Inimigos de ontem, inimigos de sempre, reconciliados na consciência do perigo comum.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Em 23 do Outubro findo a República Federal Alemã foi convidada a aceder ao Tratado do Atlântico Norte.
É outro facto da mais alta importância.
A Alemanha representa no Centro da Europa um poder que conta, um poder indispensável.
A sua capacidade de recuperação, as suas energias depressa a hão-de pôr em condições de cooperar nesta batalha sem descanso que o Ocidente está travando para não soçobrar.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - O Protocolo Adicional ao Tratado do Atlântico Norte para acessão da República Federal Alemã faz parte dos grandes acontecimentos postos à consideração desta Assembleia na presente sessão legislativa.
Ouvimos aqui com indizível emoção o Sr. Presidente do Conselho falar da Índia Portuguesa e do Tratado de Amizade e Consulta Luso-Brasileiro.
Alguns de nós exprimiram nesta tribuna o que lhes ia na alma.
Ressalvada a natureza especial da nossa reacção como portugueses em face dos casos particulares que nos dizem respeito, por tocarem mais de perto o âmago dos nossos sentimentos pátrios, a ordem geral das razões de consciência que nos determinaram então são as mesmas que nos determinam agora.
Em nenhum dos casos fomos e somos estranhos à ideia da unidade europeia de defesa através da unidade ocidental.
Vozes: - Muito bem!
O Orador:- Sempre me hei-de lembrar de uma viagem que fiz há cerca de oito anos em certo navio que procedia dos Estados Unidos da América do Norte.
A bordo encontrei um ex-diplomata polaco, pessoa distintíssima, pertencente à melhor aristocracia da sua terra.
Conversámos. O seu estado de abatimento era mais do que visível. Estivera no México, onde fundara e dirigira uma colónia de refugiados do seu país.
Um dia chegaram a essa colónia dois naturais de uma das repúblicas bálticas, que se tinham evadido de certa província-presídio, para onde os Russos mandavam viver em relativa liberdade muitos daqueles que não lhes inspiravam toda a confiança.
Os dois evadidos, na sua trabalhosa e aflitiva peregrinação, haviam percorrido uma grande parte da Sibéria.
Queriam dar conta do que viram, e tanto disseram sobre a preparação bélica comunista no Extremo Oriente que o diplomata exilado pôs a si próprio a obrigação de avisar com toda a urgência o representante americano no México.
Assistimos depois à preparação americana no Alasca, nos gelos polares.
Estou a ver as lágrimas que saltaram dos olhos do mau interlocutor quando me falava da casa que perdera em Varsóvia, da sua casa-museu profanada e saqueada pelos Russos.
Não esqueci essas lágrimas, jamais as poderei esquecer, e tiro delas, Sr. Presidente, a redobrada vontade, o redobrado ardor, a redobrada consciência com que voto para ser ratificado pelo Chefe do Estado o Protocolo
Adicional ao Tratado do Atlântico Norte para acessão da República Federal Alemã. Disse.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Venâncio Deslandes: - Sr. Presidente: ao tomar pela primeira vez a palavra nestu Casa quero começar por apresentar a V. Ex.ª a expressão da minha muita admiração e profundo respeito.
Faço-o não tanto pela força da tradição como por imperativo de consciência. Ocupa V. Ex.ª um dos mais destacados postos da vida política portuguesa, e difícil seria encontrar quem o preenchesse com tanta dignidade e tanto brilho. É-me, por isso, extremamente grato neste momento render a V. Ex.ª as minhas melhores homenagens.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - A VV. Ex.ªs, Srs. Deputados, quero também aproveitar este ensejo para vos testemunhar a minha mais viva simpatia e vos afirmar todo o espírito de colaboração que me anima.
Sr. Presidente: com o final da guerra passada a República Soviética transportou a sua fronteira militar 2000 km mais para o ocidente, instalando-a no próprio coração da Europa, e, contra tudo o que era natural a quem terminava uma luta esgotante, continuou a desenvolver a sua capacidade militar.
Na negação total dos próprios princípios porque afirmara bater-se, absorveu os pequenos países da sua periferia, fomentou conflitos sociais e militares, sabotou a paz e a tranquilidade das nações, criando estados de tensão internacional que levaram vantagem aos que no passado foram origem de guerras.
Sabe-se como as nações ocidentais, suas antigas aliadas na vitória tão duramente conseguida, foram apanhadas de surpresa. Tendo desmobilizado rapidamente e readaptado a sua economia às exigências da paz, encontraram-se perante o novo inimigo pouco menos que sem defesa, pois na verdade não dispunham de possibilidades reais de se lhe oporem por uma acção séria e eficaz.
Tornou-se então evidente que a política de guerra das nações anglo-saxónicas não fora feliz porque, buscando eliminar um perigo para alcançar a paz, criara, por suas próprias mãos, condições de expansão para outro ainda maior.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - A Alemanha, grande potência do Centro da Europa, foi sempre ao longo da história factor de equilíbrio entre o Ocidente e o Oriente, barreira a vedar ao Eslavo o caminho do Atlântico, impedindo-o de ser completamente europeu. Fazendo ruir essa barreira, eliminou-se o único obstáculo que se opunha ao seu expansionismo e era garantia de segurança do Ocidente.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - É ocioso recordar a par e passo todo o insano esforço que desde então foi preciso desenvolver para, através duma fórmula política, criar a coligação militar capaz de se lhe opor e para sucessivamente a potenciar.
Não fique, no entanto, sem referência o excepcional contributo da grande nação americana, primeiro pelo auxílio económico, destinado a impedir que os países empobrecidos pela guerra se tornassem fácil terreno