O Orador:-Destes cruzados era neto D. Egas Moniz, grande devoto de Nossa Senhora, aio de D. Afonso Henriques e que erigiu a Igreja da Virgem Maria do Cárquere, perto de Lamego, a quem atribuiu a milagrosa robustez do enfermado seu pupilo, contribuindo assim para se lhe arreigar na alma uma grande devoção à Virgem Santíssima e colocar o Reino sob a sua protecção. Lê-se num pergaminho de Alcobaça:

... ordeno que eu, meu reino, minha gente, meus sucessores fiquemos debaixo da tutela e protecção, defensão e amparo da bem-aventurada Virgem Maria de Claraval...

É tradição que S. Bernardo - tão devoto da Virgem Nossa Senhora- haveria escrito uma carta a D. Afonso Henriques profetizando que a Portugal nunca faltariam reis portugueses:

... salvo se pela graveza de culpas por algum tempo (Deus) o castigar; não será, porém, tão comprido o prazo deste castigo que chegue a termos de sessenta anos ...

É, pois, sob a protecção da Virgem Maria que se forma a. nacionalidade, a cada vitória corresponde "um voto à Mãe de Deus e dos Portugueses: a tomada de Santarém faz levantar o mosteiro de Alcobaça c... ao soberano mistério da puríssima Conceição de Nossa Senhora..."; a conquista de Lisboa - também com o auxilio de cruzados - acarreta a construção de dois conventos dedicados a Nossa Senhora dos Mártires; cada cidade ou fortaleza tomada aos Mouros fica assinalada pelo erguer de mais um templo, no Alentejo como no Algarve; Portugal vai crescendo sob a protecção da Virgem; o povo segue os reis na sua devoção; com o sentimento religioso consolida-se o da pátria de Santa Maria.

Quando, por morte de D. Fernando, a independência de Portugal corre perigo, foi ainda sob a protecção de Nossa Senhora que triunfámos de Castela, e D. João I, agradecido, manda construir a Igreja de Santa Maria da Vitória, perto de Aljubarrota; o condestável D. Nuno ergue o Mosteiro do Carmo e Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

Á piedade da dinastia de Avis é assinalada pela construção de muitas igrejas e mosteiros; na era de Quinhentos surge, na sua grandiosidade, Nossa Senhora de Belém.

No século XVI, nos seus triunfos como nas suas calamidades, governantes e governados, poetas, missionários e navegadores da nossa história trágico-marítima não cessam de implorar a protecção e clemência da Virgem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Passam Francisco Xavier, Inácio Azevedo e António Vieira -expoentes da nossa fé-, Camões e D. Sebastião, Alcácer Quibir; os sessenta anos de dominação castelhana fazem-nos balbuciar preces aflitivas e conduzem-nos ao milagre da Revolução de 1640.

Certo é que o duque de Bragança reconhece o favor da Virgem Santíssima e, cinco séculos volvidos, renova o voto feito por D. Afonso Henriques, invoca-a como Padroeira do Reino, protectora da sua dinastia e vassalos, jura aceitar o mistério da Conceição e fazê-lo jurar pelos estados do Reino, ordena que a Universidade de Coimbra "... não desse grão a sugeyto algum sem o tal juramento..."

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Por outro lado, o povo também encontra na sua fé o bálsamo para suavizar as calamidades provocadas pelo terramoto de 1755 e pelas invasões francesas, que haviam de trazer para Portugal os malefícios do demo-liberalismo.

Vozes: - Muito bem!

nto na Câmara dos Deputados, em sessão secreta, e a 16 do mesmo mês apareceu no Diário do Governo a carta de lei pela qual D. Fernando, rei regente, sancionou o decreto das Cortes Gerais, de 12 de igual mês, que

... autoriza o Governo a conceder, para fins nele declarados, o real beneplácito e régio auxílio as letras apostólicas dogmáticas...

Tal acontecimento deu origem a celebrarem-se esplendorosas manifestações de júbilo em todo o pais e a construírem-se novos templos a Nossa Senhora da Conceição, como o do Sameiro, em Braga.

Hoje, ao celebrar-se o centenário daquele dogma, as manifestações, porventura mais grandiosas ainda, traduzem bem o sentir da alma nacional, onde a Fé se manteve sempre viva.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: cumpro o dever de expressar ao Governo, neste momento e nesta Câmara, representativa de um pais católico, a profunda satisfação por verificar que, longe de se acabar com a religião em três gerações, o povo pode, livremente, professar as crenças dos seus maiores.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Mas não bosta a liberdade de culto para irmanar o Governo com a Nação: nesta hora grave em