quando se está em presença de gentes tradicionalmente apegadas à rotina, receosas de toda e qualquer transformação!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Segundo o meu modo de ver, o quadro não é diferente daquele que se viveu nos anos imediatamente anteriores à última grande guerra e pôde ser eficaz, direi mesmo, brilhantemente vencido. Foi então uma época áurea, da nossa administração, desdobrando-se em todos os sentidos, em múltiplas presenças, em realizações várias. Foi nessa altura que floresceu a organização corporativa, que, em mais de um campo, provou exuberantemente de que servia e para que servia.

Hoje jaz para aí, não sei já se viva, se morta, pelo menos inerte e exausta, desenraizada do seu meio e da sua missão.

Estará, acaso, neste paralelo a raiz da diferença entre a maneira como se enfrentam e resolvem as situações numa e noutra época?

Por mim prefiro não responder, embora não me possa passar desapercebido que insensivelmente (idade? circunstâncias?) estou preferindo comparações dentro dos últimos vinte e cinco anos, em vez de as fazer com época mais recuada. Presságio que não é bom, não porque o contraste não fosse (mais forte quando, em vez de vinte e cinco anos de intervalo, me servisse de quarenta ou cinquenta, mas tão só porque já é muito grande entre dois períodos, durante este quarto de século.

Seja como for, o que é indispensável é reagir e actuar, reagir contra o pendor de amolecimentos, indecisão e desânimo; agir encontrando soluções satisfatórias para resolver eficazmente os problemas e sustar a tendência crescente para a redução dos {r endimentos agrícolas, tanto mais que, em primeira análise, se afigura haver, em grande parte, algum problema de regularização - adaptando a oferta irregular a uma procura constante ou lentamente crescente -, de orientação da produção dos mercados saturados para os de procura elástica, de pôr em movimento uma política de poder de compra, promovendo as necessárias revisões de salários e a sua indispensável elevação.

Vozes: - Muito bem; muito bem!

O Orador: - O aumento de produção agrícola, que julgo ter deixado evidenciado, parece ser a garantia bastante contra os riscos de inflação. Também no domínio industrial é tempo de acabar com a intransigente defesa da ineficiência, que se traduz na salvaguarda das empresas marginais e na garantia de elevadas rendas diferenciais às outras, encargos que vão constituindo pesado fardo para a economia do País e forte obstáculo ao seu desenvolvimento.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: -Sr. Presidente: dizia, há pouco, que não se deveria contar demasiado com o estímulo trazido pela nossa balança de pagamentos, já porque não poderia bastar para contrariar decisivamente os efeitos provocados por uma depressão agrícola, já porque não sabia quanto tempo poderia durar essa situação.

Efectivamente a nossa balança, comercial parece estar a viver, cada vez mais, tanto da comparticipação ultramarina, como da excepcional valorização de dois produtos: a cortiça e o café.

Estudada a exportação metropolitana para o estrangeiro, observa-se uma quebra sensível tanto em valores como em quantidades, quebra que o aumento de fornecimentos para o ultramar não compensa nem justifica. Isto mesmo acentua, muito a propósito, o parecer da Câmara Corporativa, em que se escreveu:

É de referir, com certa apreensão, a tendência de quebra da nossa exportação metropolitana.

Pois aí está mais um aspecto da questão em que se me afigura poder a organização cooper ar mais eficaz e oportunamente do que outros sistemas, que, pela generalidade de que se revestem, têm necessariamente de defender-se, na medida em que não podem estar inteirados e identificados com os diferentes meios em que podem ser chamados a intervir, acabando por terem maior preocupação de defesa do que de acção e por não bastarem para ocorrer às necessidades de uma política de saneamento dos mercados sem recurso a dotações orçamentais, encargo que a economia do produto facilmente suportaria com benefício geral. Mas o problema da nossa balança de pagamentos é mais grave e mais contingente. A posição, favorável que vem traduzindo resulta, em grande parte, como já se disse, do alto valor atingido pela cortiça e pelo café, que nu ano passado representaram, respectivamente, cerca de 26 por cento do valor de exportação metropolitana e perto de 45 por cento da ultramarina, ou seja, mais de um terço do valor total da nossa exportação ultramarina e metropolitana para o estrangeiro.

A quebra de praças destes dois produtos pode, por si só, alterar o sinal da balança e evidenciar com acuidade todos os germes de depressão, iniciados na quebra dos rendimentos agrícolas. E quantas pessoas haverá que possam assegurar a persistência no tempo do valor destes dois produtos -oxalá perdurasse por muitos anos!- do valor e da quantidade? Não desejo com isto pressagiar desgraças, nem sequer fazer prognósticos pessimistas, mas tão só chamar a atenção para as verdadeiras determinantes da situação, enquanto é tempo, tanto mais que não me agradaria muito ter de guardar a passividade do inglês que demorou o conhecimento da notícia triste de sábado para segunda-feira, só para não estragar o fim de semana!

Risos. .

Entretanto, é, porém, certo e seguro que nos últimos anos temos beneficiado de apreciáveis saldos da nossa balança de pagamentos, tal como acontecera, anos antes, durante a última guerra. Importa, porém, averiguar se temos tirado todo o partido possível dessa situação, se a Administração tem por si, pelo exemplo e pela orientação, estimulado eficazmente a aplicação dos capitais que se oferecem, imprimindo o necessário ritmo de desenvolvimento ao País, importa averiguar se, estando realizadas as condições adequadas ao pró-