unânime desta Assembleia, que em breve há-de intensificar e desenvolver a colaboração de todos os valores de Goa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O Estado da Índia faz parte integrante da Nação Portuguesa, proclamada, à face da história e da lei constitucional, una e indivisível; não é, até por isso mesmo, uma colónia, nem um domínio mantido no Oriente por um Estado europeu: é um pedaço de Portugal na Ásia; Goa é, naquelas paragens, metrópole do nosso património comum de cultura, de leis, de processos de administração, de língua, de religião.

Na orla do Índico, que as nossas naus sulcaram antes de outras do Ocidente, o mar é português, e portugueses são os fortes, os templos e os homens que ali nasceram e têm contribuído para o renome lusíada.

É sede de portuguesismo e cabeça de cristandade, tão grande que até perdurou nas terras que as oscilações do tempo e da fortuna separaram da Pátria-Mãe, tão extensa era a terra, tão longas as distâncias e tão pouca a gente saída, não sem desfalque populacional, desta estreita faixa atlântica que é a pequena «casa lusitana».

Não pode esquecer- se a acção que lá desenvolvemos desde a nossa chegada à costa do Malabar, levando a cultura do Ocidente à Índia e depois à China e ao Japão.

Logo em 1512, el-rei D. Manuel enviava para Cochim ao vice-rei Afonso de Albuquerque livros para serem utilizados na primeira escola que se abria na Índia, por mão dos Portugueses; e el-rei D. João III prossegue na mesma política.

E é Diu, Damão, Baçaim, Chaul, Margão, Angediva, Cananor, Calicut, S. Tomé de Meliapor.

E são franciscanos, jesuítas, agostinhos, dominicanos. Verdadeiro fervet opus no ensino, na expansão da Língua e da Fé, instrumentos primaciais e operantes do chamamento à civilização do Ocidente.

E tão depressa e afanosamente se andou que cerca de uns escassos cinquenta anos após a chegada do primeiro vice-rei já a Companhia de Jesus abria em Goa a primeira Universidade do Oriente com a protecção de el-rei D. João III.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E são as tipografias que levam a famosa invenção de Gutemberg, com as naturais consequências de uma expansão cultural mais fácil e mais larga, como foi documentado pelo Dr. Américo Cortês Pinto em Da famosa caie da imprimissão.

E tanto mais poderíamos dizer em todo o vasto campo da acção humana!

Assim, repito e insisto, com o cruzamento do sangue, com o falar a mesma língua, com a adoração do mesmo Deus, a mesma cultura, os mesmos processos de administração, iguais hábitos de vida, se amalgamaram as gentes e se absorveu o território no mesmo todo nacional que é a Nação Portuguesa.

Hoje, em Goa, Damão e Diu não há indianos senão no sentido de que esses territórios estão situados na península do Indostão; há portugueses. Não são, pois, indianos sujeitos a Portugal; são portugueses que vivem e labutam na terra portuguesa da Índia.

E nesta incompreensão, verdadeira ou simulada, é que está o erro dos actuais dirigentes da União Indiana.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Em catolicidade, Goa é a Roma do Oriente, farol luminoso da doutrina de Cristo naquele mar proceloso e de negrumes de religiões, algumas delas monstruosas, de ritos que se entrechocam e de párias e castas que mutuamente se digladiam e esmagam.

Por isso, se a bandeira das quinas desaparecesse daquelas paragens ter-se-ia apagado esse farol de Fé e de Esperança, de Paz e de Vida, para volver às trevas em que no ponto de vista espiritual e cultural viviam aquelas gentes à chegada dos primeiros portugueses.

Se ó certo, e é bem certo, que a árvore se conhece pelo fruto, más árvores as que produzem estes frutos, que se traduzem numa visão desfigurada do conflito com a União Indiana, negando razão a Portugal e reconhecimento da acção benéfica do Padroado português do Oriente.

Clamorosa injustiça, que brada aos céus e que havia de nascer, como escalracho, na própria seara que vem semeando e criando há séculos os operários a quem o sacrifício e o martírio colocaram nos altares da cristandade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sempre receei estes progressismos modernos de feição político-religiosa que saúdam de mão estendida os inimigos da Fé e da civilização.

Tais árvores de raiz podre - quais frutos roídos de dentro pelas larvas do interesse, da vaidade e da hipocrisia.

Não é a árvore do interesse, da humildade e do sacrifício, da madeira do lenho do Calvário: é a árvore do pântano, cujas raízes mergulham na viscosidade complacente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quanto à atitude da Propaganda Fide, ela não podia causar grande estranheza a quem, como eu, mercê de funções desempenhadas há vinte anos em Moçambique, teve ensejo de observar e sentir directamente a sua acção. Ela foi, em certos casos, bem- diferente, na concepção e nos processos, da nossa tradição multissecular de país missionário e civilizador, e até perturbadora da unidade de orientação e acção da nossa política missionária.

E julgo não ser preciso concretizar ou adiantar mais neste momento. Sr. Presidente e Srs. Deputados: fiéis todos nós aos sacrifícios e às glórias do passado, digamos aos Portugueses e ao Mundo que inscreveremos em nossos guiões