior espiritualidade de vida e fraternidade cristã.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

dente, ainda quando, como no regime português, o Estado não é confessional, não há união com a Igreja, mas apenas separação concordada.

Tocamos agora, senão o fundo, um dos aspectos mais sérios do problema.

Em face dos nacionalismos que irrompem, frementes na Ásia e em África contra as soberanias e as posições que a Europa não cessa de abandonar, a Propaganda entende que deve tentar salvar a sua obra, dessolidarizando-se dos Estados, e pôr outro lado fazendo tanto quanto possível o recrutamento do clero entre os convertidos locais: independência política e clero indígena são os traços característicos das novas tendências, em reforço, quanto ao primeiro ponto, do que já vinha de trás.

Ora bem: este primeiro ponto pode ser uma necessidade de ocasião, mas não é uma verdade absoluta, nem dentro dos princípios religiosos nem à face da sociologia e da experiência política. Do princípio verdadeiro «a Igreja precisa de liberdade» está a passar-se irreflectidamente pa ra estoutra proposição «a liberdade basta à Igreja», que é manifestamente falsa, sobretudo quando formações religiosas concorrentes entram de qualquer modo como elemento de coesão social dos povos considerados e sob esse aspecto recebem protecção especial, directa ou indirecta, do Estado. E este é que é o grande problema da Índia no aspecto religioso.

Quanto à formação de clero local, devemos nós arrogar-nos o direito de prioridade na matéria. No clero de Goa não chegam a uma dezena os sacerdotes do continente e ilhas e andam à roda de setecentos os naturais do próprio Estado da Índia. Fora do território português, Goa traz em serviço das missões da Propaganda uns duzentos sacerdotes. Que ironia dos factos e que lição! Nós ensaiámos há séculos a novidade - em 1530 já havia sacerdotes indianos - e em Goa pode dizer-se que desde há dois séculos o clero é na sua totalidade goês. E não só para Portugal: generosamente se dispersava e trabalhava também fora do Estado da Índia e fora do Padroado, no exercício duma missão religiosa que ainda não pôde ser acusada com verdade de apresentar traço de influência política. Por alguma razão a Goa se tem chamado a Roma do Oriente. É-o de facto: pelo esplendor da fé católica, pela abundância das vocações, pelo espírito de proselitismo que anima a Igreja naquelas benditas terras. Por serem da Índia? Meu Deus! não; por serem portuguesas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Humanamente e nos tempos próximos não me parece que se possa confiar muito na expansão do Cristianismo no Oriente. Mesmo sem ter em linha de conta que a retirada europeia pode precipitar o continente asiático por completo no comunismo - hipótese em que é escusado buscar soluções para uma questão que deixa simplesmente de existir -, um progresso razoável do Cristianismo naquelas paragens não se afigura possível sem a acção missionária estrangeira, que na Índia começa a ser dificultada pela distinção entre liberdade religiosa e liberdade missionária. Fermentarão então ideias de Igreja nacional, condenada, na falta de outros apoios, à desagregação última das cristandades e sua submersão no caos religioso local.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E Goa não pode ser invocada como exemplo em contrário senão quando se compreenda que a Igreja é ali, não a única, mas uma das várias instituições que formam a cultura e o espírito ocidental do Goês.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Concluo estarmos dentro da melhor doutrina e dos interesses da Igreja; concluo que a manutenção da Goa portuguesa é ponto de apoio indispansável à conservação e difusão do Cristianismo na Índia. Mas nós não invocamos uma razão religiosa para nela assentar os direitos políticos de Portugal: deixamos essa posição aos que nos hostilizam.

Assim, os católicos partidários da União Indiana entendem que, se de Goa desaparecer a soberania portuguesa, com ela desaparecerá a desconfiança em relação aos sacerdotes e missionários estrangeiros, que o não seriam já, sendo goeses. E deste modo, sem a última ligação com um Estado europeu, não só o Cristianismo em