e bandeiras, para transmitir honrosamente às gerações vindouras, o lema que se contém nas palavras do Sr. Presidente do Conselho, lema em que se exprimem uma decisão e uma vontade que são de nós todos e que vêm das raízes da História: dos reis e do povo, dos heróis das navegações e dos cercos, dos colonizadores e dos missionários, dos mártires e dos santos. Não damos nem vendemos a Índia!

Vozes : - Muito bem!

O Orador : - Vou terminar.

Quisera fazê-lo com palavras dignas do assunto que nos prende e do momento histórico que estamos vivendo.

Poderia ir buscá-las às Décadas, de Barros, ou à Ásia, de Castanheda, às cartas ou aos comentários de Albuquerque ou às Lendas da Índia, do seu secretário Gaspar Correia.

Tantas fontes de exemplos que são epopeias de sacrifício e de glória, de honradez e de lealdade, de anseios pela elevação moral e material das gentes, em suma, de civilização e de cristandade.

Lembraria assim com justeza o que fomos e como nos comportámos; como a da à Índia mais parece, do que pura decisão dos homens, deliberado desígnio da Providência.

Já Afonso de Albuquerque, numa das suas cartas ao rei, escrevera:

Eu não duvidaria que a fé e confiança das coisas da Índia, que somente ficou a Vossa Alteza depois de tantas contrariedades e dúvidas de muitos corações, fosse especial graça de Deus. Ouso, Senhor, de escrever isto a Vossa Alteza porque vi a Índia além do Ganges e aquém e vejo como Nosso Senhor vos ajuda.

E noutra carta afirmava:

Porque vejo o feito da Índia levar um caminho como coisa endereçada por Deus.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: na Índia já correu também em tempos de hoje sangue português.

Lá se encontram dispostos a continuar a epopeia que principiou, vai para cinco séculos, civis e militares, capitães e soldados, que neste momento saúdo, melhor direi, que todos nós saudamos, com enternecida emoção patriótica!

Vozes : - Muito bem !

O Orador : - Se tiver de haver fragor de batalha, não haverá para eles e para a Nação inteira, que os acompanha, melhor incitamento ao heróico cumprimento do dever, com o desapego da própria vida, do que essas palavras com que o Sr. Presidente do Conselho fechou o seu memorável discurso, palavras em que a nossos olhos perpassa, redivivo e fulgurante, o sentimento que animou o primeiro rei em Ourique, o Condestável em Valverde, D. João de Castro em Goa, D. João de Mascarenhas em Diu, tantos e tantos que, em extremo e desmedido esforço de homens, encarnaram a alma da Pátria e criaram a velha epopeia.

Vozes: - Muito bem!

0 Orador: - Tais palavras são estas que perduram em nossos ouvidos:

Depois de afagar as pedras das fortalezas de Diu ou de Damão, orar na Igreja do Bom Jesus, abraçar os pés do apóstolo das Índias, todo o português

pode combater até ao último extremo, contra dez ou contra mil, com a consciência de cumprir apenas um dever. Nem o caso seria novo nos anais da Índia.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: é possível que alguns invocando pacifismos, mais ou menos suspeitos, com fingido amor da paz - evidentemente, a seu modo, nem que para tal dêem os passos necessários para deflagrar a sua guerra -, sim, é possível que alguns continuem a preconizar negociações com a União Indiana, mesmo com a aceitação do fim proposto ou reclamado de integração dos nossos territórios naquela União.

Essa atitude não a quer a Nação, não a quer nem a poderia querer o Governo.

Nós não a queremos!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E possível, pois, que desse campo, embora por certo muito limitado, se levante o burburinho do humanitarismo, do pacifismo, da repulsa da guerra, mesmo quando é o único meio possível de defender a vida e a liberdade da Pátria.

Outros, mais cautos ou amolentados, poderão desencadear o seu coro de lamentações, exteriorizando o seu humanitarismo, para encobrir fraquezas próprias, ou alheias.

Pois se isso acontecer, e assim for preciso, lembremos, em nome da Nação, que é toda a verdadeira grei portuguesa, a que não faltam os mortos que nos comandam, o conselho do Terribil em carta sua ao rei Venturoso:

Guardai-vos, Senhor, de conselhos de homens a quem a guerra, enfada.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

Amanhã haverá sessão à hora regimental, com a mesma ordem do dia de hoje.

Espero que o debate do Sr. Deputado Teófilo Duarte seja concluído amanhã.

Está encerrada a sessão.

Eram 19 horas e 10 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

João Afonso Cid dos Santos.

D. Maria Leonor Correia Botelho.

Ricardo Malhou Durão.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Abel Maria Castro de Lacerda.

Agnelo Orneias do Rego.

Alberto Cruz.

Alberto Pacheco Jorge.

Amândio Rebelo de Figueiredo.

António de Almeida Garrett.

António Calheiros Lopes.

António Carlos Borges.

António Júdice Bustorff da Silva.

António da Purificação Vasconcelos Baptista Felgueiras.

António Russell de Sousa.