legal de uma organização que possa assegurar a defesa da República ameaçada, suprindo as deficiências e acudindo à frouxidão e às imprudências do Poder.

Assim ficaria montada a engrenagem mortífera. E, posta a rodar, o tempo faria o resto. Fariam o resto a agitação e a confusão dos espíritos; as lutas e paixões desencadeadas; a exploração, a intriga e o boato; as desavenças e divisões no seio da Situação e da família nacionalista; o descrédito e rebaixamento do Poder. Com a sua fachada legal, com a sua organização, a sua rede de ligações e os seus cordelinhos, lá estaria a «Causa» para favorecer a liberdade de movimentos, para assegurar melhor eficiência de acção e de comando, para garantir, em suma, o êxito da manobra.

O que até aqui se não conseguiu no ataque frontal, apesar das sucessivas investidas - a subversão do Estado Nacional -, poderia muito bem conseguir-se, assim, pela manobra oblíqua.

E não se cuide que fantasio, que desfiguro ou, sequer, que ex agero. Tudo quanto denunciei, todas as peças mestras da engrenagem subversivo, estão bem à vista na nota da «Causa». E estão bem à vista porque é isso mesmo que interessa, porque é isso mesmo que a nota pretende, para pôr u engrenagem em movimento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Lá está, em todos os tons, o pregão inflamado da República em perigo. Destaco estas passagens: os monárquicos para s preparar a restauração do regime monárquico ... elevando às posições de mando ... os seus elementos de destaque», «atacando acriminosamente as instituições republicanas e os seus homens mais eminentes», sa ampla, progressiva e perigosa actuação desenvolvida pela Causa Monárquica através do País», «as repetidas afirmações públicas de estar próxima qualquer tentativa de restauração do regime deposto em 5 de Outubro de 1910».

Lá está, denunciada com insistência particular, a culpa, a conivência (e não sei se se pretende insinuar mais) da política e das autoridades da Situação. Porque se os monárquicos estão nas posições de mando, cito outra vez à letra, sé com o beneplácito governamental», se manobram em plena liberdade, é a até com o apoio da autoridade».

Mais: «a favorecer esta actuação (a dos monárquicos) concorre a circu nstância de a própria situação política vigente ir buscar, com frequência, à Causa Monárquica, nas suas investidas contra os republicanos, motivos de apoio e fortalecimento dos seus próprios planos de ataque, daí resultando, incontroversamente, o serem as novas gerações mantidas na ignorância das verdadeiras causas que determinaram o advento da República, das intenções patrióticas dos seus precursores e dos seus fundadores, do esforço honesto dos seus estadistas, por tudo as ter incapacitado de se inteirarem da verdade e da justiça».

E ainda, numa grande afirmação dos altos sentimentos de liberdade e de tolerância que reinam para aquelas liberalíssimas bandas da política, se estranha que «num estado republicano», sa um professor universitário e já posteriormente a um general da reserva», se tenha permitido «desempenhar ostensivamente as funções de lugar-tenência do pretendente à coroa».

Lá está, repetidamente, o apelo angustiado à união de todo» os republicano portas á perturbação, ao dissídio, ao referver das paixões e ao tumulto das lutas. Não é também só pôr ainda em risco uma obra reconstrutiva que tem custado muitos trabalhos e sacrifícios e se projecta como uma das horas mais altas da nossa história. É, ainda mais, para o Poder aceitar uma imputação injusta e um juízo humilhante.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -E eu pergunto, agora, com serenidade, mas também com o sentimento claro da gravidade desta pergunta: pode um Governo digno, com a noção do respeito que deve a si próprio e ao País; pode um Governo consciente da alta dignidade da sua missão, guardião da honra e dos interesses da cidade, supremo representante e supremo servidor do bem comum, consentir na realização desta iniciativa?

E pode, sem que isso seja «deixar cair o Poder no meio da rua»? Sem que isso represente a abdicação da autoridade, a demissão do Poder?

Deixo a pergunta a cada um e que cada um responda com o perfeito sentimento das suas responsabilidades de homem e de português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E agora, para finalizar, algumas palavras que eu quero proferir e que me parecem da maior importância e vão dirigidas aos servidores, a todos os servidores do Movimento Nacional.

O maior perigo que poderia ter esta questão, o resultado que certamente entraria nos cálculos de quem a promoveu e que é preciso evitar, é que nos desentendamos, que entre nós se levante a desconfiança e a cizânia - é que nos dividamos..

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E preciso que se esclareça e se defina bem, em termos claros e límpidos, o profundo sentido da nossa unidade e o alto propósito da nossa colaboração. Assim, ficaremos nós irais seguros. Assim, tentaremos fazer compreender os outros. Não será fácil, porque eles, nos estreitos horizontes dos suas visões partidárias, alheios às altas preocupações duma política de princípios e verdadeiramente nacional, pervertidos pelos hábitos mesquinhos do partidarismo e da politiquice de manhas e compadrios, mal poderão entender as nossas razões e os nossos objectivos. Ainda assim, tentemos.

Estamos aqui monárquicos, republicanos e indiferentes a formas de governo.

Numa hora grave da vida nacional, quando agudos problemas internos e a inquietação dramática da vida internacional enchiam de sombras e de apreensivas interrogações a existência e o futuro da Pátria, decidimos, sem abdicações do que a cada um era próprio, darmo-nos firmemente as mãos e ligar o nosso destino