categòricamente a admitir o direito do Governo Português a considerar como criminosos, sob a alçada exclusiva das autoridades portuguesas, os Indianos, incluindo Goeses, que marchem sobre Goa, acrescentando que, se eles ferem condenados ou deportados para fora da índia, o facto terá sérias repercussões naquele país.

Há alguma coisa mais extravagante e desarrazoada do que isso?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não se pode admitir mesmo que a União Indiana, que não tem hostilidade contra Portugal, como afirmo a o Sr. Nehru no relatório anual que, como presidente do Congresso Indiano, apresentou ainda não há muito, permita, como permitiu, que no seu território se organizem grupos de desordeiros para a invasão dos vizinhos territórios portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Agora o Governo da União Indiana pretende transpor as suas fronteiras e penetrar num pais, que ião é seu, para cobrir com o seu manto protector não só os Indianos mas ainda os Goeses, ainda mesmo que eles perturbem a tranquilidade e o sossego público, não tom justificação possível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- E, no entanto, é isto o que o Governo da União Indiana pretende.

Querem a libertação de Goa do «jugo agressor» de Portugal? Mas quem a pediu? Se os próprios «oprimidos» a não querem?

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- É o que, pelo menos, se deduz dos comícios que, após a agressão de Dadrá, se realizaram em Goa e que, pelo grande número dos que neles tomaram parte, foram uma eloquente e oportuna manifestação do sentir do povo.

Além disso, a «libertação» não implica necessariamente a integração de Goa, na União Indiana.

Goa geogràficamente é Índia. Mas a União Indiana não é a Índia toda.

Sendo assim, não se vê a razão de tão solícito interesse da União Indiana na «libertação» de Goa e outros territórios portugueses na Índia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O movimento da «libertação», que, como acentuei, de há muito vinha esboçando-se, deflagrou em franca hostilidade na noite de 21 a 22 de Julho último, em que um numeroso grupo dos chamados «satyagrahis», a coberto ainda com o auxílio de tropas da União Indiana, tomou para campo de suas vis e ignóbeis façanhas o minúsculo território português de Dadrá.

Poucas horas antes desse atentado, o Sr. Nehru, no seu discurso a propósito da cessação da guerra na Indochina, apresentava a União Indiana como uma potência modelar no seu convívio com as outras nações, esforçando-se por manter a paz e a concórdia entre elas.

Dir-se-ia que esse discurso do Sr. Nehru era um canto de Sereia com que o Primeiro-Ministro indiano pretendia adormentar a consciência internacional, para esta se não insurgir contra as barbaridades que logo depois seriam praticadas com franco apoio da União Indiana.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- É assim talvez que se explica a sua curiosa declaração de que só pelos jornais ficou sabendo o que se passara em Dadrá.

Por mais estranha que seja essa declaração, não a comentaremos.

Mas qual teria sido a atitude do Sr. Nehru depois de ter tido conhecimento dos factos ocorridos em Dadrá? Aceitou-os como factos consumados. Ainda mais: solidarizou-se com os agressores.

E a conclusão a que se chega em face da sua teimosa e injustificada insistência em não permitir a passagem de forças portuguesas para pôr termo a uma tão anómala situação, ou a de delegados desarmados de autoridades portuguesas, ou ainda a de observadores internacionais escolhidos pelo Governo Português para examinarem a situação.

O tão apregoado «pacifismo» da União Indiana não impede que continue o mesmo regime de violências, com intensidade cada vez mais crescente, avultando entre elas as dificuldades que se levantam para a entrada dos Goeses na União Indiana e o bloqueio económico.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - São estes os «meios pacíficos» de que a União Indiana se serve na sua campanha contra os territórios portugueses na Índia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Foge-me neste momento o pensamento para o que o Sr. Nehru, numa das suas cartas escritas da cadeia onde se encontrava para sua filha, disse sobre o bloqueio económico da Alemanha pela armada britânica, ainda depois de terminada a guerra. Dizia o Sr. Nehru nessa sua carta:

A guerra terminara. Mas o bloqueio da Alemanha pela armada britânica continuava e não se permitia que chegassem os géneros alimentícios às mulheres e crianças que morriam à fome. Esta espantosa exibição de ódio e desejo de punir ainda as criancinhas era apoiada pelos estadistas britânicos e homens públicos de reputação, pelos grandes jornais, ainda chamados liberais ... O registo de quatro anos de guerra - continua o Sr. Nehru - está cheio de brutalidades e atrocidades. E, contudo, nada mais excede em brutalidade do que esta continuação do bloqueio da Alemanha depois do armistício ...

No bloqueio económico de Goa pela União Indiana temos a mesma exibição de ódio, o mesmo desejo de punir as mulheres e as criancinhas da Índia Portuguesa; as mesmas brutalidades, as mesmas atrocidades.

Vozes: - Muito bem!