sequência da variedade das explorações e das dispersão dos rendimentos, lhe retira em a parte uma significação genérica. Não discuto que no fim do ano não saiba quanto gastou ...

A comparação com os preços de outros produtos agrícolas não é menos significativa pela alteração das relações normais de valor entre eles e o vinho.

Assim, as relações entre os preços do trigo, milho e azeito e do vinho decrescem, dos primeiros para o segundo, respectivamente, 23, 12 e 34 por cento. Se. porém, nos reportarmos apenas aos seis anos que imediatamente antecederam a guerra e a igual período a partir de L947, acontece que aquelas relações decrescem, pela mesma ordem, 32, 24 e 37 por cento.

Daqui duas conclusões igualmente significativas, mas de expressão bem diferente: os preços do vinho cresciam relativamente aos dos outros artigos em consequência do aumento absoluto dos preços deste e do decréscimo, igualmente absoluto, dos preços da generalidade dos outros produtos agrícola s, excluídos, porém, os silvícolas.

Poder-se-á inferir desta situação que se possa, com realidade, falar de crise de sobreprodução de vinho, quando nós não limitamos a comparar anos excepcionais por excesso ou defeito?

Exprimindo o preço uma relação, um nível de equilíbrio entre as quantidades oferecidas e procuradas, não haverá forçosamente que se reconhecer que a vinicultura viveu no último decénio numa situação que não tem paralelo com o anterior nem, porventura, com outra década próxima?

Se dos preços unitários passarmos às receitas percebidas pela vinicultura anualmente, miaremos a encontrar os mesmos reflexos, acrescidos aiaida pelo aumento de produção ocorrido.

Efectivamente, a tendência das receitas da vinicultura é significativa ascensional. E, não obstante, no último decénio os valores verificados situam-se normalmente acima da tendência, enquanto no anterior, exactamente como acontece tom os preços unitários, ocorre aproximadamente o espeita à tendência dos preços e à evolução das receitas, que se traduz por uma proporcionalização conveniente dos preços em relação às produções.

A tendência desta função é, pois, lujrú-niueiiie, as-oeiidente com a redução dos produções ou decrescente com o seu aumento.

Mas deve ainda notar-se que de 1931, a 1940 só os preços verificados um 1930 se situam acima da regressão, enquanto de 1941 para cá todos, sem excepção, incluindo os de 1954, foram superiores à relação normal.

Temos assim de concluir que o nível de preços do vinho do último decénio se afastou, por acréscimo, daquele que resultaria das produções registadas, ou, o que é o mesmo, qualquer aumento de produção havido do período anterior paru este não se fez acompanhar de uma descida paralela de preços.

A relação entre a produção e o consumo traduziu-se, pois, do último decénio por um equilíbrio superior ao verificado na década antecedente.

Também o estudo do consumo em função da população continua a conclusão anteriormente tirada: a intensidade da força do consumo é superior às quantidades produzidas em termos de médias que compensem as pontas de boas e mós produções.

Mais: a tendência do consumo em função do aumento populacional mostra-se vincadamente decrescente, a ponto de, em raciocínio por absurdo, se dever concluir que, dentro do ritmo actual, seria pràticamente não quando a população fosse pouco «interior a três vezes a actual.

E deve referir-se que acima da tendência apenas se situam os consumos efectivos dos anos de colheitas abundantes. Na maioria dos anos, portanto, o consumo efectivo foi ainda inferior àquele que a relação determinava.

Cabe, porém, acentuar que a marcada tendência para a redução dos consumos per capita traduz, não só uma insuficiência da produção, como exprime uma incontestável e gravíssima redução do puder de compra das populações rurais - consumidoras, talvez, de dois terços do vinho consu mido anualmente.

A simples observação confirma esta conclusão, tanto como igual reflexão se extrai, naturalmente, da escassa participação dessa massa populacional no rendimento nacional.

Sr. Presidente: da apreciação conjunta de todos os elementos analisados é lícito tirar uma conclusão, que a muitos parecerá estranha, mas a que todos os aspectos estudados nos conduzem inequivocamente: estamos claramente perante um mercado não saturado. Exactamente o contrário do que acontece com todos os outros países vitícolas. E estamos em situação de mercado não saturado até porque a um aumento de produção, mesmo dos maiores verificados, não corresponde, nem correspondeu nunca, nos últimos vinte anos, uma quebra vertiginosa dos preços, uma redução mais que proporcional dos preços, e, consequentemente, a vinicultura recebe sempre mais quando tem uma boa colheita do que quando esta é má.

O Sr. Carlos Moreira : - Conforme.

O Orador: - V. Ex.ª já fez as contas?

O Sr. Carlos Moreira: - Eu suponho que até o mais modesto dos vinicultures as faz.

O Orador: - Eu não disse que os unos bons são mais compensadores do que os anos maus, mas disse apenas que os lavradores recebiam pula venda da sua colheita mais dinheiro nos anos bons do que nos maus.

O Sr. Manuel Vaz: -- Se isso é verdade, como se explica a queixa de muitos vinicultures?

O Orador: - Pela descida dos preços - o que não obsta a que acabem por receber mais dinheiro nos anos bons fora da crise.

O Sr. Cortês Pinto: - Eu lembro a V. Ex.ª que as queixas dos vinicultores provêm do facto de saberem por si como as coisas se passam, senão não tinham conhecimento do fenómeno geral.