Entre nós é também oficial e tecnicamente defendida, como do próprio Decreto n.º 38 035 se pode claramente verificar e de muitos outros diplomas legais.

A política da quantidade, em prejuízo da qualidade, acredito que nenhum viticultor digno deste nome a defenderá. Confio essa missão aos mixordeiros.

As questões dos preços de venda dos vinhos, engarrafados ou não, dos transportes e outras também não vou referir-me, como deixo em claro o problema do plantio fantástico, astronómico, ultimamente efectuado, e ponho de parte as medidas de emergência adoptadas e a adoptar pelo Governo para debelar a crise, porque já aqui foram proficientemente tratadas. Por isso vou referir-me apenas a um problema dos que, embora já abordados, julgo merecer mais amplo desenvolvimento, circunscrevendo-o ao vinho generoso da região demarcada do Douro, o célebre, o famoso, no plano universal, vinho do Porto, único pela excelência das suas qualidades organolépticas, embora as minhas considerações, na generalidade, aproveitem aos nossos vinhos de mesa de qualidade.

Devo previamente declarar que não sou viticultor no , Douro e nem talvez mesmo me possa considerar um produtor de vinhos comuns, tão escassa é a minha produção. Estou, por isso, perfeitamente à vontade para encarar o problema com serena objectividade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: o vinho do Porto é uma riqueza. Esta não é apenas do Douro, mas também da Nação.

Bastará recordar que em tempos, não muito distantes ainda, ele ocupava, na escala dos nossos valores de exportação, o lugar proeminente de comando.

Mesmo agora, se não estou em erro, ele ocupa o terceiro lugar dessa escala, num valor superior a 300 000 contos anuais (média do último quinquénio 326000 contos). O equilíbrio económico de todas as regiões do País depende, fundamentalmente, da exportação do vinho do Porto.

Portanto, o problema tem de equacionar-se no plano nacional, que não regional. Encará-lo sob outro aspecto, ou seria cegueira de bairrismo, ou falta de patriotismo. O declínio da exportação entre o período de 1935-1940 e o de 1946-1953 representa, só em aguardentes do Sul, cerca de 50 000 pipas de vinho.

Este um dos dados do problema.

Ao meu espírito causou funda impressão e dolorosas apreensões o verificar a baixa constante das nossas exportações, que parecem tender agora para a estabilização, mas num nível muito baixo, inferior em quase 50 por cento à média do triénio anterior à última 'guerra mundial, ou seja de 1936-1939.

Neste a média da exportação foi de mais de 42 milhões de litros.

No período posterior à guerra, isto é, de 1946-1951, a média foi de pouco mais de 24 milhões (1936-1939 42 154 000 l e 1946-1951 24 347 833 1). Perdoem a citação destes números, mas não pude evitá-los.

Este o segundo dado do problema.

E perguntei a mim mesmo: qual será a causa do fenómeno da baixa?

Será que o vinho do Porto tenha perdido alguma ou todas as suas, muito de longe, superiores qualidades organolépticas?

Ainda ninguém se atreveu a negar-lhas, cá dentro ou lá fora. E o vinho do Porto é até a bebida da moda em todo o Mundo e principalmente na França.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Em Portugal é pouco, talvez por causa do preço ... do preço no retalhista.

O Orador: - Sim, do preço no retalhista e por outras razões.

Será porventura que a mudança dos hábitos de certos países o não permita beber e ainda por ser uma bebida cara?

Os serviços da nossa Embaixada em Londres dizem que em parte essa é uma das causas do declínio da exportação para a Grã-Bretanha, como se vê de unia informação do nosso adido comercial junto daquela Embaixada que tenho em meu poder.

O Instituto do Vinho do Porto parece concordar com esta explicação.

Por mim não concordo, e julgo até que ela serve apenas para lançar poeira aos olhos dos incautos e paru iludir a ineficiência de determinados serviços públicos.

Se essa fosse a razão, era lógico inferir-se que, na medida em que a Inglaterra se fosse recuperando, as exportações do vinho do Porto entrassem em gradual inflação. Os hábitos não se perdem facilmente e passam de velhos a novos pelas leis da tradição.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Ora tal não aconteceu, como melhor se vê pelo mapa seguinte, entre 1935 e 1940, em que andavam à roda dos 20 e poucos milhões de litros:

litros

Veio a guerra e as calamidades que assolaram o Mundo; mas, acabada ela, o Mundo retoma o caminho da normalidade - penosamente, embora. Recomeçam as exportações, quase praticamente extintas. E assim se nos apresenta o respectivo quadro, que nos mostra a média de pouco mais de 8000 0001 entre 1946 e 1953:

Os últimos dois números, referentes a 1952 e 1953, são elucidativos e, por si sós, destroem toda a força justificativa que o argumento da pobreza inglesa porventura pudesse ter.

O Sr. José Sarmento: - V. Ex.ª refere-se à exportação para Inglaterra ou à exportação total?

O Orador: - Estou a referir-me à exportação para Inglaterra.

É precisamente nos dois anos em que a recuperação económica e financeira da Inglaterra mais se acentua que maior é a depressão das exportações.

A razão dessa quebra deve ser outra.

Muita gente tem a impressão de que o vinho do Porto, por ser caro -há-de sê-lo sempre, em razão dos seus elevados custos de produção e beneficiação, que em alguns anos superaram o preço dos próprios mostos-, só era bebido em Inglaterra pelas classes elevadas da população - um público relativamente pequeno. Mas não é