posse de Angola, de Moçambique e de todas os nossas demais províncias ultramarinas. A darmos o primeiro posso agora, porque não o repetirmos todas as vezes que se pusesse problema idêntico?

Não! Portugal não pode curvar-se, submisso, perante os apetites de quantos se lembrem de querer devorar qualquer porção do seu território; e nem mesmo nortear a sua política ultramarina pêlos conceitos de outros povos que não têm atrás de si, como ele, uma experiência colonizadora que lhe valeu o amor daqueles que civilizou. Portugal não precisou dos conselhos de estranhos quando se abalançou a descobrir novos mundos e a fundar um império; não será agora, que se trata de o conservar, que terá de seguir na sua esteira.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A nossa política histórica.

Hoje em dia todos os povos colonizadores se mostram dominados por um espírito de derrotismo, que os leva quase a envergonharem-se e a desculparem-se por terem exercido a função de chefia de raças atrasadas. «País colonialista» é um vitupério que está na ordem do dia e que aterra todos aqueles que julgam poderem ser alvos dele.

Pois bem! É preciso que Portugal, já que nenhum outro país o ousa fazer, clame à face do Mundo que a função colonizadora que vem sendo exercida por ele e por outros se justifica plenamente; que bem merece da humanidade e que, longe de os deslustrar, só os engrandece moralmente. E preciso que Portugal, em lugar de seguir a corrente geral, que tende a abandonar à sua sorte povos de civilização atrasada, reassuma o papel que teve no século XVI de chefe do movimento tendente a integrar tais povos na nossa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nós, pelo menos, não deveremos ceder permite reivindicações pseudo-humanitárias e bastante equívocas, apresentadas por quem pretende, pura e simplesmente, aproveitar-se do esforço alheio. Para Portugal a função colonizadora está-lhe na massa do sangue; ela vem dos confins da sua história e constitui para ele motivo de orgulho.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Enquanto em plena Idade Média os países da Europa inteira consumiam as suas energias em lutas de campanário entre os seus pequenos senhores feudais, nós escapávamos a tal recorrendo ao nobre e grandioso derivativo do descobrimento de novos mundos e do seu povoamento; enquanto, mais tarde, em pleno Renascimento, os mesmos países se esgotavam em lutas sangrentas, a fim de aumentarem o seu território, por vezes com uns escassos quilómetros quadrados, nós mantínhamo-nos, em geral, alheios a alianças orientadas em sentido tão medíocre e íamos, mares em fora, construir um império ultramarino que foi o primeiro do seu tempo. Portugal visou sempre ao grande, ao nobre, ao transcendente, evitando esgotar-se em lutas mesquinhas. A sua política foi por isso sempre mais ultramarina que europeia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E quando, uniu ou mais vezes, essa directriz é posta de parte as consequências para nós são quase sempre desastrosas.

A história fornece-nos exemplos concludentes a tal respeito; basta-nos, porém, citar um dos mais recentes:

Na guerra de 1914, o excepcional vigor da resistência alemã na África; a deficiência de preparação militar dos aliados naquele teatro de operações; a nossa posição de vizinhança dos territórios inimigos e o facto de nos encontrarmos nos primeiros tempos do conflito com os nossos recursos militares intactos, tudo isso poderia ter contribuído para que, ao mesmo tempo que defendíamos o que era nosso, desempenhássemos um papel de grande relevo na condução da guerra naquela zona.

Não seria presunção, nem megalomania da nossa parte, pretendermos assumir a função que outros tiveram na coordenação das operações em que comparticipavam Ingleses, Sul-Africanos, Belgas e Portugueses; e isso justificado pela superioridade de efectivos que ali tivéssemos, pela dos nossos quadros e por uma longa prática de guerras africanas. Teríamos assim chegado ao final da luta, nós, em lugar de outrem, de posse de dois grandes territórios inimigos: o Tanganhica e o Sudoeste Alemão.

Bastaria, para isso, termos canalizado para ali o nosso principal esforço militar, em lugar de o fazermos para a Flandres, onde os nossos efectivos passavam despercebidos nos da massa gigantesca dos aliados.

Vozes: - Muito bem!

Quionga.

Faço votos por que amanhã, se o País se vir envolvido em qualquer conflito internacional, não se repita o que tantos consideraram um erro há quarenta anos; e que a nossa comparticipação em qualquer teatro europeu - forçosamente modesta e insignificante - não se faça à custa da que seja possível no ultramar, a qual poderá porventura ter um maior relevo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A existência permanente de fortes guarnições militares nas nossas províncias mais ameaçadas parece-me uma medida da maior prudência e vantagem, não só considerada no que respeita ao nosso interesse próprio como ao dos nossos aliados. Salvo melhor opinião, julgo que devemos ter os olhos voltados mais para o Extremo Oriente do que para os Pirenéus. O melhor das nossas tropas e do nosso material deverá estar lá, o não aqui, como agora sucede. O perigo para nós, lá, é real e actual, como o mostra o que se está passando na Índia, o que sucede periodicamente em Macau e os prenúncios que já houve em Timor.