E por isso, em conclusão, para já, é só suspender por período não inferior a uma década, toda e qualquer plantação, ou então, apenas, quando muito, permitir a retancha do que for morrendo e nada mais.

Os próximos anos terminados em 3 e 4 dar-nos-ão ideia do que foi a subiria de nível. Se assim se proceder não deverá haver receio de maiores desequilíbrios, pois o míldio e o oídio e a Primavera irregular e o próprio cansaço da cepa farão o resto restabelecendo, de novo, as possibilidades de existência da grei rural.

O Sr. Proença Duarte: - V. Ex.ª não aceita sequer o princípio da reconstituirão u da transferência das vinhas?

O Orador: - Eu tenho muito receio dessas transferências no domínio da viticultura, pois elas redundaram numa forma de passar a vinha de um local onde o produto não via de uma qualidade apreciável para outro local onde ela é superior. Mas a forma como foi feita deu um acréscimo de produção, o que nós não devemos querer, mas sim melhorar a qualidade. Não vejo qualquer vantagem em autorizar mais transferências.

O Sr. Carlos Borges: - Mas a reconstituição não é uma transferência. Uma vinha velha arrancada e que se torna a plantar não é uma transferência.

O Orador: - Mas eu não estava a referir-me à reconstituição, mas às transferências. Uma reconstituição é uma retancha ampliada.

Tomemos, entretanto, outras medidas criadoras, mas bem pensadas, que venham corrigir erros passados e assim dar melhores condições de existência à nossa viticultura. E, quanto a essas directrizes, enunciemos, apenas, os principais capítulos em que as devemos incluir.

Em primeiro lugar uma referência ao do vinho, que ocupa, desde há muito, a posição dominante na escala de valores da nossa economia - o do Douro se na designação quisermos mencionar a região que o produz, ou o do Porto, se desejarmos referir a cidade que lho deu o renome mundial. E por sinal, por ser do Porto, tem dado, infelizmente, razões, embora fracas, para justificar toda a gama de fraudes dos vários portos dos vários continentes.

Mas continuemos. Para este néctar não poderá deixar de se aconselhar uma política, dentro da futura corporação do vinho, de defesa extrema da qualidade - da qualidade deste verdadeiro príncipe da qualidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E, para tal, nada falta hoje para definir com rigor as fronteiras desta verdadeira magia enológica.

Talvez se encontrem, de facto, até na própria vegetação espontânea dos mortórios, testemunhas, que sejam guias esclarecidos, para a colocação definitiva dos marcos. E é possível que não se afaste muito do que já foi definido na época pombalina. Depois, há que perguntar à rotina:

Qual a aguardente que com ele convém casar - a do virgem ou a colhida em terra mais fértil, em clima de igual ardência, embora de outras paragens? E não esquecer, para orientar destinos futuros, que, ainda há pouco, mestre sul-africano, escolhendo castas, procurando solos igualmente xistosos e topografia semelhantemente infernal, apenas conseguiu, num vale da Sul-África, e em clima da mesma têmpera, uma baixa zurrapa.

O que faltava: Apenas tudo o que Faz parte, desde o meio à levedura, deste complexo fabrico a que chamei, pelo mundo do desconhecido, indefinível magia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Procedendo assim cá na terra, há depois que valorizar, no merendo externo, este iniciar. Nus mercados externos tradicionais, mantendo o que o gosto fixou como única verdade, e apenas será de solicitar que se beba bastante mais, como contrapartida do que lá se cumpra, que é ainda muito mais do que para lá se vende.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E para tal será necessária baixa substancial de direitos ou qualquer outro artifício para conseguir o desejado fim.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E não esqueçamos também que é dos órgãos corporativos do Douro que deverão sair os cérebros para tão difíceis negociações. De resto, é esta a política que julgo de harmonia com a individualidade que, em dia que julgamos próximo, deverá ter a desejada corporação do vinho.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

(.) Orador: - Mas ainda mais: é necessário pesquisar novos e grandes mercados para o vinho do Porto. Então é de ver onde se acumula hoje o dinheiro e procurar saber, lá, como querem e o que querem beber, já que é muito moroso e caro ensinar a beber, pelo nosso paladar, quem está habituado a outros sabores.

Mas mesmo assim será, decerto, possível conciliar o que lá desejam com o que não faz mal que se produza, sem ofender, é claro, a dignidade da estirpe. Talvez então se caminhe, pelo menos pura esses mercados, no sentido de dar ao virgem um benefício tendendo mais para o seco.

Assim se evitará muita queima em pura perda. Serão ainda os técnicos durienses da produção, do fabrico e do comércio que deverão dizer, contudo, a última palavra.

Continuemos, porém, na nossa caminhada e sigamos agora para o Sul. Mas não deixemos de dizer algo quanto ao precioso verde. Em primeiro lugar, que se evite abastar o gosto do Minhoto com vinhos que não foram tradicionalmente de seu hábito beber.

Vozes: - Muito bem!

Não se deixe também de manter no Minho essas castas tradicionais que deram vinhos tão apreciados nos mercados de além-Atlântico. E para fabricar melhores qualidades vendáveis, siga-se a corrente corporativa, que já está hoje tão em uso nessas paragens nortenhas, embora em outros domínios.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas continuemos a nossa viagem para o Sul, pelas Beiras, até à península estremenha: teremos aí que aproveitar o que as montanhas graníticas, xistosas ou calcárias dão de mais nobre, definindo regiões