E passo em revista a indiferença do público, entusiasmado com os temas nacionalistas, e dos governos, mais dispostos ao sistema de alianças para segurança dos estados do que aos processos de cooperação para o entendimento dos povos; o ambiente transformado pela primeira guerra mundial, a pressão dos factos que desperta o verdadeiro movimento de opinião, a Europa fragmentada, com mais 6 000 km de fronteiras sobre os 12 000 km existentes em 1914; a União Pan-Europeia, o Conselho Económico Pan-Europeu, a União Económica e Aduaneira Europeia; a atitude de Herriot, Presidente do Conselho do Governo Francês, no discurso que proferiu em 25 de Janeiro de 1920 na Câmara dos Deputados - a primeira atitude oficial; a fórmula da «entente europeia», também de Herriot, no livro Europa, publicado em 1930; o projecto de união europeia apresentado por Aristides Briand e o célebre memorando de 1 de Maio de 1930; a reacção hostil do Secretariado da Sociedade das Nações em relação ao projecto e o frouxo acolhimento por parte dos diversos governos em relação ao memorando; a ausência de um forte e razoável acordo geral; os acordos regionais; o eixo Roma-Berlim; a guerra, a guerra que continua, fria ou quente, mas guerra, apesar de tudo.

Vozes: - Muito bem!

idente: nunca mais deixou de se empenhar no afã clandestino de excitar em determinados povos, mesmo nos mais atrasados, o apetite nacionalista, de instigar revoltas sangrentas, de manter agentes secretos na tarefa de minar os alicerces políticos, sociais e económicos das nações decididas à resistência; está na origem do episódio coreano, da tragédia da Indochina; alimenta o avanço da onda comunista por toda a Ásia, o incessante abrir fogo sobre alvos novos ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nunca mais parou: ontem deu alguns passos para a frente, hoje deu mais, amanhã dará outros, se não lhe impedirem o rolar do presente sobre o futuro, marcado, dia a dia, por realidades triunfantes.

O menos que ganha é metade do que exige: metade na Coreia, metade no Vietname. Primeiro a orla marítima,, mais tarde o Laos, o Camboja, e quem sabe ...

Não, Sr. Presidente, o mundo livre não podia por mais tempo cruzar os braços em atitude de inacção suicida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Já não se trata da Europa dos três, dos cinco, dos seis, dos dez, dos doze, do comité dos dezoito, do comité dos Ministros, das comissões preparatórias, dos planos postos e depostos, das divergências sem remédio; o que existe, o que se ergue, o que se dispõe a defender a vida e a honra de viver já não é o tumulto sem disciplina, sem força e sem comando, é uma verdadeira comunidade sem brechas, sem falhas, sem abismos.

Sem brechas, porque não quero admitir que na altura própria aqueles que dificultaram nos parlamentos francês e italiano a ratificação dos acordos de Paris possam deixar cair na lama o ideal de pátria e o conceito de Europa livre.

Sem falhas, porque seria ilógico e indesculpável que novos erros pudessem vir a ser cometidos contra a experiência dos factos, tão clara e tão dolorosa.

Sem abismos, porque todo o sinal de fraqueza só serviria a força do inimigo, cavando a ruína e a queda totais do nosso continente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Não fujo à oportunidade de reproduzir esta justa observação de Paul Valery:

Os Europeus não têm compreendido a tempo que cada batalha travada na Europa, qualquer que fosse o resultado, era uma derrota para todos, uma diminuição do seu futuro comum, uma dilapidação do seu capital real.

Repugna-me acreditar na divisão da Europa nesta hora decisiva em que se lhe põe um problema de sobrevivência pelo revigoramento do seu espírito de iniciativa, da sua acção civilizadora, da sua concepção de dignidade humana.

É que a Comunidade Europeia de Defesa não existe só para prevenir uma guerra com a Rússia e para evitar mais guerras na Europa; existe ainda para reconduzir a Europa ao lugar que lhe compete no esforço de cooperação mundial.

O forte é que a comunidade maior em que ela só integra não dê mostras de tibieza perante as arremetidas disfarçadas ou abertas da política de expansão soviética.

Ai de nós se chegarmos a cair num estado de depressão e de cepticismo mortais.

Ai de nós se passarmos o tempo a deliberar, enquanto os outros preparam em silêncio a pronta execução dos seus projectos.

Ai de nós se não formos bons soldados às ordens de chefes capazes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- No dia 4 de Outubro de 1953, na pequena cidade de Kesan, tropas gregas e turcas que tomavam parte no exercício Weldfast, cheias de entusiasmo fraterno, confraternizaram, abraçando-se.

Tomando a palavra, o general Baransel, comandante do 1.º exército turco, disse:

Estamos aqui reunidos para ver pela primeira vez na história cooperar forças gregas e forças turcas. Esta manobra vai mostrar ao Mundo inteiro o que valeria em caso de guerra a colaboração dos Turcos e dos Gregos, e não só dos exércitos grego o turco, mas das nações grega e turca.

Quem conhecer a história da velha rixa greco-turca, história sangrenta com o seu início em 1456, não pode deixar de reconhecer o extraordinário significado que o facto encerra.