Sr. Presidente: sempre tenho entendido que não convém a esta Assembleia entrar em pormenores demasiados nas questões que se debatem. Igualmente, não é a técnica, no sentido de especialização que a expressão vem tomando, que interessa fundamentalmente, e nem sequer predominantemente, conhecer, focar e discutir aqui.

Assembleia de feição essencialmente política, de fiscalização e de crítica, deve interessar-lhe, salvo o respeito por melhor opinião, o problema geral, equacionado em plano político.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Assim, será mais prestante a sua colaboração e, porventura, mais isenta do prejuízo possível de estabelecer em plano técnico normas ou directrizes de que os organismos técnicos venham, porventura, a discordar com razões que a concepção política pode não ter apreciado, e nem sequer descoberto ou sugerido. Lembro-me de que aqui deveremos ser políticos e não técnicos. Parece-me ser o que claramente deriva da nossa contextura constitucional.

or isso me coloquei neste plano de generalidade, e, se citei alguns números e dados, não foi senão na medida em que os julguei necessários, ou, pelo menos, vantajosos à compreensão das ideias que expus.

Vou terminar, com o voto de que o presente aviso prévio, que em hora própria o nosso ilustre colega e meu bom amigo Sr. Deputado Paulo Cancella fie Abreu realizou, seja o início decidido de uma política vitivinícola justa, e para tal diferenciada, forte e protectora no plano que deve ser traçado, severa na repressão dos desvios e das fraudes, respeitadora, ainda, dos justos privilégios em atenção a designações geográficas de origem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por mim, e, particularmente, em relação ao Douro, confio em que, quase cinquenta anos volvidos sobre uma ressurreição iniciada, mas logo detida por negro e doloroso acontecimento da nossa história, possamos aclamar o início de uma nova ressurreição, que de há muito justificadamente se espera.

Daqui peço à gente do Douro que confie em melhores horas, por certo ansiosamente aguardadas, e entrego essa confiança, Sr. Presidente, nas mãos do Governo.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Alberto de Araújo: - Sr. Presidente: o aviso prévio do Sr. Dr. Paulo Cancella de Abreu suscitou um debate generalizado e serviu de pretexto para tratar não só da questão do plantio da vinha e das suas restrições, mas também para aflorar todos os problemas que mais directamente interessam à produção e ao comércio de vinhos em geral e, por sua natureza, conexos e interdependentes.

Não basta realmente produzir. É necessário encontrar escoamento para a produção, e se há vinhos que têm o seu principal mercado consumidor no próprio país, outros têm a sua economia na dependência directa dos mercados externos.

Temos assistido nesta Câmara e nestes dias ao elogio caloroso das qualidades e do valor do vinho do Porto. Quero muito gostosamente associar-me a tudo aquilo que na Assembleia Nacional se tem dito com tanto brilho e sinceridade em louvor do vinho do Porto e prestar homenagem a todos os que estão a ele mais directamente ligados, desde o humilde e incansável obreiro da terra aos que persistentemente lutam e se esforçam por fazê-lo readquirir a sua, grandeza no quadro dos maiores valores da nossa exportação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, como madeirense, incumbe-me lembrar que ao lado do vinho do Porto um outro vinho português, oriundo duma região igualmente fecunda e laboriosa, se coloca entre os melhores vinhos generosos do Mundo: o vinho da Madeira.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Merçê de uma prestimosa colaboração do Instituto Nacional de Estatística, que me cumpre agradecer, é-me possível apresentar um quadro da exportação dos vinhos portugueses nos últimos cinco anos comparativamente com a exportação dos cinco anos que precederam a última guerra mundial.