não têm pau, porque a natureza tem muita força contra os artificialismos, e na economia, como no domínio militar, as fortalezas foram inexpugnáveis noutras épocas; hoje todas caem quando còmodamente nos instalamos nelas e ... aí adormecemos.

O Sr. Melo Machado: - V. Ex.ª dá-me licença?

Ninguém pretende ser estático quando pede a suspensão do plantio da vinha. O que se deseja é a suspensão, por agora, desse plantio até se ver qual o caminho a seguir.

O Orador: - Não acusei V. Ex.ª dessa intenção ... E quanto à suspensão do plantio, V. Ex.ª verá que não vou muito fora desse ponto de vista.

Vistas as coisas assim, talvez muitas críticas feitas aqui às leis de condicionamento e a sua execução, críticas que noutra conjuntura poderiam ser igualmente vivas, não sejam inteiramente justificadas e seriam certamente mais procedentes e certeiras se, em vez de visarem reflexos, se dirigissem às causas, às circunstâncias, ao próprio condicionalismo que a política de condicionamento criou e a saudosa organização assegurou, enquanto nos outros sectores a rendabilidade se reduzia dia após dia.

E, bem vistas as coisas, talvez a política de condicionamento não seja só responsável pela melhoria evidente e indiscutível da vinicultura nos últimos quinze anos, talvez tenha contribuído, como lhe incumbia, para melhorar a qualidade das nossas massas vinárias, para promover o desvio relativo dos vinhos para os locais mais apropriados, para restringir e para prosseguir uma política de valorização das terras pobres e melhoria das qualidades dos nossos vinhos.

Vozes: - Muito bem!

paciência de V. Ex.ª e da Câmara.

Não apoiados.

Só tenho que pedir desculpa, pois nem o que disse me serve de atenuante, sem o muito que desejaria ainda ter dito e não disse chega para o perdão, perdão e não legalização.

Se alguma conclusão me é lícito tirar de tudo o que disse ela será a de que não está provado que os factos apresentem si gravidade que a invocação de milhões de repas pareceriam emprestar-lhe, nem se pode proceder, nesta matéria, com precipitação que a exaltação decorrente das dificuldades sentidas pela vinicultura nesta campanha naturalmente criou, não se pode actuar, neste campo, sob impulsos do sentimento criado, mas apenas depois de cuidadosa análise, aturado estudo e serena reflexão.

Os vaivéns são sempre tão perigosos como a dormência. A natureza tem as suas leis, as plantas a sua vida e os homens as suas exigências. Conciliar tudo: eis o problema. Não considerar a vinicultura uma ilha isolada ou uma cidadela inexpugnável: eis o que é indispensável para que não haja surpresas nem desilusões ... eis o que é prudente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Depois de tudo isto não estou aqui a defender o plantio nem a discordar da sua suspensão - a política, a conjuntura política, tem as suas exigências, a que é mister atender. Contanto que não se vá aos extremos, contanto que se aproveite um limitado tempo de defeso para estudar e reflectir, compreendo que não se autorizem novas plantações.

É prudente e sensato. Se me coubesse a mim decidir, talvez procedesse assim, não só por me parecer mau princípio ignorar as exigências da política, como desconhecer as realidades da vida económica e menosprezar a força da natureza.

Sr. Presidente: há ainda uma palavra que queria deixar aqui. Pediu a lavoura a criação da corporação do vinho. Sem desejar entrar no campo dos problemas postos pela paralisação do nosso corporativismo, não posso deixar de acentuar que, sem unidade superior de intervenção no mercado, sem tornar a Junta Nacional do Vinho nacional, respeitando, embora, respeitando até talvez mais, o particularismo, a diferenciação local e dando mais vida à organização regional, não é possível reencontrar um equilíbrio nem substituir o volante de desgaste que o Douro durante anos constituiu, nem encontrar soluções satisfatórias para valorizar a qualidade, coisa que exige o desgaste diário da quantidade.

Bem avisado andaria o Governo se reconhecesse que não se pode persistir numa mesma política, política baseada em determinados elementos e em certo condicionalismo, quando os dados se alteraram e o condicionalismo é estruturalmente diferente.

E, para concluir, as minhas homenagens para o nosso ilustre colega Dr. Paulo Cancella de Abreu, que tanto entusiasmo, tanto ardor e carinho pôs neste problema, que com tanta oportunidade levantou e cujo debate tanto me foi grato ouvir, tantas sugestões utilíssimas surgiram, e, também, as minhas desculpas pelas divergências que neste particular nos separam, divergências que, pensando bem. não são tantas como parecem ... questão de medida e ... de conjuntura. E um voto, um voto ardente, tão sereno quanto reflectido, tão enraizado no sentimento do País como conforme com as realidades patentes, o voto de que o Governo atenda mais cuidada, e carinhosamente aos problemas da nossa agricultura - que não é só vinícola -, à situação difícil dos nossos lavradores, à necessidade premente de melhorar o nível de vida do nosso trabalhador rural, que atenda enquanto é tempo de os salvar do desespero do desespero e da ruína.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. António de Almeida: - Sr. Presidente: ao subir a esta tribuna pela primeira vez durante a presente legislatura é-me muito grato dirigir a V. Ex.ª respeitosas saudações da maior admiração e estima, sentimentos que vêm de há dezassete anos, pois tantos são os que tenho a honra de servir a Nação, com V. Ex.ª, nesta Casa.

Vozes: - Muito bem!