porém, certo que não atingiu, e creio não atingirá nunca, o grau de eficiência quê alvoroçadamente se lhe atribuíra.

E de considerar se um dos meios mais expressivos de corrigir ou aperfeiçoar a instituição não será completá-la com suborganizações de grandes zonas, em que a afinidade de interesses, a similitude de problemas, mais preciso conhecimento das condições tornassem as intervenções mais razoáveis e eficientes. Nem custa reconhecer a estas mais possibilidades de êxito nos problemas que respeitam às nações e são particulares dessas zonas que ao actual universalismo das Nações Unidas.

Na ordem dos factos é tão flagrante e sentido este estado de coisas que o continente americano possui, à margem e sem prejuízo das Nações Unidas, uma organização própria, com suas conferências periódicas e seu alinhamento de orientações gerais em certos problemas - alinhamento em que a solidariedade interamericana joga o seu papel.

Ora bem! O Brasil tem o seu lugar nas N ações Unidas e tem-no na organização dos, estados americanos, mas, enquanto nas primeiras a actividade tem de confinar-se quase só no academismo da instituição, entre estes últimos n sua acção e influência desenvolvem-se preferentemente num plano de continentalidade, que, se corresponde à sua situação geográfica, e predominantes interesses económicos, pode bem não corresponder às origens e à parte de interesses universais em que comunga connosco. O caso da índia é absolutamente típico e revelador desta concepção, pois que o Governo e o povo brasileiros vibraram tão intensamente com os agravos da União Indiana como nós próprios e desveladamente se têm preocupado com a segurança de Goa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Reconhecer e proclamar esse extraordinário movimento de solidariedade e do mais decidido apoio é dever que me é particularmente grato cumprir neste momento;...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... mas, quando busco a razão do facto, vejo não poder ser outra senão que o sentimento geral brasileiro é estar ali parte da história e património moral do Brasil. Quer dizer: à margem de tratado que nos vinculasse uns aos outros, a reacção brasileira produziu-se e manifestou-se espontaneamente na linha dos interesses políticos e morais comuns, como a de Portugal, por certo, se manifestaria em casos análogos em que o Brasil se visse tão injustamente envolvido.

Vozes: - Muito bem; muito bem!

O Orador: - À luz dos factos pode, pois, perguntar-se se a separação dos dois países não foi no princípio longe de mais sob este preciso aspecto, ficando uma e outra nação desprovidas de apoio recíproco e submetidas a linhas de orientação ou de força que, felizmente, nunca foram contrárias, mas, pelas circunstância» de ocasião, bem podiam ser largamente divergentes. De certo modo se pode dizer que, embora a título experimental, se refaz ou corrige agora a história em benefício comum, fazendo da comunidade luso-brasileira um instrumento de política internacional de Portugal e Brasil.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Espero estar ainda dentro dos cinco minutos que me propunha falar. Preciso dos últimos segundos para dizer o seguinte: o Brasil é uma grande e esperançosíssima nação, a quarta ou quinta do Mundo em extensão territorial, com possibilidades e riquezas praticamente ilimitadas, dentro de décadas com um valor demográfico considerável entre as maiores nações, e implantada num dos lados do quadrilátero atlântico em que se localizam muitos dos nossos mais importantes interesses. Nós somos a velha árvore reverdecida de que o Brasil se desprendeu e que pela sua pujança continua a formar novas ramagens e troncos, estuantes de força e de viço. Nestas circunstâncias, o tratado não pode considerar-se como afirmação gratuita de princípios e atitudes e devemos ter a consciência de que impõe a ambos os estados enormes responsabilidades. Para além daqueles aspectos sentimentais a que -filhos, do mesmo sangue, dotados do mesmo coração- não podemos fugir a render preito, está aí uma fonte inesgotável de inspiração e acção política. Ratificando-o, nós fazemos um voto ao mesmo tempo de confiança recíproca e de optimismo quanto ao futuro das duas pátrias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Assembleia e todos os presentes, de pé, aplaudiram S. Ex.a o Presidente do Conselho.

O Sr. Presidente: - Está interrompida a sessão.

Eram 17 horas e 10 minutos.

Neste momento o Sr. Presidente do Conselho saiu da sala das sessões, acompanhado pelo Sr. Presidente da Mesa e dos secretários da mesma.

O Sr. Presidente: - Está reaberta a sessão.

Eram 17 horas e 20 minutos.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Está em apreciação o Tratado de Amizade e Consulta Luso-Brasileiro. Tem a palavra o Sr. Deputado Alberto de Araújo.

O Sr. Alberto de Araújo: - Sr. Presidente: na história das relações entre Portugal e o Brasil abre-se um novo capítulo com a assinatura do Tratado de Amizade e Consulta negociado pêlos Governos dos dois países e agora sujeito à aprovação desta Câmara.

Os acontecimentos fundamentais da política e da história não são, em regra, produto do acaso e antes, quase sempre, culminam períodos longos de evolução. ' A tendência expansionista do génio português, favorecida pela nossa posição atlântica e por uma volun-