Paulo Cancella de Abreu, tomei-as eu para uni dos meus modelos desde que entrei nesta Casa, pois V. Ex.ª, herdeiro desse nome de boas tradições e ligações políticas, que com seus irmãos só tem exaltado, figura destacada duma corrente de ideias para que vão l min s as minhas simpatias, tem-me seduzido sempre pela elevação das suas atitudes e pela galhardia com que as mantém.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que diria a Maria Parda, se hoje vivesse, de certos vinhos do Porto que encontraria agora por aí nos botequins da sua natural frequentação? Aceitaríamos que daqui a quatro séculos isso caísse como labéu sobre tilo magnifico produto?

Não, eu tenho melhor, e até mais antigo que a Maria Parda, para recordar créditos dos vinhos de Santarém.

Vai o tempo adiantadíssimo para que eu leia todo um molho de citações que coligi, mas que se me aceite em exemplo só este passo da carta de el-rei D. Fernando aos do concelho de Santarém, datada de 18 de Fevereiro de 1364: «... sendo os vossos vinhos muitos e dos melhores que há ...».

O Sr. Daniel Barbosa: - Sou das pessoas pouco conhecedoras do assunto, mas que acreditam que há óptimo vinho no Ribatejo. Ora, pela mesma razão com que V. Ex.ª não quereria que se pensasse mal dos vinhos do Ribatejo que são falsificados, também V. Ex.ª não pode citar como argumento contra u vinho do Porto alguns vinhos falsificados.

O Orador: - Eu não falei em vinhos falsificados: aludi a vinhos medíocres de preço mais baixo. E o argumento só me servia em demonstração por absurdo.

Vozes: - Isso não é argumento.

Aos autores das três memórias premiadas pela Academia Real das Ciências entre 1788 e 1790 sobre a cultura das vinhas e sobre os vinhos não escapou também citarem abundantemente, como bons exemplos, as práticas e os produtos da Chamusca.

É agora queiram VV. Ex.(tm) contemplar essas ilustrações, que passo às vossas má os e que porão o ponto final e o pitoresco nesta exposição. São caricaturas de há pouco mais de cem anos, dirigidas cernira certo político destacado da época, que, para os seus adversários, tinha o defeito de gostar de vinho.

Vozes: - Defeito não, virtude.

O Orador: - Defeito, porque abusava. Mas vejam, vejam de que vinhos diziam que ele abusava e em que rara e ilustre companhia de ambas as vezes o caricaturista figurou os do Ribatejo.

Isto serve para demonstrar que os vinhos do Ribatejo também têm tradição histórica.

Vou concluir. Não quero deixar de exprimir a minha concordância na generalidade, o meu apreço pela forma como foi posto este aviso previu e o meu convencimento da sua oportunidade.

Mas peço ao Sr. Deputado avisante que no fim deste debate, em que se têm esquecido um tanto as muitas noções modernas sobre produtividade, nos esclareça sobre como, em seu entender, se pode conciliar a necessidade de fazer aumentar o consumo do vinho, tão geralmente reconhecida, com a exigência do direito de o produzir caro.

Tenho dito.

Vozes : - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

Vozes : - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: hesitei em intervir na discussão da matéria deste aviso prévio por verificar, desde o início, que se haviam inscrito numerosos e ilustres colegas, de sorte que o assunto seria certamente debatido com largueza suficiente e a Assembleia ficaria habilitada com elementos bastantes para apresentar ao Governo as suas sugestões. E de agradecer n atitude do Sr. Ministro da Economia anunciando que elas serão ponderadas em conjunto com as providencio s tendentes a solucionar a crise vinícola e que estão a ser estudadas pela comissão pura esse fim nomeada.

Receando, porém, que o meu silêncio pudesse ser interpretado como significando menos interesse por uma causa que tanto aflige a lavoura, cujos problemas eu sinto, não só como técnico e lavrador, mas ainda como presidente dum município rural que sempre tem vivido com a boa gente dos campos, receando, digo, ser acusado de não cumprir devidamente o mandato, subi a esta tribuna para me associar aos notáveis oradores que me precederam.

Não faltará quem entenda que num estado corporativo a solução dos problemas desta natureza deve ser encontrada de preferência no seio dos organismos onde estão representadas, disciplinadas e coordenadas todas as actividades intervenientes no ciclo económico do produto em questão. Não faltará quem acrescente: mal vai quando assim não seja; estará então em causa o prestígio dos organismos corporativos competentes e até o prestígio da própria organização corporativa, ou, melhor, por enquanto, pré-corporativa!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sou daqueles que entendem que os interessados devem estudar os seus problemas e o seu autorizado depoimento deve servir de conselho junto do Governo, embora possam prevalecer ponderosas razões de ordem política ou social, princípios de política geral (pie nos cumpre definir.

O Governo - supremo árbitro - tudo considerará na resolução a tomar com vistas ao bem comum. Sr. Presidente: o assunto do aviso prévio é para mim duplamente delicado, em virtude da formação agrária