Talvez desta circunstância houvesse que tirar conclusões ou aproveitar da experiência ... Mas deixemos isso para mais adiante.

E voltemos ao mercado do vinho.

Estava eu a dizer que, quando se iniciou a construção corporativa, vivia a vinicultura uma crise acentuada, e grave. Pois bem se no campo do plantio se tomaram as medidas que referi, paralelamente houve que estabelecer uma política harmónica e concertada no domínio do mercado de vinhos, definir um modelo de equilíbrio e procurar, por meios directos e indirectos, defendê-lo, assegurando à vinicultura uma estabilidade relativa das suas receitas.

Essa estabilidade - não haja dúvidas - foi, em grande parte, conseguida mercê da organização, e situa-se, entre 1934 e 1940, à volta dos 540 000 contos, em escudos de 1927.

E conseguiu-se bloqueando os excedentes das campanhas abundantemente pela imposição de existências obrigatórias ao comércio, concessão de financiamentos aos produtores e das compras da própria organização. Assim se imobilizaram excedentes que atingiram cerca de 780 000 pipas, das quais a organização chegou a acumular perto de 450 000.

Esse equilíbrio assentou, pois, no diferimento da entrega ao consumo dos excessos de produção dos anos bons, na regularização da oferta e no desgaste de uma média de 70 000 pipas de vinho durante aquele período, escoadas através do benefício de vinho do Porto, desgaste que chegou a atingir, em 1937, mais de 160 000 pipas.

Não cuido agora de saber se este esquema de equilíbrio e regularização teria sido o melhor para todas as regiões, se a todas defendia igualmente ou se continha, porventura, vícios e erros, de forma e de fundo, mas apenas de reconhecer a sua existência a apreciar os seus resultados globais.

E não podem restar dúvidas de que o balanço foi favorável, tão favorável quanto podia esperar-se, a menos que tenha excedido as próprias expectativas.

Vozes: - Muito bem!

indecisão, muito tempo de adormecimento e não pinica falta de previsão.

Quer dizer: de há muito vinha alterando-se, lenta mas persistentemente, o sistema de regularização que se havia instituído, sem que se cuidasse de definir outro e de preparar os meios para lhe assegurar a viabilidade técnica e prática.

Ah! Saudosos tempos em que se acreditava na organização. Saudosos e longínquos ...

Mas, Sr. Presidente, propus-me comparar, fazer o paralelo entre os dois últimos decénios, evidenciar as diferenças para melhor e para pior: analisar a situação económica da vinicultura.

Comecemos por observar a evolução dos preços do vinho, depois de reduzidos a uma mesmo unidade monetária para efeitos de tornar possível uma comparação válida, não só entre os vários anos ou períodos, mas também com os outros produtos agrícolas.

Pois bem: do primeiro decénio para o segundo o preço médio ponderado aumenta de 10 por cento ou, considerando só os últimos oito anos de 30 por cento.

A tendência dos preços unitários de venda pelo produtor ao longo dos latinos vinte e cinco anos é, contrariamente ao verificado com todos os outros produtos agrícolas e com os preços do vinho noutros poises, crescente, lenta mas firmemente ascensional.

Mais: no último decénio os preços praticados situa-se normalmente acima da linha de tendência, enquanto no anterior ocorrera precisamente o contrário - contraprova da afirmada elevação de 15 a 30 por cento dos preços unitários.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - V. Ex.ª considere a ascensão do custo da produção em relação à cultura da vinha. Isso é o que mais interessa; tanto ou mais do que a subida do preço do vinho.

O Orador: - Eu sou agrónomo e não considero o custo de produção para além de uma indicação relativa. Os rendimentos são tão variáveis, a sua dispersão é tanta, que tornam o custo de produção, em certa medida, uma noção teórica. Acredito mais nas relações de preços com que habitualmente se trabalha e procede e ao lavrador mais interessa.

De resto, essas relações integram as variações havidas nos factores de produção.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - V. Ex.ª acha que mesmo o pequeno lavrador não atende ao custo da produção? Coitado dele se o não fizer.

O Orador: - Todo o lavrador atende mais às relações de preços. O custo de produção, variando de área para área e de ano para ano, conforme as condições climáticas, de exploração para exploração, etc., em terrenos médios, é muito menos significativo do que as relações tradicionais entre os preços dos vários produtos da terra.

O Sr. Daniel Barbosa: - Por exemplo: um lavrador tem, realmente, no fim do ano uma ideia mais ou menos perfeita de quanto lhe custa a produção do seu vinho. Isto é nina ideia perfeitamente objectiva.

O Orador: - V. Ex.ª tem no Douro, prática mente, a monocultura. Ora o custo de produção tem uma significação maior quando se refere a uma dada exploração, e tanto mais quanto menor for a validade das culturas.

O Sr. Daniel Barbosa: - No Douro é possível chegar ao fim do ano e saber-se quanto custou a produção. E no Minho, onde eu sou lavrador, sucede o mesmo.

O Orador: - Sabe quanto gastou, mas não conhece o custo de produção.

O Sr. Carlos Borges: - O pequeno lavrador não tem uma escrita montada, mas sabe muito bem quanto lhe custam os seus produtos.

O Orador: - Eu estou a dizer que, em face da grande variação dos custos de uma zona para outra, em con-