ças e a muitas fraudes teria como consequência inevitável unia inundação, que não foi, positivamente, apenas a das águas do Tejo ...

Saibamos conservar as virtudes tradicionais da lavoura, da pequena lavoura, sem se usar demasiado da paciência e da resignação com que ela costuma enfrentar as dificuldades do tempo e dos homens.

Essas virtudes continuam a ser, graças a Deus a melhor couraça contra as investidas do inimigo.

Convenço-me de que, perante a força das realidades e a afirmação de vitalidade e de confiança feita pela lavoura, os seus problemas serão definitivamente resolvidos.

A árvore não cairá, porque o Governo vai dar à raiz o vigor suficiente paru que resista ao vendaval.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador fui muito cumprimentado.

O Sr. Manuel Vaz: - Sr. Presidente: não há dúvida de que, no quadro da economia nacional, a cultura da vinha tem uma grande importância, tanto económica como social, e no da nossa vida agrícola ocupa o segundo lugar em rendimento bruto, logo abaixo da cultura cerealífera.

Não cito números, nem digo percentagens, porque o julgo desnecessário, tanto mais que já me sinto um pouco desnorteado ante as cifras astronómicas até aqui apresentadas pelos ilustres oradores que me antecederam.

O tacto, de resto, é tão conhecido que tomou foros de autêntico axioma, a dispensar qualquer demonstração.

Por esta razão foi que ela conseguiu despertar um tamanho interesse, e é por ela, ainda, que o problema vitivinícola, no momento, atingiu o melindre e a acuidade de que se encontra revestido.

Em verdade, se ele não fora assim tão momentoso, não traria em sobressalto a opinião pública, e a quase inumerável multidão dos pequenos e grandes viticultores nacionais.

Principalmente, são estes últimos, são os grandes viticultores, os que mais se agitam, os que mais clamam, porque os pequenos, por muito habituados a sofrer com crista resignação as habituais injustiças sociais, suo as vítimas sacrificadas aos desvarios e egoísmos dos grandes, que lastimam a ruína dos pobres quando o interesse próprio os comanda.

No momento actual proclama-se, e não sofre dúvidas, estar a viticultura nacional em crise; que há um excedente de vinhos, que os mercados interno e externos são incapazes de absorver.

É a triste realidade.

Mas de quem ë a culpa?

Suponho que de todos um pouco, mas, em particular, da própria viticultura. Quem a mandou plantar tão excessivamente! Porque no decénio de 1940-1900 não houve excedentes, porque neste período ocasiões houve em que somente foi possível abastecer o mercado diminuindo o poder de compra, pela alta de preços, todos à compita desataram a plantar com febril diligência, muito embora eu saiba da existência de quem afirme que as plantações autorizadas não atingiram o nível de equilíbrio correspondente às áreas de 1938 (cerca de 30 por cento).

E como cada um só em si pensava, sem preocupações pela actividade dos outros, plantou-se em larguíssima escala, mau grado as opiniões em contrário. Não se pensou que, se cada um assim procedia, os outros de maneira idêntica actuavam.

Daí, a corrida ao plantio.

Os erros onde se fazem é que se pagam.

Os resultados funestos desta política de plantio estão agora dolorosamente à vista, afora os que o futuro se encarregará de nos mostrar ainda, com um excesso de produção que toda a gente premia, mas de que ninguém se arreceou a tempo, para sustar a corrida.

Às responsabilidades da culpa todos fogem; e eu ia mesmo jurar que quase todos, senão todos, os viticultores portugueses dificilmente se poderão eximir ao doloroso poenitet me das contrições tardias.

Vozes: - Muito bem !

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: parece-me que, neste momento, a averiguação das causas do descalabro já não interessa muito, a não ser como elemento de estudo, na procura de remédios para a cura do mal.

Estamos em face duma realidade, bem dura por sinal.

Temos uma crise de abundância volumosa; temos muito vinho a mais e não sabe a lavoura o que há-de fazer, pelo que apela para o Governo para a salvar.

Na emergência a situação é esta.

E não restam dúvidas de que é assim mesmo.

Nos anais da nossa viticultura o caso não é virgem, o fenómeno não é novo. Já anteriormente se tiveram crises também.

Simplesmente, as de outrora eram cíclicas; as de agora tem todos os indícios de se tornar permanente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Antigamente, a um ou dois anos de boas colheitas seguiam-se um ou dois de colheitas ruins. E se nos primeiros se sentiam algumas dificuldades, vinham as colheitas escassas dos anos seguintes remediar o mal, absorvendo os excedentes dos anos bons.

A natureza encarregava-se de resolver estes problemas, que os homens complicam com as suas intervenções, com o sacrifício dos pequenos vitivinicultores, que tinham vendido os seus vinhos por falta de resistência económica para esperar. Daqui para o futuro só Deus sabe como será.

No momento actual, a solução imediata, de emergência, estaria, e não pode mesmo deixar de estar, num armazenamento dos excedentes, até ao momento de os lançar no mercado, com o respectivo financiamento.

Para armazenar é preciso dispor de adegas e vasilhas; para o financiamento, dinheiro e crédito, não só para adquirir aqueles excedentes - e talvez os que se lhes vão seguir- como paia as adegas e vasilhame.

E a lavoura não tem, em geral, nem adegas nem vasilhas para mais de uma colheita.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Também não tem dinheiro e o crédito de que dispõe não é muito e é caro.

Vozes: - Muito bem!