portadores de afecções nervosas, além daqueles que sofreram acidentes profissionais, dos quais mês resultaram determinados aleijões, podem ser reeducados e readaptados com o melhor dos proveitos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Seria longo e fastidioso tratar reste lugar com desenvolvimento próprio as técnicas modelares de reeducação e de classificação social dos indivíduos inferiorizados. Mas o que se impõe é amparar os cardíacos ou os reumáticos, interná-los, vigiar o seu tratamento no hospital ou no domicílio, adaptá-los às novas condições segundo a sua capacidade física, valorizando-os socialmente, dar-lhes auxílio económico e moral suficiente e ainda proteger-lhes a família, dando-lhe habitação e sustento. São estes atributos basilares que se encontram também no espírito das disposições contidas na lei.

Fazer toda a assistência, e promover toda a recuperação possível. E seria de toda a conveniência generalizar os seguros obrigatórios, em caso de doença, de invalidez, de todo o trabalhador, de modo a garantir-lhe assim o seu pão e o da família, dando-lho uma certa tranquilidade moral na sua desgraça. Trata-se de assunto delicado e difícil, que envolve grandes responsabilida des e para cuja solução se requer um estudo especializado e profundo, visto não serem viáveis os descontos em ordenados, já por si inferiores à satisfação das necessidades essenciais. Mas este capítulo mereceu ao Sr. Prof. João Porto, pelo seu largo conhecimento da matéria e pela actividade desenvolvida no Centro de Cardiologia Médico-Social de Coimbra, que dirige, desenvolvida exposição, e o mesmo sucederá com o Sr. Dr. Cortês Pinto, director do Instituto de Reumatologia.

Têm, pois, a minha concordância todas as medidas tomadas para a reintegração do doente no meio social que lhe compete, havendo necessidade de continuar a política de assistência e higiene social, de tão proveitosos resultados, e estendendo-a a outros campos. Assim, e vendo nos problemas de que pretendo ocupar-me motivo para a valorização do homem, quero aqui referir-me a uma questão da mais alta importância, pedindo para ela a subida atenção de V. Ex.ª, visto V. Ex.ª ser o fiador e intérprete dos nossos anseios, das nossas aspirações, que são os anseios e aspirações da Nação.

Quero referir-me à criação no Porto de um centro regional de luta contra o cancro. Em 29 de Dezembro de 1923 foi criado por decreto o Instituto Português para o Estudo do Cancro, cora sede no Hospital Escolar de Santa Marta. O artigo 4.° desse decreto designava os fins do Instituto e numa das suas cinco alíneas, na alínea b), dizia: «Manter e desenvolver um centro regional de luta contra o cancro em Lisboa e promover e auxiliar a criação de outros centros regionais.

São decorridos trinta e um anos, e, até agora, essa medida não teve execução. A que atribuir semelhante facto? É baseado nessa determinação lega], que parece esquecida, que hoje me atrevo a pôr o problema relativamente ao Porto, onde milhares de doentes que sofrem de enfermidade tão grave podem e devem ser tratados. Grande cidade, que dia a dia se engrandece e valoriza, pelo desenvolvimento sempre crescente da sua indústria e do seu comércio, bem merece, por todas ca razões, ser olhada pêlos Poderes Públicos com a melhor atenção. E se há resistências a vencer, removam-se, satisfazendo as necessidades daqueles que sofrem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: é bem melhor editar as doenças que curá-las, e os meios de que hoje se dispõe, embora longe de atingirem os benéficos resultados que todos desejaríamos, são, dentro dos possibilidades, profilácticos e curativos.

O Porto não pode nem deve ser esquecido, e, posto que os seus pergaminhos científicos o tornem digno de possuir um centro de terapêutica cancerosa, e, solidariedade social, o sentimento humano e cristão, a caridade para com o próximo, justificam a sua criação e a sua existência.

Os problemas de assistência devem obedecer a um plano geral que a todos aproveite, de funções bem definidas, para poder atingir-se a máxima eficácia com um máximo de economia. Não pode nem deve encarar-se fora deste conceito, que encerra uma grande verdade, que, esquecida, nos leva à prática dos erros mais funestos.

A assistência aos cancerosos em Portugal é quase exclusivamente exercida em Lisboa, através do Instituto do Cancro, considerado e classificado como dos melhores institutos da Europa, honra e glória do Estado que o criou. Mas, Sr. Presidente, apesar da sua acção, tão benéfica como intensa, não basta para as nossas necessidades. Repare-se com atenção no que se passa no Norte do País, zona muito povoada, da maior densidade, e onde os casos de cancro são numerosíssimos e os meios para o combater reduzidíssimos.

Assim, no Hospital Geral de Santo António, que a Santa Casa da Misericórdia mantém, à custa de muito sacrifício, existe um aparelho de raios X, para radioterapia profunda, e uma pequena quantidade de rádio, adquirida por benemerência também caritativa.

Os tratamentos prestados com esta reduzida parcela de rádio são feitos em más condições, em meio que não satisfaz qualquer dos requisitos necessários pura tal fim. Fora do Hospital, o Dr. Macedo Pinto, na Casa de Saúde do Dr. Alberto Gonçalves, atende todos quantos dele se abeiram, ricos e pobres, com o rádio que possui, adquirido à custa do seu exaustivo labor de profissional distintíssimo. E muito para a iniciativa particular e pouquíssimo para as necessidades que o meio acusa.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Na hora que passa todas as organizações hospitalares são, além de centros de tratamento ou diagnóstico, escolas de divulgação, de profilaxia e de higiene social e ainda focos de cultura profissional, cultura tão vasta, tão complexa, que excede já os quadros esquemáticos das Universidades.