tica externa de interesse recíproco dava posição privilegiada a Portugal e Brasil, de «mãos dadas», no quadro internacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aqui está em palavras claras e expressivas o conceito mais elevado que pode extrair-se tio notável instrumento diplomático que consagra a comunidade luso-brasileira, como exemplar unidade política e insofismável força moral.

Esta grande realidade política e moral ganha assim representação e consistência intemporal, sobrepuja os nossos afectos e sentimentos, mantém e perpetua uma ideia «para alguma obra heróica de virtude».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: se possui-mos a outro plano, creio que o Tratado de Amizade e Consulta permite que se abram perspectivas novas às relações culturais entre o Brasil e Portugal, pois intencionalmente se hão-de procurar «os meios de desenvolver o progresso, a harmonia e o prestígio da comunidade luso-brasileira no Mundo».

Alguma coisa conheço do Brasil, nunca ali fui sem uma grande comoção e alvoroço, com espírito sincero posso talvez produzir um depoimento sobre o que melhor conheço. É natural que por dever de ofício me achegue mais a considerar os modos em que actualmente decorrem as nossas relações intelectuais.

O Brasil caminha com ímpeto vertiginoso para os estádios da cultura superior e universitária, com sedução extraordinária das técnicas modernas, de que a América, do Norte é expoente e paradigma, mas sem descurar o cultivo das humanidades, que cada dia mais se oferecem à inteligência do seu escol intelectual como norma do pensamento e disciplina da razão, em pleno valor formativo. Neste particular, a nossa multissecular tradição humanística pode conceder alguma d« suas vantagens u preparação espiritual dos jovens universitários brasileiros. Mas há mais do que isto: há um património moral e espiritual, uma literatura muito nossa e hoje igualmente sua, a mau rica que produziu um pequeno povo depois da Grécia antiga; há uma arte, que nas suas formas e representações se transplantou e floriu; há uma língua que lá se enriqueceu e estuda com devoto amor; há um espírito bem semelhante àquele que nos guia e conduz aqui, o mesmo espírito que vivifica e anima as nossas gentes do ultramar, onde as mesmas formas de vida, a mesma alma, a mesma língua, o mesmo ritmo do sangue estabelecem e denotam um sincronismo invulgarmente apreciável em três partes do Mundo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tenho de dizer que é entranhável para quem percorre, com sinceridade e discreta auscultação, as Universidades do Brasil que nelas não encontre a presença de agentes da cultura portuguesa senão com irregularidade e assistência bem precária. Ali, onde tudo nos chama e concorre para que dos afectos passemos aos superiores interesses comuns, aos trabalhos paralelos para expansão da língua e da cultura que indissoluvelmente nos ligam, nós, os Portugueses, temos estado ausentes, perfeitamente alheios e, quando solicitados, correspondemos com pouca galhardia ao que de nós se espera, cedendo a reserva de nosso lugar a quem se oferece com obstinação e nele vai fazendo o seu proveito.

A cultura luso-brasileira tem nos últimos anos alcançado maior louvor e estimação nos grandes meios intelectuais da Europa e da América, e julgo que é oportuna, e talvez urgente, uma definição e patrocínio oficial que permita a execução de um plano metódica e seriamente concebido.

As Universidades cube o dever de colaborar mais acentuadamente nessa obra, de expansão da nossa cultura com todas as suas possibilidades, sua boa vontade u entusiasmo, como aliás em grande parte têm feito, e é de obrigação dotá-las dos órgãos necessários para que a sua missão nesse particular vá mais distante e seja mais efectiva.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

ctividade sobremaneira invejável. Mas, na nossa modéstia, impõe-nos n dignidade do nosso nome e a qualidade da nossa vida que apareçamos, que mostremos o que somos, na pureza das nossas intenções e no valimento das nossas obras. Temos lá no Brasil raízes indestrutíveis, mas por elos mesmas é que estamos obrigados a remoçá-las com a linfa da nossa cultura actual, que em muitos capítulos é digna de oferecer a face à luz do Mundo, como ainda há pouco se viu.

Temos lá raízes indestrutíveis, mas também discretíssimas oposições, ou, melhor, umas tentativas - que não chamo incipientes - de enraizamento e dispersão de culturas, que, se não podem substituir a nossa, todavia a querem ensombrar. A quem a culpa? Os Portugueses não podem fazer-se desentendidos desta pergunta, possivelmente, impertinente.

Porém, quando vejo consignado no Tratado de Amizade e Consulta o princípio de que hão-de estudar-se os meios de desenvolver o progresso, a harmonia e o prestígio da comunidade luso-brasileira no Mundo, creio que há motivo para confiar e abrir o nosso espírito a risonhas esperanças.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Oxalá me seja dado saber que amigos e discípulos meus, aos quais há mais de vinte anos conduzo e lanço no amor e no estudo do Brasil, oxalá me seja dado saber que, com novos incentivos em novos caminhos, se consomem nesse fogo ardente pela perpetuação do nome português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Um homem que no Brasil teve a sorte de pisar os lugares onde alguns da sua família deixaram o sangue, de encontrar velhos amigos e conhecidos de há quatrocentos anos, de ver e rever na sua expressão imorredoura a pura verónica da Nação Portuguesa,